domingo, 27 de junho de 2010

O CABO DAS TORMENTAS DE CARLOS QUEIROZ

«Partidos dali, houveram vista daquele grande e notável cabo, ao qual por causa dos perigos e tormentas em o dobrar lhe puseram o nome de Tormentoso, mas el-rei D. João II lhe chamou cabo da Boa Esperança, por aquilo que prometia para o descobrimento da Índia tão desejada» (João de Barros, 1496-1570).

Realiza-se na próxima terça-feira, dia 29 de Junho, o jogo dos oitavos-de-final entre Portugal e Espanha - “essa amiga, que dorme deitada a nosso lado (…), tendo por travesseiro os mesmos montes e por lavatório os mesmos rios”, como escreveu Eça de Queiroz – que mantêm entre si uma rivalidade futebolística de há longos anos.

Mais uma vez isso acontecerá e Carlos Queiroz será posto à prova. No caso da vitória da Espanha poderá vir a ser havido pelos seus detractores, depreciativa e novamente, como um teórico do futebol. Curiosamente, alguns deles consideraram o futebol moderno como uma ciência que muito o afasta do tempo das balizas às costas ou de tácticas “de todos a monte e fé em Deus”, mas, por outro lado, quiseram-no manter aprisionado nas malhas de “um saber de experiência feito”. Este paradoxo, fez com que, vai para cerca de vinte anos, tenha escrito um artigo de opinião com o seguinte título: “Futebol, uma ciência sem cientistas?”, em que defendi:”Em minha opinião, essa prática tem que caminhar a par com a formação de treinadores em licenciaturas em Desporto (na opção de Futebol) pela faculdade de Motricidade Humana e outras licenciaturas congéneres” ("Jornal de Coimbra", 28/08/91).

Já pertence ao passado um futebol que possa desmerecer exames sobre a condição física dos jogadores, exercícios de musculação (de que é exemplo o físico apolíneo e possante de Cristiano Ronaldo que depois dos treinos de conjunto se dirigia sozinho ao ginásio para fazer musculação), filmagens de treinos e jogos para análise dos movimentos dos atletas, uso da informática no armazenamento, consulta e análise das informações, que só um domínio científico da metodologia do treino, de ciências biológicas e biomecânicas, etc., podem dar resposta com todo os seu arsenal laboratorial. É do domínio público que Carlos Queiroz e José Mourinho (seu aluno no ISEF/FMH da Universidade Técnica de Lisboa) não foram jogadores de futebol de nomeada pertencendo a uma nova vaga de treinadores de futebol que entraram na profissão pela porta da teoria como reconheceu Mourinho na cerimónia do seu doutoramento honoris causa pela Universidade Técnica de Lisboa em que obteve o grau académico de licenciado: “Seria sempre treinador de futebol, mas sem faculdade seria assim-assim e nunca muito bom” (Record, 24/03/09). Mas este percurso não foi pacífico sendo obrigados a frequentar cursos de curta duração de treinadores de futebol de que eram eles próprios, muitas vezes, prelectores.

Por esse facto, contra ventos de descrença e marés de desconfiança, saudei a nomeação de Carlos Queiroz para seleccionador nacional de futebol com um post, "O regresso de Carlos Queiroz", aqui publicado, em 19 de Julho de 2008, de que transcrevo partes:

“Os processos da ciência são característicos da acção humana, porque se movem pela indissolúvel união do facto empírico e do pensamento racional” (J. Bronowski). Começo por destacar o papel desempenhado pelo treinador de futebol brasileiro Otto Glória, formado em Educação Física, na estruturação da equipa e conquistas de títulos nacionais do Sport Lisboa e Benfica (1954-59) e na obtenção do 3.º lugar no Campeonato do Mundo de Futebol (1966), que o 2.º lugar conquistado no Campeonato Europeu de Futebol (2004) quase fez cair em injustificado esquecimento.

Na recente nomeação de Carlos Queiroz para seleccionador nacional de futebol, no êxito internacional de José Mourinho e no excelente percurso de Jesualdo Ferreira no Futebol Clube do Porto, encontro motivo para me debruçar sobre o papel de professores de Educação Física no treinamento de equipas de futebol.

