sábado, 6 de fevereiro de 2010

CIÊNCIA E RELIGIÃO


A propósito do texto aqui publicado de Neil de Grasse Tyson, deixo aqui o texto da minha intervenção no ano passado na Reitoria da Universidade do Porto num debate sobre "Ciência e Religião" com D. Manuel Clemente, bispo do Porto. Neste texto, mais longo que o habitual, recupero algumas posições que já expus antes neste blogue, acrescentando naturalmente outras:

A ciência e a religião partem de necessidades diferentes do homem. A primeira trata do conhecimento do mundo natural (incluindo o próprio homem, pois o homem faz evidentemente parte do mundo), ao passo que a segunda trata da relação do homem com algo difícil de definir, com o chamado “transcendente”, do qual tomamos conhecimento através da “revelação” ou “graça”. Deus é um nome breve para o transcendente, que tem tido várias faces conforme as culturas. Aqui para nós, na minha, na nossa cultura, é o Deus da Igreja Católica.

Tanto ciência como religião são actividades humanas, pelo que têm obviamente o homem como denominador comum. A actividade científica é apenas uma de entre as várias actividades humanas. A actividade religiosa é uma outra. A arte é ainda outra. E há mais. Não se pode dizer que uma seja superior ou inferior às outras: são simplesmente diferentes, porque usam metodologias próprias e prosseguem objectivos distintos. Na minha opinião, podem e devem coexistir pacificamente, sendo até possível que ambas ganhem com a respectiva interacção. Cada uma não tem que ignorar ou excluir a outra, mas antes respeitar as suas especificidades e procurar enriquecer-se através do intercâmbio possível. Só se poderá compreender o homem se se olhar para tudo aquilo que ele faz.

A ciência é a descoberta do mundo, recorrendo à razão e à experimentação. Como uma das suas marcas profundas tem de estar pronta a corrigir os erros se houver evidência para eles, o que lhe assegura a capacidade de progressão ao longo dos tempos. A religião é um outro tipo de visão do mundo que não assenta na racionalidade – pelo menos uma racionalidade do mesmo tipo - e na experimentação, mas sim na fé, a fé que exige sempre uma descontinuidade, um “salto”... Baseia-se, em geral, em dogmas que têm uma tradição histórica profunda e que não podem ou que muito dificilmente podem ser revistos e muito menos descartados. Quando um cientista é dogmático não está decerto a ser científico. E quando um religioso está disposto a rever continuamente as verdades da sua religião, não está decerto a ser religioso.

Já se poderá ter depreendido que simpatizo com a tese do paleontólogo norte-americano Stephen Jay Gould que falou dos “dois magistérios que não se sobrepõem” no seu livro “Rocks of age. Science and Religion in the Fullness of Life.”

Contudo, quando se fala em ciência e e religião pensa-se normalmente em antagonismo. É bem conhecido o historial de conflito entre ciência e religião, nomeadamente quando se começou a compreender melhor a posição que o homem ocupa no mundo, quer o posicionamento espacial no vasto Universo do pequeno planeta que ele habita, quer o posicionamento temporal da vida humana no longo curso da história da vida. A tensão entre ciência e religião começou com o próprio início da ciência moderna quando o nascimento da astronomia, fundada na observação com o telescópio, pôs em causa cosmogonias antigas, nomeadamente o modelo cosmológico de Aristóteles e Ptolomeu, que a Igreja Católica sabiamente tinha conseguido conciliar com o texto bíblico ao longo da Idade Média. O episódio de Galileu Galilei (um homem profundamente crente e até bem relacionado com a hierarquia da Igreja Católica, que está sepultado na igreja de Santa Maria de la Fiore, em Florença) em 1633, quando ele se viu obrigado a abjurar das ideias de Copérnico, por elas contrariarem certos passos bíblicos, no Tribunal da Inquisição, é bem conhecido. Menos conhecido é o facto de o Papa João Paulo II ter de certo modo revogado a sentença contra Galileu, ao admitir, embora não de uma forma muito explícita, que se tratou de um erro. Esteve patente há pouco no Vaticano uma grande exposição de astronomia, que nos veio recordar que a criação da ciência moderna foi feita no quadro do pensamento cristão e católico.

