quinta-feira, 27 de maio de 2010

DOZE ANOS A PROMOVER O TEATRO DE TEMA CLÁSSICO


Artigo de Delfim Leão que saiu na Newsletter da Universidade de Coimbra:

A FESTEA – associação promotora deste festivais, únicos no seu género em Portugal – celebra em 2010 a XII edição do Festival Internacional de Teatro de Tema Clássico. Entre os meses de Abril e de Julho, o público terá à sua disposição cerca de duas dezenas e meia de espectáculos. As performances serão essencialmente de teatro, mas o Festival comporta igualmente, e desde o início, uma presença musical, assegurada pela classe Canto e Drama do Conservatório de Música de Coimbra, que propõe este ano duas apresentações de As bodas de Fígaro. Além do Thíasos do Instituto de Estudos Clássicos – grupo residente e um dos promotores do Festival –, participam ainda na programação duas companhias estrangeiras (El Aedo Teatro de Cádis e Calatalifa de Villaviciosa de Odón) e um agrupamento de teatro escolar (NET das Caldas da Rainha). Em conjunto, são propostas nove produções distintas, de autores como Ésquilo, Sófocles e Eurípides – os três grandes trágicos gregos – e ainda de Plauto e Terêncio, os maiores comediógrafos latinos.

Entre as marcas distintivas do Festival encontra-se a sua forte propensão formativa, que leva a que os espectáculos de Abril e Maio sejam dirigidos, em particular, ao público escolar, enquanto que as performances de Verão se destinam a um público mais geral. A FESTEA procura, igualmente, contribuir para que cada espectador se torne também num leitor de teatro e, por essa razão, o texto dramático, que ainda não é teatro, mas onde está latente a experiência performativa, é vertido para português a partir do original grego ou latino e publicado em livro de bolso, cumprindo assim a função de bilhete em todas as representações. Para esta concepção articulada das artes performativas contribui também o Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, através da linha de investigação em Pragmática Teatral, reforçando a dinâmica de transferência de saberes entre unidades de investigação, docência universitária e sociedade civil.

Além da sensibilização para as artes performativas e para a leitura, a organização dos Festivais procura também que os espectadores se sintam motivados a visitar locais com interesse arqueológico. Para isso, em vez da tradicional representação em espaço fechado, é privilegiado o enquadramento cénico ao ar livre, num esforço deliberado de valorização do património arquitectónico nacional, opção que acaba por sublinhar não só o carácter único de cada performance, como também a própria natureza itinerante e descentralizada desta iniciativa cultural, que comporta ramificações desde Braga, Porto, Viseu, Fundão, Santiago da Guarda e Coimbra, até Sintra e Lisboa.

É devido a este conjunto de valências, cujo desenvolvimento congrega elementos de toda a comunidade universitária (docentes, estudantes e funcionários), que as actividades da FESTEA se traduziram, ao longo destes anos, num poderoso meio de divulgação da antiguidade greco-latina e sua perenidade, bem como numa expressão particularmente elucidativa da articulação entre investigação avançada, inovação pedagógica e difusão da cultura científica. E uma das provas mais evidentes da eficácia do modelo desenvolvido encontra-se no facto de que, ao longo destas doze edições, o Festival terá promovido quase trezentas performances distintas, acompanhadas por cerca de sessenta mil espectadores de todas as idades e formações. Não se trata, portanto, de uma actividade elitista, mas antes de um poderoso meio de valorização cultural, que desde logo se expandiu para fora dos limites da Universidade e da região. Desta experiência não será aliás abusivo deduzir que as pessoas estão disponíveis para ir ao teatro, se o teatro estiver também disponível para ir ter com as pessoas.

Delfim Leão

1 comentário:

Anónimo disse...

Icnofósseis... teatrais! JCN

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