Anos atrás, Carlos Miranda, director de A Bola, deixou escrito que Carlos Queiroz era um caso de predestinação comparável ao de Mozart (que aos quatro anos já tocava cravo e aos cinco ensaiava os primeiros passos da composição). Esta era uma acha mais na fogueira de uma controvérsia que está longe de estar extinta.

Quase se pode dizer que se nasce poeta e escritor, mas não se nasce médico, advogado ou professor. Daqui encontro justificação para na proliferação de licenciaturas, a que se tem assistido na Universidade Portuguesa, não haver cursos universitários de Poesia e os melhores escritores não serem licenciados em Letras (v.g., José Saramago e António Lobo Antunes, o primeiro habilitado com o curso das antigas escolas industriais e o segundo médico de formação). Idêntico princípio pode ser aplicado no domínio do futebol: “nasce-se” predestinado para a prática de um futebol de eleição (Carlos Queiroz, José Mourinho e Jesualdo Ferreira não passaram da mediania como praticantes), mas não se nasce treinador de futebol; e é esta confusão que tem e continua a alimentar os “mentideros” do futebol nacional. Mas esta discussão tem raízes profundas.

No mundo das actividades corporais da Grécia Antiga chega-nos a polémica entre práticos e teóricos. Segundo Galeno (célebre médico grego, tido como pai da medicina desportiva moderna), os treinadores troçavam das teorias dos professores de ginástica e dos médicos sob o pretexto de não se ter o direito de discutir sobre coisas desconhecidas quando se não tem a prática do ofício (…).

Ao ler um dia nos jornais que numa reunião do Sindicato Nacional de Treinadores de Futebol fora levantada a questão da legitimidade dos professores de Educação Física orientarem a preparação técnico-táctica das equipas de futebol (a preparação física era já então matéria de consenso), não pude deixar de tomar posição num artigo de opinião (
Jornal Novo, 15. Janeiro.77): “Claro que a partir desta premissa é pertinente a conclusão de considerar exercício ilegal de profissão o facto de um licenciado em Educação Física treinar uma equipa de futebol ” (…).

Se, como escreveu António Gedeão, "o sonho comanda a vida”, que este Cabo das Tormentas se transforme no Cabo da Boa Esperança e a viagem dos “navegadores”, com Carlos Queiroz ao leme, prossiga novas rotas levando a equipa portuguesa à final deste campeonato mundial. Eles já demonstraram valor para tanto! Mas há mais vida para além do futebol – mesmo que no alcance de um título mundial - que não deve servir de ópio para esconder a crise social e económica que assola terras portuguesas.

20 comentários:

Anónimo disse...

Não é quartos é oitavos-de-final!

Rui Baptista disse...

Anónimo (27 de Junho, 13:36): Obrigado pela rectificação: oitavos-de-final.

Anónimo disse...

(cont)A nossa Alma não se extingue na Península, ao contrário da continental Espanha com sua admirável mas magnética Meseta. Navegamos todos os dias pelo mundo, pelo nosso mundo. O fado canta-se, é verdade, mas só pelos que ficam…a olhar para trás. Os povos a quem ensinamos a nossa língua, a nossa cultura, mantém-se-nos profundamente ligados (também) através do futebol e nós a eles. Por vezes é difícil dizer onde começa o lusófono africano e acaba o europeu ou o americano ou até da Oceânia. Queirós, Coluna, Eusébio e até Ronaldo e Nani são um pouco assim. Quem somos nós? Somos um pouco de tudo isso. É impossível não sentir comoção ao ver a alegria dos Timorenses ou dos Moçambicanos com a vitória da Selecção Portuguesa. É (ainda) por isso que é importante a formação superior de Mourinho, Rodrigues Dias, Otto Glória, Queirós, Jesualdo, Vingada, não só pelo superior conhecimento da Arte, mas também porque são embaixadores da nossa língua dado a importância que o futebol adquiriu.