Um parêntesis para falar que as observações astronómicas de Galileu foram confirmadas por sábios jesuítas, tendo um dos maiores jesuítas desse tempo Cristóvão Clavius, um admirador do nosso Pedro Nunes, sido muito simpático para com Galileu, embora nunca tivesse ido além do sistema de Aristóteles e Ptolomeu. Nem talvez houvesse na época – diga-se em sua defesa – evidência suficiente para abonar a tese de Copérnico, que a Igreja estava disposta a aceitar como uma mera hipótese.

Galileu, quando fez notar na sua famosa carta à Grande Duquesa Cristina que "a intenção do Espírito Santo é ensinar-nos como ir para o céu e não como o céu se move", estava a citar um alto dignitário da Igreja, o cardeal Baronius, bibliotecário do Vaticano e grande historiador da Igreja. As contradições entre a Bíblia e o conhecimento científico ocorreram várias vezes ao longo da história e foram, em geral, acomodadas pelos religiosos mais esclarecidos das várias épocas. Por exemplo, há passos no Antigo e no Novo Testamento que dizem ou parecem dizer que a Terra é plana, que levaram alguns antigos padres da Igreja a rejeitar o conhecimento grego de que a Terra era uma esfera. No entanto, cristãos cultos aceitaram a forma esférica da Terra muito antes das viagens de circumnavegação. Conforme comentou o Prémio Nobel da Física norte-americano Steven Weinberg: “Dante achou até que o interior da Terra esférica era um bom lugar para colocar os pecadores.”

Depois de Galileu veio Newton, que era também profundamente religioso, cristão mas não católico. Para ele não havia dúvidas que o Universo era obra divina e repetiu várias vezes, na sua obra, o nome de Deus. Ficou famosa a posterior frase do matemático Pierre Laplace a Napoleão em resposta à pergunta do imperador sobre a posição de Deus no seu sistema do mundo? ”Sir, não tive necessidade dessa hipótese”. É, porém, errado pensar que a concepção mecanicista de Newton dispensasse Deus, pois o próprio Newton pensava que seria necessária a intervenção localizada de Deus – o que podemos chamar milagres – para conservar a ordem do mundo, no que foi contraditado pelo matemático e filósofo alemão Gottfried Leibniz que defendia um Deus "preguiçoso", um Deus que estava a descansar depois dos dias da criação. Nesse tempo, como se vê, as discussões eram simultâneamente científicas e teológicas.

Mas o ponto mais alto da tensão entre ciência e religião, levantou-se no século XIX: foi a questão da evolução das espécies, incluindo a evolução da espécie humana, que foi compreendida pelo biólogo inglês Charles Darwin a meio do século XIX. Ao contrário do caso Galileu, o caso Darwin ainda de certo modo perdura... Darwin, que estudou Teologia em Cambridge, passou numa fase tardia da vida de anglicano a agnóstico (uma palavra que surgiu na época) e está sepultado na Abadia de Westminster em Londres. Na Origem das Espécies e nos seus livros seguintes, o sábio inglês fez duas coisas:

- Dispensou a criação especial de cada espécie, uma vez que elas são mutáveis, e evoluem umas das outras.

- Disse que o homem não tem um lugar especial fora da grande árvore da vida. É o resultado de milhões de anos de anos de evolução.

Actualmente não persistem dúvidas no seio da comunidade científica sobre a validade, no essencial, da teoria da evolução de Darwin. Não se trata de afirmações poéticas, mas sim da súmula dos resultados de numerosas observações e experiências e que a ciência estará disposta a rever mas apenas na hipótese de haver novas observações e experiências que digam o contrário. Hoje em dia não faz muito sentido falar de biólogos evolucionistas pois todos os biólogos são evolucionistas, tal como todos os astrónomos são galilaicos. Conforme disse um biólogo moderno: “Em biologia nada faz sentido a não ser à luz da evolução”. A teoria da evolução é um facto mais do que uma mera teoria, tal como a translação da Terra em volta do Sol é um facto e não uma teoria. Não se devia, por isso, sequer dizer “teoria”.

