sexta-feira, 5 de março de 2010

O TEMOR DA TERRA


Minha crónica na rev ista "Tabu" do semanário "Sol":


No Chile a terra costuma, de vez em quando, tremer. E, quando treme, é de temer! Na lista dos dezoito tremores de terra mais violentos de todos os tempos que a Wikipedia elenca, seis tiveram epicentros no território chileno. O mais recente, ocorrido na região de Maule, no Norte do Chile, no dia 27 de Fevereiro último, alcançou a magnitude 8,8 na escala de Richter, causando 730 óbitos até à data. O mais violento terramoto de todos os tempos ocorreu também no Chile, a 22 de Maio de 1960: localizado na cidade de Valdivia, no Sul, teve a magnitude de 9,5 na mesma escala e originou cerca de 1700 mortos. Para termo de comparação, acrescente-se que o terramoto do Haiti de 12 de Janeiro passado teve a magnitude 7,0 e fez mais de 220 000 mortos. Ainda para comparação: ao grande terramoto de Lisboa de 1 de Novembro de 1755 é atribuída a magnitude de 8,7 (um cálculo, pois na época não havia os sismógrafos que há hoje) e cerca de 60 000 mortos (um número muito incerto). Viu-se agora relegado do 10.º para o 11.º lugar na referida lista dos terramotos.


O que significa o valor de 8,8 na escala de Richer, que acaba de ser registado no Chile? Essa escala mede a energia libertada no sismo, o que se traduz no seu potencial poder de destruição. Claro que se o sismo destrói muito (como aconteceu no Haiti ou em Lisboa) ou pouco, causando mais ou menos vítimas mortais, depende de outros factores como a densidade e a qualidade da construção. A energia libertada no Norte do Chile foi o equivalente a 16 mil milhões de toneladas de TNT, o que contrasta brutalmente com a energia, correspondente a 15 mil toneladas, da bomba atómica que explodiu sobre Hiroxima no final da Segunda Guerra Mundial. Impressiona a energia do último abalo de terra chileno, e mais ainda a do abalo de terra extremo de 1960, quando cotejada com a das armas de destruição massiça que o homem inventou.


Num dos versos de “A Fala do Homem Nascido”, escreveu o poeta António Gedeão: “as forças da Natureza nunca ninguém as venceu”. De facto, o homem tem de se sentir pequeno perante as fúrias do seu planeta. No Chile, agora como de outras vezes, deu-se um embate frontal da placa Nazca, no Pacífico, e da placa da América do Sul, mergulhando a primeira por baixo da segunda. A tendência, que se manifesta de forma muito lenta, consiste no alargamento do Atlântico e na diminuição do Pacífico. Mas o homem quer ser grande: “Quero eu e a Natureza que a Natureza sou eu”. Por enquanto, não é capaz de prever quando se libertará a gigantesca energia acumulada na zona de contacto entre placas tectónicas. Mas persegue essa possibilidade. Pode bem ser que, com o progresso da sismologia, consiga um dia antecipar catástrofes iminentes. Nessa altura diminuirá o temor da Terra...

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