Acredite-se ou não os espanhóis estão receosos. Possuem uma equipa tacticamente muito certinha, que gosta de tratar bem a bola e de a ter na sua posse. O jogador mais importante é Villa sobretudo pelos golos decisivos que marca (devia estar suspenso porque agrediu selvaticamente um adversário hondurenho mas a FIFA, contrariamente ao que fez no Mundial dos EUA quando suspendeu então Tassoti por 7 jogos e amputou a defesa italiana na final com o Brasil, florentinamente “não abriu o caso”).
A equipa possuiu ainda médios importantes (Xavi, Iniesta, Xabi Alonso) que adoram progredir no campo através de trocas curtas de bola, característica que torna o seu jogo muito atractivo para quem gosta de futebol tipo tricôt. Têm ainda um bom ponta-de-lança e um bom guarda-redes, mas ambos estão em crise. Dir-se-ia que a selecção espanhola se tornou num toureiro. Mas o toureiro necessita dum touro para tourear. Aliás, será que o touro pode ser toureiro?
São campeões europeus, mas já perderam neste Mundial e não é comum uma equipa perder um jogo e ser campeã mundial (só me recordo da Alemanha em 1974 que perdeu então “consigo própria”—RDA). Numa equipa cientificamente burilada ao longo de mais de 10 anos estes dados estatísticos não deixarão de afectar os níveis de confiança. Este é o ponto G da partida. Os espanhóis não podem recuperar a confiança e têm de correr muito sem bola.
O responsável pela arbitragem é espanhol, a Espanha ainda não teve cartões amarelos (Portugal teve 7) e os nossos jogos têm sido arbitrados sempre por hispânicos. Se o Mundial fosse uma turma a Espanha seria o aluno cujas qualidades técnicas e dedicação, incansavelmente realçadas pelo professor, seriam apenas susceptíveis de serem levadas a melhor pelas qualidades intrínsecas daquele que as possui por nascimento. Mas numa turma há sempre outros alunos. E estes que nunca esqueçam a sua memória.

Blim

Anónimo disse...

Nietzsche dizia: “Que tenha capacidade para tolerar o que não posso mudar e força para mudar o que posso…mudar. Mas mais importante que o Senhor me dê o discernimento para diferenciar o que não posso mudar daquilo que posso mudar”.

Há menos de 2 anos após aquela derrota com o Brasil ninguém pensaria conseguir estar hoje em vias de disputar o acesso aos quartos de final da mais importante competição de futebol. Bom, talvez Carlos Queirós acreditasse.

Queirós entretanto conseguiu devolver uma equipa a Portugal, dotada de (forte) personalidade e dum tipo de jogo profundamente disciplinador (para o bem e para o mal) da característica desorganização futebolística portuguesa. Por vezes a nossa Selecção lembra-me a ideia histórica que ficou do povo romano e as suas legiões—a sua típica formação de combate com os homens juntos uns dos outros protegidos pelos escudos e segurando com a mão a livre ora o gládio (dai ser uma espada curta porque era necessária a mobilidade fácil no pouco espaço que restava) ora a sua famosa lança de ataque abrindo o caminho.

De facto duma equipa destroçada— desilusão pela derrota na meia-final no Mundial de 2006, abandono de Figo e outros jogadores, a traição de Scolari (anunciada em pleno Euro 2008), a derrota nos quartos de final do Euro 2008, um campeonato nacional incapaz de oferecer oportunidades a jogadores portugueses, Queirós formou um grupo fantástico que nos honra e que de jogo para jogo aparenta ter mais força e mais confiança. Recordam-se dos últimos segundos da partida na Albânia? O Raul Meireles acreditou e cruzou para o grande Bruno Alves atirar para o fundo das redes. Naquele momento passamos a acreditar na equipa. Ali renasceu a equipa Nacional, a nossa Selecção que antes da obrigação de ganhar mostra saber ser una e indivisível e assim nos faz sentir como dela fazendo parte.
(cont)

Rui Baptista disse...

Caro Blim:

Encheu-me a alma a sua análise, quase diria patriótica, num mar proceloso em que se levantaram vagas alterosas contra os nossos "navegadores", principalmente, contra o homem do leme: Carlos Queiroz.

Escrevo estas breves linhas minutos depois da derrota honrosa perante uma Espanha que soube manter a bola na sua posse durante muito tempo com passes certeiros enquanto que a nossa equipa se perdia em passes em que a bola era atraída pelos pés dos espanhóis como o íman relativamente à limalha de ferro.

A minha solidariedade para com Carlos Queiroz numa altura em que as críticas cairão sobre ele como abutres. É assim o futebol, hoje bestial amanhã uma besta. Ou vice-versa.