É curioso que um dos responsáveis pela comprovação da teoria da evolução foi, no século XIX, um monge agostiniano, o austríaco George Mendel, que, ao cultivar ervilhas no seu mosteiro, originou de uma forma quase-anónima a genética. E foi a genética que, ao longo do século XX, veio fornecer inúmeras provas à teoria da evolução.

Acontece que, em certos sítios da chamado Ocidente, nomeadamente nalguns estados dos Estados Unidos da América, a visão científica da vida em geral e do homem em particular, que vê todos os seres vivos como resultado de um conjunto de transformações lentas ocorridas ao longo de milhões e milhões de anos, é repudiada por contrariar o conteúdo do Génesis, segundo o qual Deus criou o mundo em apenas seis dias e, no final, fez o homem a partir do “pó da Terra”. Algumas pessoas pretendem que essa teoria criacionista seja ensinada nas aulas de ciências excluindo a teoria da evolução ou, quando muito, em pé de paridade com ela. Para essas pessoas existe um sério dilema entre ciência e religião que querem resolver em prejuízo da ciência. Têm dificuldades em conciliar o que se aprende nas aulas de ciências, resultado da observação e da experiência, com o que se aprende na catequese, assente na transmissão da palavra da Bíblia. A Igreja Católica – verdade seja dita – tem-se distinguido de algumas igrejas evangélicas que têm alimentado ideias baseadas literalmente na Bíblia, mostrando uma atitude mais aberta e receptiva à teoria da evolução.

Terá de haver oposição entre ciência e religião? Penso que não. Julgo – como já atrás disse - que não há uma incompatibilidade – nem de fundo nem de superfície - entre ciência e religião. Mas, para isso, como mostram os exemplos de Galileu e de Darwin, tem de se abandonar a ideia de que a Bíblia é ou possa ser um livro de ciência. O seu conteúdo não foi fornecido pelo método científico, tendo antes a ver com a crença na divindade alicerçada na tradição. O Génesis é um livro poético, escrito e reescrito por vários autores, que deve ser lido no respectivo contexto e não levado à letra. O criacionismo como disciplina científica não faz, por isso, o mínimo sentido.

Pode-se ser crente e ser cientista? Sim, pode. Muitos exemplos da história da ciência e da actualidade mostram que é pacífica a coexistência de ciência e religião. De uma forma apenas metafórica (não é uma afirmação científica!), direi que ocupam partes do cérebro diferentes. Não penso, por isso, que a crença religiosa de um cientista o limite, que lhe retire objectividade na ciência que faz. Um cientista sabe que, quando está num laboratório, não está numa igreja e que, quando está numa igreja, não está num laboratório. Claro que haverá sempre excepções que confirmarão esta regra...

Em abono dessa posição, refiro os casos de sacerdotes que são também cientistas. A Igreja Católica possui um Observatório Astronómico, que é dirigido por um padre jesuíta, e no qual se faz trabalho científico moderno. Por outro lado, o pastor inglês John Polkhingorne é físico de altas energias (e também um conhecido divulgador de ciência). Para dar um exemplo não de um sacerdote, mas de um cristão fervoroso, na área da biologia, refiro o norte-americano Francis Collins, nomeado por Obama Presidente do NIH, a maior agência de investigação médica dos Estados Unidos.

Claro que há também muitos cientistas que não são crentes, como o já referido Weinberg ou o biólogo inglês Richard Dawkins, autor de O Relojoeiro Cego”, um livro notável que realça o papel do acaso no decurso da evolução, e do livro A Desilusão de Deus, um livro quanto a mim menos notável por empreender uma verdadeira “cruzada” contra a religião.

