quarta-feira, 22 de abril de 2009

Wikiversidade dá que falar

Já tem alguns anos, mas só agora começou a dar que falar, à medida que começou a sua expansão. É a nova Wikiversidade, uma universidade aberta e gratuita fundada no Japão e que abriu recentemente novos pólos na Austrália, Finlândia e Botswana. O seu fundador explica o conceito: “a Wikiversidade é fruto da cooperação voluntária e gratuita das pessoas, tal como a Wikipédia. Se as pessoas podem fazer cursos gratuitamente, por que razão haverão de os pagar?” Tendo começado por oferecer cursos mais tradicionais, como Matemática, Biologia, História e Astronomia, esta nova universidade aventurou-se recentemente em cursos como Harmonia Zen, Flores e Felicidade, e Medicina Incorpórea. Os críticos afirmam que os cursos desta universidade são destituídos de qualidade, mas o seu fundador garante que não: “a ideia de que só os senhores doutores é que dominam os assuntos é antidemocrática. Na nossa universidade, partilha o conhecimento quem quiser partilhá-lo, gratuitamente; e só temos os cursos que os alunos quiserem”.

Sem receber quaisquer subsídios do estado, esta universidade depende inteiramente dos donativos voluntários dos alunos. Isto só é possível porque os seus professores não são pagos, aspecto inovador que o seu fundador considera crucial: “Muitas pessoas estão a descobrir o prazer de trabalhar por gosto, e não por dinheiro”. Um professor de Matemática Escatológica esclarece: “nunca me senti tão bem; libertei-me da necessidade de ganhar dinheiro.” Este popular professor é apoiado directamente por alunos e benfeitores que o deixam dormir nas suas casas, e lhe dão comida e roupas. “A partilha de conhecimento e a cultura é de todos, não deve ser paga”, afirma.

O fundador da Wikiversidade é cândido ao referir as universidades pagas directamente pelos estudantes ou pelos impostos: “São maneiras diferentes de entender a cultura e o conhecimento, nada mais.” Mas os entusiásticos alunos da Wikiversidade são mais contundentes: “As universidades tradicionais roubam dinheiro às pessoas, directamente ou através de impostos, para vender uma coisa que podemos ter gratuitamente.”

A Wikiversidade tornou-se notícia precisamente quando a Universidade de Sagiri, uma das mais antigas do Japão, anunciou o encerramento de alguns dos seus cursos e o despedimento dos respectivos professores. Apesar de o comunicado à imprensa não referir a Wikiversidade, é precisamente na cidade de Sagiri que a Wikiversidade surgiu e onde ainda hoje oferece mais cursos. “Tal como Encarta teve de fechar as portas por causa da Wikipédia, também a Universidade de Sagiri terá de o fazer”, refere um aluno entusiástico. Este optimismo não é partilhado por todos. “A Wikiversidade não pode ainda competir com universidades tradicionais por não oferecer muitos dos seus cursos”, refere um professor reformado que agora dá (literalmente) aulas na Wikiversidade. “Mas à medida que a Wikiversidade se desenvolver, as universidades tradicionais terão de fechar as portas”.

50 comentários:

António Parente disse...

Um post simplesmente brilhante!

Anónimo disse...

Revolta-me isto e as pessoas que amam sem pedir dinheiro! Onde é que mundo vai parar! Eu não sei! Mas sei que há pessoas que vão ficar paradas a vê-lo passar, criticando, criticando...

Desidério Murcho disse...

Que me perdoem os meus amigos religiosos, mas este último comentário confirma o carácter religioso (no mau sentido da palavra) da ideologia. Um mau argumento religioso muito usado quando se discute a racionalidade de crer em Deus sem provas é que ninguém pede provas do amor da sua mulher. Evidentemente, isto é tolo, porque as provas estão dadas no dia-a-dia, e caso não estejam, com certeza vai haver infelicidade e divórcio. O mesmo acontece agora com a analogia do amor com dar aulas numa universidade: se não pedimos dinheiro para amar, porquê pedir dinheiro para dar aulas? Claro que se isto se aplica a dar aulas, deve aplicar-se a dirigir a Wikiversidade ou a Wikipédia: se não pedimos dinheiro para dar aulas ou para escrever artigos, porquê pedir dinheiro para ser dirigente dessas coisas, para programar ou para ser advogado dessas companhias? A razão é sempre a mesma: a mentalidade aristocrática que faz as pessoas considerar que o trabalho intelectual não deve ser pago, porque é coisa para ser feita por quem tem dinheiro suficiente para dispensar várias horas por semana para trabalhar de borla. Os pobres não têm direito a estas nobres actividades, que até são mais nobres precisamente por serem feitas pro bono.