Rui Baptista disse...

Rectificação: Onde escrevi "como o íman relativamente à limalha de ferro", rectifico, obviamente, "como a limalha de ferro relativamente ao íman".

Rui Baptista disse...

No rescaldo da derrota honrosa de Portugal, uma coisa me mete impressão: o facto de todos os portugueses cantarem o hino nacional e Cristiano Ronaldo nem sequer mexer os lábios. Ignorância da letra???

Por outro lado, as declarações de Cristiano Ronaldo relativamente a Carlos Queiroz pouco abonam relativamente à sua braçadeira de capitão de uma equipa nacional de que desconhece o hino!

Julgo que muita água vai correr ainda sobre o assunto que até será salutar para exorcizar fantasmas de "meninos" que nada se esforçam quando jogam em defesa das cores nacionais.

Na RTPN, às 22 horas, o cronistadesportivo do Público e João Pinto fizeram uma análise muito equilibrada sobre o papel de Carlos Queiroz como seleccionador nacional dizendo (cito de memória) que a tacanhez do país não o merece.

Anónimo disse...

Tem razão, meu caro Dr. Rui Baptista: o facto de o Cristiano Ronaldo se ter escusado ostensivamente a cantar o hino nacional não passou de uma garotice. Ficará impune? JCN

Anónimo disse...

Recomeçar de Novo:

Nada tem de dramático a nossa derrota. Confesso que senti muito mais profundamente a derrota de há 4 anos na meia-final contra a França. Hoje poderíamos invocar a arbitragem claramente tendenciosa (como há 4 anos) exemplificada pelo teatro do pequenito espanhol que provocou a expulsão do nosso defesa direito, mas a beleza do futebol também é isso: como a vida, ele não é justo e é por isso que quando se ganha na adversidade a beleza é suprema. Mas perdemos, e nunca é belo perder.

Conforme tinha transmitido seria essencial manter a nossa disciplina táctica até ao fim e evitar que os espanhóis tivessem a bola na sua posse. Este é o nosso tipo de jogo, não há nada a fazer, pois foi assim que refizemos uma equipa destroçada e assim chegamos aos oitavos de final do Mundial. Aliás, os nossos melhores no Mundial foram Bruno Alves, Ricardo Carvalho, Fábio Coentrão e claro, o Grande Eduardo, todos curiosamente Homens do Norte e todos do sector defensivo. Como é óbvio a braçadeira de capitão da Selecção deveria estar num deles e nunca no homem em quem estava. Dentro dos 23 seleccionados, qual dos jogadores gostaria de ter a seu lado no meio dum combate vital? Parece-me que aquele que escolhesse seria para si o capitão da Selecção.

Para mim esta foi uma grande pecha da equipa durante todo o Mundial: a ausência dum capitão à altura. Não há grandes Selecções sem um grande capitão e sem um fora-de-série: Portugal de 66 de Coluna e Eusébio, Portugal do Euro 1984 de Chalana e Bento, Portugal do Euro 2000 de Baía e da bicefalia Figo-Rui Costa, o Portugal do Euro 2004 e de Figo e do meio campo Maniche-Costinha. Argentina era Maradona, Itália foi Baggio, Alemanha foi Rummenigge, a França Zidane e Vieira. O fora-de-série em forma e com “vontade de dar tudo” é tanto mais necessário quanto operária é a equipa, como é o caso de Portugal e como foi no passado a Argentina (que hoje é uma equipa diferente) ou a Itália. Para lá desta estrela que o é “não por luzir mas porque ilumina” é ainda preciso a massa, o capitão que une e arrasta os outros. Zanneti e Snjeder no Internazionalle de Milan são mais um exemplo disso. Por vezes a estrela e o capitão são um só como o foram Figo no Mundial de 2006 (embora aqui Scolari era “muito líder”) ou Maradona no Mundial de Itália 1990.

Num país “Bonapartista” e paradoxalmente ciclotímico como o nosso, a ausência do “líder em campo e no campo” é fatal.