A história da ciência mostra que a fé e a falta dela se encontram distribuídas tanto por cientistas como por não-cientistas. A crença em Deus não pode ser encontrada no fundo de um telescópio ou de um microscópio, mas tem a ver com intrincados factores sociológicos e psicológicos. Encontrei uma estatística na Internet sobre a religião dos 100 cientistas mais influentes: a conclusão é que há 12% de católicos, contra 11% de ateus e 16% de judeus (não sei explicar este último número anormalmente grande...) Sendo os cientistas pessoas comuns antes de serem cientistas, é natural que neles se encontrem os mesmos fenómenos de crença ou de descrença que se encontram na sociedade em geral. Em particular, é natural que se encontrem nos cientistas as mesmas afiliações religiosas que se encontram na sociedade em que vivem (um outro Prémio Nobel da Física, o paquistanês Abdul Salam, era muçulmano).

Este tema dá pano para muitas mangas. Quando se quer enfatizar uma eventual oposição entre ciência e religião, encontramos cientistas a usar argumentos não-científicos e não-cientistas a ensaiarem argumentos científicos. Claro que a autoridade de um cientista na sua ciência não lhe confere particular autoridade num assunto não-científico. E julgo que o mesmo valerá para a teologia (confesso a minha grande ignorância a respeito da teologia). Noto apenas como curiosidade que alguns, poucos, cientistas se tornaram teólogos, mas há muito poucos teólogos que se tenham tornado cientistas.

Nos cientistas o caso do físico suíço e norte-americano de origem alemã Albert Einstein é algo especial pois ele, à maneira do filósofo holandês de origem portuguesa Bento Espinosa, substituía Deus pela “harmonia cósmica”. Em 1929, o rabino norte-americano de Nova Iorque colocou a Einstein por via telegráfica uma pergunta que procurava esclarecer a posição anti-relativista do arcebispo católico de Boston segundo o qual a “relatividade era uma especulação confusa, que produz a dúvida universal sobre Deus e a sua criação”. A resposta em menos de 50 palavras (o rabino tinha pré-pago a resposta com esse limite preciso!) ficou famosa:

”Acredito no Deus de Espinosa, que se revela na ordem harmoniosa daquilo que existe e não num Deus que se interesse pelo destino e pelos actos dos seres humanos”.

Já antes Einstein, que apesar da sua origem judaica nunca acreditou num Deus pessoal como o do Antigo Testamento, tinha respondido assim a alguém que lhe perguntou se era religioso:

“Sim, sou, pode dizer isso. Tente penetrar, com os seus recursos limitados, nos segredos da Natureza, e o senhor descobrirá que, por detrás de todas as concatenações discerníveis, resta algo de subtil, intangível e inexplicável. A veneração dessa força, que está além de tudo o que podemos compreender, é a minha religião. Nessa medida, sou realmente religioso”
.

Einstein colocou-se a si mesmo a questão da história do Universo e é com base na teoria dele que hoje formulamos a teoria do Big Bang, uma teoria de evolução cósmica. Pode-se perguntar: Quando se discutem (ou testam, como hoje acontece no LHC) os primeiros instantes do Universo há espaço para a ideia da intervenção divina na criação? Pode Deus ser encontrado no acelerador?

A ideia de que houve um Big Bang, isto é, o início do espaço-tempo, tem uma base lógico-empírica bastante sólida. Neste momento, não há sequer uma teoria alternativa que se revele consistente. Portanto, não é de modo nenhum uma ideia de base religiosa. O facto de essa ideia moderna coincidir, embora de uma maneira geral e algo vaga, com uma ideia bastante antiga da Igreja Católica, é sem dúvida interessante, mas não mais do que isso... A este respeito lembro que um dos autores da teoria do Big Bang foi o astrofísico belga Georges Lemaître, que era sacerdote católico. E acrescento que alguns altos dirigentes católicos se congratularam com o que chamaram a “base científica” da criação descrita na Bíblia. Mas lembro que, desde o tempo de Galileu, a Bíblia não é um livro de ciência... Os astrofísicos não trabalharam com base na Bíblia para agradar ao Papa ou a qualquer outro líder religioso. Olham com atenção para o céu com poderosos telescópios, instrumentos muito superiores aos que Galileu usou há 400 anos, e são hoje capazes de fazer experiências na Terra que recriam, por pequenos tempos e em pequenos espaços, as condições que terão existido por todo o lado no cosmos primitivo. As suas conclusões, por absoluta falta de informação, nada dizem sobre o que se terá passado antes do Big Bang (a pergunta sobre a causa deste é legítima, mas não pode ser respondida pela ciência!). Os astrofísicos não podem - nem aliás querem - provar a existência ou a inexistência de Deus. O astrofísico inglês Stephen Hawking e outros falam, de facto, de Deus, mas trata-se de uma imagem, uma imagem que eles sabem ter força e impacte. Essas imagens podem ser e são muitas vezes perigosas porque dão a entender que há uma mistura íntima entre ciência e religião quando, de facto, não há. Elas mostram apenas que alguns cientistas são uns bons comunicadores...