Anónimo disse...

Matemática Escatológica???

carolus augustus lusitanus disse...

Este artigo mostra um pouco a maneira como se vão mostrando os sinais dos tempos -- no bom e no mau sentido...

A primeira questão que se me coloca é saber se a criação dessa tal universidade seguiu as normas legais. Se sim, não vejo razão para preocupações (de maior), porque os «bons» (em geral) não têm problema de emprego (esta afirmação é exagerada, principalmente em tempo de crises, mas é mais ou menos isso, restringindo-nos ao caso da Universidade de Sagiri) e, portanto, se foram seguidos os trâmites legais do seu licencimento, também não há que estarmos preocupados com a qualidade de ensino, seja ele ministrado de borla ou a pagantes... mesmo com matemática escatológica ou matemática financeira (porque é melhor não adentrarmos por estes desvios «à norma», que só desviam do assunto e, no final de contas, às vezes, para se chegar à mesma conclusão... quanto à validade de cada «qual»).

No entanto, se a instituição foi criada à revelia da lei e/ou não segue os preceitos de criação e normas de funcionamento de qualquer outra instituição congénere, aí muda tudo de figura.

Anónimo disse...

“a mentalidade aristocrática que faz as pessoas considerar que o trabalho intelectual não deve ser pago, porque é coisa para ser feita por quem tem dinheiro suficiente para dispensar várias horas por semana para trabalhar de borla”
Desidério tem razão e sabe porquê?
Porque o amigo dá razão a si mesmo na forma como põe os problemas e raciocina sobre eles.
Apresenta um discurso fechado sobre si pelas afirmações que faz.
Exemplo:
"a mentalidade aristocrática que faz as pessoas considerar que o trabalho intelectual não deve ser pago";
Talvez deva pensar que a gratuidade e o trabalho voluntário associada à produção e partilha cultural não impede haver espaço para a cultura paga e ambas podem ter qualidade mas põe-se a pergunta porque uma e não a outra, dado haver oferta?
Porque, talvez, explorem públicos diferentes e nichos de mercados alternativos ou até mesmo porque seja difícil obter certos produtos culturais à borla.
Não sei mas,
penso que a transformação da sociedade deve sempre a este tipo de movimentos que nos obrigam a repensar as questões confortáveis e a reinventar-nos de outras formas.
O seu tipo de raciocínio fica à mercê do pedido quantitativo de, numbers, numbers, como alguém escreveu e nem sempre se justifica dessa forma.
Arte

Desidério Murcho disse...

Se as pessoas me disserem que a distribuição de serviços culturais gratuitos não põe em causa a viabilidade económica e o financiamento da cultura, sou eu que tenho de pedir números. A existência do Linux, por exemplo, torna impossível o aparecimento de sistemas operativos alternativos ao Windows e que sejam pagos. O aparecimento do Firefox tornou impossível que o Opera continuasse a ser pago como era anteriormente, e hoje só uma grande companhia como o Google pode fazer um navegador, porque já sabe que não pode pedir dinheiro por ele. E na verdade é este o objectivo de quem defende o Linux e o Firefox: estas pessoas são contra a Microsoft só porque tem o descaramento de vender os seus produtos para pagar aos seus engenheiros, ao passo que a Firefox não precisa de vender os seus produtos porque só paga a um número ínfimo de engenheiros.

Mas eu admito que em muitos casos o gratuito não põe em causa a viabilidade económica da cultura. O empréstimo de livros em bibliotecas públicas é um desses casos. Mas isto é muito diferente de ter jornais todos gratuitos na internet -- a que propósito irá alguém pagar nesse caso? A biblioteca não põe em causa a existência de livros porque 1) as bibliotecas compram os livros, e mais caros do que ao preço normal e 2) é muito diferente ter um livro em casa sem mais preocupações de ter de o devolver ao fim de um tempo.

Contudo, o ponto principal dos meus artigos não é exactamente isto, mas antes a mentalidade fanática e radical que se desenvolveu na Internet quanto ao gratuito. Qualquer pessoa que faça seja o que for de gratuito na Net é aplaudido por ser um santo, mas quem quiser viver a vida da produção cultural na Net é visto como um vendilhão do templo. E a ironia é que os verdadeiros vendilhões são pessoas como o CEO do Firefox e o dono da Wikipédia, pois ganham a vida à custa do trabalho voluntário dos outros, com o engodo maravilho da palavra "Gratuito!" Evidentemente que as pessoas aplaudem porque não se importam minimamente com a viabilidade económica da vida dos outros — para elas é melhor ter o Firefox de graça, e isso basta, mas depois disfarça-se este oportunismo vendilhão com discursos elevados sobre a maravilha da cultura gratuita. Era até mais honesto que as pessoas dissessem que se estão nas tintas para as consequências económicas do que consomem, desde que possam consumi-las de graça.

joão viegas disse...