Ouvindo as declarações de Eduardo no final e o silêncio da suposta “estrela” da equipa que nada disse que o seu egocentrismo, ofendendo o treinador (que ingenuamente confiou nele a braçadeira pela “luz que luze”) compreendemos a fatalidade da nossa equipa e o cruel e injusto destino que estava reservado a Queirós. Portugal por vezes parece que joga melhor sem a sua “estrela”, pelo que sem surpresa foi sem ela que vencemos os jogos decisivos do apuramento. “Um chefe não é o melhor mas sim aquele que faz os outros tornarem-se melhores”. Não são portanto os”outros” que têm de ajudar o chefe, mas sim este que tem de os ajudar.
(cont)

Anónimo disse...

Onde é que vossemecê, sr. Blim, foi buscar essa... de o gládio romano ser uma espada curta motivada pelo tamanho e forma dos escudos, atrás dos quais se protegiam e formavam "juntos uns dos outros"?... Olhe que, antes de tais escudos estarem em voga, já o gládio era a arma peculiar do legionário romano. Reveja as fontes, meu caro, reveja as fontes! JCN

Anónimo disse...

(cont)

Para lá deste determinante facto—a errada escolha do capitão de equipa (os “resultadistas” da nossa praça insistirão na desculpabilização infantil do capitão, espelhando a corrente que mina a nossa educação que insiste na infantilização e desresponsabilização de adultos jovens e até adultos), parece-me que nos faltou a coragem de querer ganhar. Tal como a formação de combate romana que falava antes, um método de jogo defensivo existe não somente para resistir mas sim e sobretudo para vencer. Ou seja, a Resistência não se ergue para não perder (o combate, a batalha, a própria guerra), mas para desgastar a confiança e a força do inimigo (na circunstância do adversário) e então dar o golpe de misericórdia para vencer. Infelizmente a nossa formação abriu sucessivas brechas no lado direito (aliás incansavelmente exploradas pela selecção espanhola) e abdicou daquele que moralizava os companheiros pela luta que sozinho desenvolvia: Hugo Almeida que representava então a vertente “vencer” da nossa equipa (no fundo foi a nossa lança durante todo o jogo). “O homem antes da razão é emoção e esvaziando esta de nada resta possuir a razão”. É por isso que a partir dos 60 minutos de jogo, Portugal pareceu estar reduzido àquele que representava a vertente “resistir”: Eduardo.

Foi aqui que falhou Queirós: na táctica, embora a estratégia estivesse correcta pois, só conforme Portugal jogou na primeira parte, é que seria possível vencer o nosso “outro eu”. Devemos no entanto reconhecer que esta Espanha, em termos de troca de bola é uma selecção superior à nossa, o que não quer dizer o mesmo que fosse imbatível. Bom, mas eles então acreditaram que podiam vencer (sempre o eterno Villa e nosso flanco direito) e parece-me que entenderam que a saída de Hugo almeida era sinal que tínhamos medo…de acreditar que podíamos ganhar. Como na Vida, normalmente os melhores Generais do Estado-Maior não são os melhores Generais de Campo.

Mas as má-linguas hoje vão esquecer que estes sem os primeiros não chegam sequer ao local da batalha. Portugal tem agora dois caminhos possíveis: ou insiste no planeamento, sabendo que se poderá fazer desta, uma equipa mais forte uma vez que metade já está preparada, ou então opta por um tacticista. Seria avisado reflectir antes de tomar decisões. Não obstante, parece-me infinitamente mais forte esta equipa (apesar de desprovida do seu melhor jogador: Nani) do que aquela que ingloriamente caiu no Euro 2008.

No fundo Portugal foi como aquele que amou uma vez e que, por profundo desgosto de amor que então sofreu, tornou-se incapaz de amar de novo ficando assim eternamente preso ao amor não correspondido. Quase como as estátuas de sal de Gomorra, assim tornadas dos homens que olharam para trás. Talvez estejamos assim desde a final perdida do Euro 2004, mas ainda não aceitámos esse desgosto.

Perdemos e estou triste, porque estes Homens mereciam ter tido melhor Sorte, mais não fosse por aquele fantástico golo do Bruno Alves na longínqua Albânia quando só eles ainda acreditavam ser possível chegar ao Mundial. Provaram-nos que conseguiam. Tombaram no final, é certo, mas fizeram-no com dignidade.

Obrigado Selecção Nacional.

Blim

Rui Baptista disse...

No meu comentário (29 de Junho; 23:31), ainda mal refeito da derrota da equipa portuguesa, referi um cronista desportivo do jornal Público por na altura não me recordar do seu nome.