Prefiro fazer a ponte entre ciência e religião por outros lados:

1) Embora sem ser de tipo religioso, o cientista também tem crenças no seu trabalho. Um cientista tem de acreditar na sua hipótese. A grande diferença relativamente à fé religiosa é que o cientista tem de estar preparado para deixar de acreditar na sua hipótese se a observação ou a experiência não a confirmar. Há um grande lugar para a inspiração, para a imaginação e para a livre criatividade no trabalho científico. Por exemplo, só certos génios são capazes de certas hipóteses geniais. E nem eles sabem de onde lhe vêm essas intuições. Pode dizer-se até que há algo de irracional na racionalidade científica, embora as modernas neurociências tenham vindo a procurar esclarecer o modo como funciona o cérebro humano. Vai, com certeza, saber-se mais sobre ele e talvez se verifique que a criatividade em ciência não é lá muito diferente da criatividade artística - o cérebro encontra subitamente unidade em algo que parecia desunido. De repente, estabelece um sentido onde não parecia haver sentido nenhum. Faz-se luz onde estava escuro. O cérebro humano parece “feito” para procurar um sentido razoável das coisas. É racional. Mas convém acrescentar que o cérebro humano também parece “feito” para dar sentidos não razoáveis, também é irracional. Alberga tanto a racionalidade como a irracionalidade.

2) E aqui há uma outra ponte a fazer entre ciência e religião. O cérebro científico e religioso é o mesmo. Como funcionam essas capacidades e donde vêm? Na linha de Darwin, embora talvez extrapolando demasiado, há desenvolvimentos científicos recentes que atribuem à evolução humana a origem e desenvolvimento das religiões. Acreditar em Deus terá sido uma vantagem competitiva, tanto para um indivíduo como para o seu grupo. Isto é, a pertença a um grupo religioso terá sido um factor que ajudou à sobrevivência do indivíduo e do grupo. Esta ideia, expressa, por exemplo, pelo biólogo inglês Lewis Wolpert, não é consensual e está a fazer o seu caminho. Não sabemos ainda o suficiente, mas é curioso que o aparecimento e a afirmação do fenómeno religioso sejam hoje objecto de pesquisa científica. Não sei o que a Igreja tem a dizer sobre isso, mas suspeito que as ciências cognitivas sejam hoje o domínio controverso que outrora foi o lugar da astronomia e da biologia.

3) Há uma outra ponte final a fazer. Tem a ver com sobrevivência do planeta e do homem. E ela ficou bem expressa pelo astrofísico norte-americano Carl Sagan, um agnóstico que procurou alianças da ciência com a religião em benefício do homem e da Terra, em prol da sobrevivência de ambos. Ele achou que a paz era um valor que devia ser perseguido tanto pela ciência como pela religião. E que o amor era uma arma essencial para a paz. Disse, em defesa da tolerância: “Se um ser humano não concordar contigo, deixa-o viver em paz. Não vai encontrar outro igual em cem milhões de galáxias”.