Trata-se do muito apreciado cronista Luís Freitas Lobo que, erro de que me penitencio, escreve no semanário Expresso e não no Público.

Ao cronista Luís Freitas Lobo as minha desculpas, tanto mais justificadas porquanto sou seu leitor assíduo.

Anónimo disse...

Estimado JCN:


Em relação à questão do Gládio o seu comentário revela duas coisas:~
1. Não entendeu o sentido do que foi escrito.
2. Uma preocupação com a lateralidade e o esquecimento do essencial.

Agora a expressão que utilizou: "Vocemecê" parece-me desnivelada. Bastante até.

Anónimo disse...

Meu caro sr. Blim:

Como gosto de jogar ao centro e não pelas alas, lateralmente, de idêntica maneira me permito dizer-lhe "duas coisas", a saber:
1. Não me pareceu nada pertinente a confrontação da turma desportiva com a formação legionária da civilização romana, o que levo à conta de puro e escusado exibicionismo.
2. A distinção entre "lateralidade" e "o essencail" depende meramente do critério de cada um e do seu grau de exigência ou sentido de oportunidade (acaso fui eu que trouxe à colação a problemática da forma e funcionalidade do gládio?).

"Agora", quanto ao "vossemecê" (não "vocemecê"), fique sossegado que futuramente (se futuro houver) passarei a tratá-lo, mas niveladamente, por "vosselência". Certo? JCN

Rui Baptista disse...

Meu Caro Professor JCN:

A minha resposta a um vosso comentário publicado neste post (30 Junho; 01:19), por engano meu, foi inserido num outro post:"As Novas Tecnologias no Desporto de Alta Competição"(29.Junho.2010).

Para evitar estar aqui a repeti-lo, e no caso de estar interessado na sua leitura, poderá consultá-lo no post atrás mencionado.

Com os devidos pedidos de desculpa, cordialmente. Rui Baptista

Anónimo disse...

MárciaIsabelHenriques

Lamento muito a nossa selecçao nao ter chegado mais longe, mais uma vez sofremos os erros de um selecionador que ja anteriormente cometeu erros e foi precionado para sair e deixam voltar a fazer o mesmo. A equipa portuguesa nao é so Cristiano Ronaldo, existem 10 jogadores mais para alem dele, onde num jogo desta importancia nao foram todos devidamente utilizados nem colocados...

Temos jogadores que ainda estao no activo e que fizeram muito pela selecçao e ficaram de fora por pura birra do mesmo seleccionador que nao soube utilizar as opçoes correctas para que chegassemos mais longe...

A maior culpa tem o selecionador errado que voltamos a ter na selecçao, onde o jogo que formou foi de jogarmos ha defesa para chegarmos ao empate e tentar fazer algo atraves de penaltis, mas o que se passou, foi que recebeu o tiro pela culatra...

É de lamentar mas ja nao estamos no MUNDIAL 2010...

Anónimo disse...

Pois é, andamos todos "precionados" e de cabeça perdida pela má figura do Ronaldo escusando-se a cantar o hino nacional. Um safado! JCN

Rui Baptista disse...

Prezada Márcia Isabel:

Saúdo o seu comentário, essencialmente, por provar que o futebol deixou de ser um jogo que interessava apenas a "machos latinos" que se dirigiam aos estádios deixando as mulheres em casa com o credo na boca receosas que o clube dos maridos perdesse recaindo sobre elas e os filhos uma fúria de que lhes não cabia culpa alguma.

De resto, quanto ao seu comentário sofre da pecha, julgo eu, e perdoar-me-á se estiver enganado, de ter sido redigido no rescaldo do jogo com a Espanha que nos afastou do Mundial 2010.

Se reparar, a equipa de Espanha tinha seis jogadores do Barcelona (havido como um dos melhores clubes do mundo), habituados a jogadas devidamente ensaiadas e conhecendo-se uns aos outros como os dedos de uma mesma mão. Portugal, nesse aspecto era uma espécie de mantas de retalho. Lembremo-nos também que a actual selecção nacional ficou privada de Nani (em excelente forma e com uma garra de antes quebrar que torcer) tendo no seu plantel um Deco, actualmente, em declínio de forma e um Pepe regressado de uma lesão que chegou a pôr em dúvida a sua efectiva e completa recuperação para uma marcha do dia-a-dia sem claudicar, etc-

Sempre que se fala de Carlos Queiroz, para dizer bem ou mal, muito mal até, ocorre-me à memória um livro de Fernando Namora intitulado “Deuses e Demónios da Medicina”. Tanto ou mais que na Medicina esta imagem encaixa como peça de um mesmo puzzle na vida do treinador de futebol, vítima à mão de semear de uma idiossincrasia bem portuguesa: passar do bailinho da Madeira à voz plangente do fado do desgraçadinho.

Com fiz no início deste meu comentário, para além de saudar o seu comentário, respeito-o com manifestação de uma opinião feita no rescaldo de uma derrota da equipa nacional pela qual se torceu com a paixão de um sonho que se acalenta e o ódio de uma traição não merecida.

Mas o caso muda de figura quando essa opinião é expressa no “Diário de Notícias”,num suelto com o título “Olegário em alta e Queiroz nos recados” (30/06/10), assinado por Carlos Ferro e em que ele escreveu:

“Positivo: Olegário Benquerença é um dos quatro portugueses com boas recordações do Mundial. Além de Eduardo, Coentrão e Meireles, o árbitro de Leiria também está em alta. Vai dirigir o Uruguai-Gana, dos quartos-de-final e até pode sonhar com outros voos na competição. Assim, há pelo menos um português para acompanhar na África do Sul.

Negativo: Na despedida de África, Queiroz liderou um monólogo. Do estilo ?já sei quem não vai para a selva comigo?. Agora em versão renovada: ?Se o tamanho da camisola for pequeno demais para algum corpo não precisa de estar aqui?. Perceberam? Sobre responsabilidades é que nada.”

Nem oito nem oitenta: a culpa por esta derrota deve ser assacada unicamente a Carlos Queiroz e, no caso das vitórias das cores nacionais, os louros distribuídos, apenas, pelos jogadores?

Nesta última hipótese, quanto mais não seja, em solidariedade de xarás, arrisco-me a pensar que Carlos Ferro, seria o primeiro a fazer parte da comitiva de Carlos Queiroz rumo à selva. Admito estar enganado, penitenciando-me se o estiver, não descurando, todavia, a pergunta: a que selva se referia Carlos Ferro?

Anónimo disse...

Eduardo Sousa

è só para recordar que o Sr. Carlos Queiroz "conseguiu", com uma equipa do Real Madrid recheada de desconhecidos como Raúl, Roberto Carlos, Zidane, Ronaldo (o Brasileiro), Beckham, Figo, Casillas e outros a proeza de ficar em 4º lugar na Liga Espanhola de 2003-2004, com o brilharete de ir disputar a pré-eliminatória da Champions do ano seguinte. "Conseguiu" também, no mesmo ano e com a mesma equipa de jogadores "razoáveis", ser eliminado na Champions dessa época pelo Mónaco depois de estar em vantagem por 5-2...
Claro que isto não tem nada a ver com os resultados da nossa selecção, a única coisa em comum é só o treinador...

Rui Baptista disse...

Caro anónimo (2 de Julho, 00:38):

Obrigado pelo seu comentário.

Apenas um reparo. De uma forma geral, os fracassos do Manchester são atribuídos ao licenciado Carlos Queiroz; os seus êxitos a Sir Alex Fergsun. É difícil a Carlos Queiroz subtrair-se a esse mau fado.

Por outro lado, por vezes, por esquecimento, é esquecida a sua acção na formação de alguns dos melhores jogadores mundiais, Figo, João Pinto, Pauleta, etc., facto que levou o presidente da FIFA, Joseph Blatter, a dizer, na altura, que eles seriam "os jogadores do futebol do futuro".

Um futuro de que ele não colheu os louros pelo fim das respectivas carreiras antes deste campeonato mundial aproveitados por Scollari, sem discutir o seu méritos nos resultados da Selecção Nacional.

Deixemos, portanto, assentar a poeira de um período agitado do futebol português a nível internacional para que ambos possamos dialogar mais calmamente sem ter Carlos Queiroz como um deus ou um demónio. Valeu?

Cordialmente

NOVA ATLÂNTIDA

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