Deixo a última palavra a Sagan tirando-a do seu livro As Variedades da Experiência Científica:

“Será que tentar perceber de alguma maneira o universo revela uma certa falta de humildade? Creio que é verdade que a humildade é a única resposta adequada perante o universo, mas não uma humildade que nos impeça de procurar descobrir a natureza do universo que estamos a admirar. Se procurarmos essa natureza, então o amor pode ser inspirado pela verdade, em vez de se basear na ignorância ou na auto-ilusão. Se existe um Deus criador, será que Ele ou Ela ou Isso ou seja qual for o pronome apropriado preferiria uma espécie de cepo embrutecido que o adorasse sem nada compreender? Ou preferiria que os seus devotos admirassem o universo real em toda a sua complexidade? Quanto a mim, parece-me a ciência é, pelo menos parcialmente, adoração informada. A minha crença mais profunda é que, se existe um deus vagamente do género tradicional, então a nossa curiosidade e inteligência provêm desse deus. Não saberíamos apreciar esses dons se reprimíssemos a nossa vontade de nos explorarmos a nós próprios e ao universo”.

5 comentários:

Anónimo disse...

Efectivamente e sumariando, cabe aos investigadores, que o praticam, o magistério da ciência propriamente dita, enquanto o aprofundamento da natureza divina, ou seja, da religião... cabe aos teólogos e ao homem comum perdido no universo. Assim o ouvi, de boca própria, a um Prémio Nobel da Física dos países nórdicos do continente europeu, materialista confesso. Sem mais aquelas! O mesmo que hoje ouvi... por palavras outras e não menos autorizadas. JCN

maria disse...

gostei muito do seu artigp.
mas já reparei que tanto religião como ciência , na mão dos " facturadores" , chegam exactamente à mesma meta através de "métodos" diferentes: lavagem cerebral. o exemplo mais asqueroso é corpo pecado , logo armadilha , da religião , e corpo doença , logo imperfeito , da ciência . uma quer que não liguemos ao corpo , a outra quer que liguemos demais. e sempre em benefício do capital.

Anónimo disse...

Com segundas-intenções ou meras extrapolações não se chega a parte nenhuma, mesmo ironizando. "Não vou por aí" - diria Régio. Prefiro o fio condutordo raciocínio e da sensibilidade de Carlos Fiolhais e seus quejandos pares: a Deus o que lhe pertence e à Ciência o que é da sua alçada. Águas separadas, mas não contrárias. JCN

Carlos Kamenev disse...

"A teoria da evolução é um facto mais do que uma mera teoria, tal como a translação da Terra em volta do Sol é um facto e não uma teoria."

Dr. Fiolhais, sabendo a Física que sei, não consigo compreender esta afirmação.

No âmbito da Física newtoniana e mesmo da relatividade restrita, dizer que a Terra tem um movimento de translação em volta do Sol implica que o próprio Sol tem um movimento de translação em torno da Terra. O movimento e relativo ao referencial utilizado como bem sabe. Assim sendo, não compreendo a ênfase física que se da ao referencial Sol como se este fosse fundamentalmente distinto dos restantes.

A única diferença fundamental que vejo e que o referencial Sol (sem rotação quando em relação as estrelas fixas) e muito mais próximo de ser um referencial inercial do que o da Terra.

Mas mesmo isto não justifica o seu estatuto especial visto em Relatividade Geral todos os referenciais estarem em pé de igualdade, mesmo os não inerciais.

Assim sendo, o tal facto que escreveu não será, digamos assim, desprovido de sentido tal como esta exposto?

Porque e que quando falo no movimento de translação do Sol em volta da Terra me acusam de ou ignorante, ou estúpido ou louco? A existência de um não implica a existência do outro?

Não será muito mais correcto dizer (como em http://2efy.sl.pt ) que nada disto tem sentido "ontológico"?

Fico a aguardar resposta a estas duvidas.

Obrigado pela atenção.

Carlos Kamenev

Anónimo disse...

Olá, saudações.
Conseguimos "espaço" no Portal Luis Nassif
www.luisnassif.com/profile/DecioLuizMendes
Temos algo a transmitir ( Cosmologia, concepção do "logos" - uma ponte entre a Ciência e a Religião -, etc...).
Aguardamos a sua visita.
Faça o seu comentário.
Desde já agradecemos.
A propósito, Ciência, para nós, é tentativa para se dar ao Cosmo uma explicação consistente.

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