Obviamente, se fosse possivel obter sem custo (com base no trabalho voluntario) um serviço equivalente ao prestado pelas universidades publicas, estas seriam dispensaveis. Da mesma forma que se os cereais aparecessem à face da terra sem trabalho, não faria sentido existir agricultura cerealifera.

E dai ?

O que é que o texto pretende mostrar ? Que oferecer um serviço publico de educação tem custos ? Mas alguém negou esta evidência ?

Anónimo disse...

"e hoje só uma grande companhia como o Google" é um bom exemplo de oferecer por um lado e fazer dinheiro por outro - novo modelo de relacionamento económico, talvez;
"jornais todos gratuitos na internet - a que propósito irá alguém pagar nesse caso?" talvez a publicidade é que borla pode significar mais pessoas e portanto um bom nicho para os publicitários, por exemplo;
"a mentalidade fanática e radical que se desenvolveu na Internet quanto ao gratuito" estamos de acordo que os extremos são quase sempre más opções e portanto um ponto de equilibrio será mais desejável;
"Era até mais honesto que as pessoas dissessem que se estão nas tintas para as consequências económicas do que consomem, desde que possam consumi-las de graça" na psicologia este tipo de comentário/comportamento pode ser interpretado como uma projecção ou um preconceito pela generalização que lhe está associada por um lado e pela sucessiva repetição por outro.
Quero dizer com isto que está a formar grupos de pessoas que não correspondem à realidade.
Alguns exageram na exigência da gratuidade plena outros no valor associado ao montante a despender para adquirir um bem cultural(a qualidade paga-se, por exemplo) e haverá quem se fique pelo meio...
Contudo compreendo o seu ponto de vista mas confesso que tem razão em parte mas exagera ao generalizar e impede-se de ver o problema de outros lados; embora a minha opinião valha o que vale.

arte

Anónimo disse...

Como já foi perguntado, Matemática Escatológica???

Anónimo disse...

explico, Quero dizer com isto que está a formar grupos de pessoas que não correspondem à realidade(exemplo, a grande maioria das pessoas prefere comprar telemóveis de luxo)
arte

Desidério Murcho disse...

Precisamente: o que está em causa é saber o custo de tornar economicamente viável a cultura gratuita. O que eu chamo a atenção é para esse custo. No caso da Wikipédia: falta de diversidade, não pode haver duas; no caso do financiamento pela publicidade: massificação, só funciona quando se atinge milhões de pessoas (isso torna o New York Times rentável, mas não o Público, porque em Portugal só há 10 milhões de pessoas e dessas talvez apenas um milhão de leitores). No caso do Firefox: impede a concorrência, porque só grandes companhias com muito dinheiro para perder podem fazer outro navegador.

Eu não sou radical. Não digo que só há coisas negativas em oferecer trabalho intelectual gratuito. Apenas digo que é bom ir pensando nas consequências negativas evidentes que isso tem, e na mentalidade mais radical que sustenta esse trabalho como se fosse um paraíso. O paraíso seria as pessoas gostarem tanto de Mozart quanto gostam de futebol e gostarem tanto de história do Egipto antigo quanto gostam do Big Brother, porque se isso acontecesse a cultura seria economicamente viável por si mesma, sem precisar de subsídios do estado ou de mentiras publicitárias ou de trabalho gratuito. As pessoas que aplaudem o trabalho gratuito fazem-me lembrar a Susaninha, para quem era uma maravilha haver pobres para ela poder dar a roupa velha em vez de a deitar fora. O trabalho cultural gratuito é em muitos casos a única maneira de fazer certas coisas, mas isso não é uma coisa bonita, é uma coisa feia, pois é a medida exacta da estultice da humanidade: não precisamos de trabalho gratuito para subsidiar os U2, mas precisamos disso para subsidiar a astronomia.

Desidério Murcho disse...

Não estou a formar grupos que não correspondem à realidade porque o comércio é o soro da verdade. Se as pessoas preferissem programas televisivos de astronomia ao Big Brother e livros de história a telemóveis de luxo, haveria mais programas de astronomia e menos de Big Brother e mais livros de história e menos telemóveis de luxo. Faça uma experiência simples: entre num centro comercial (shopping, no Brasil) e veja quantas livrarias há, comparando com quantas lojas de roupa há. E entre na livraria e veja quantos livros de frivolidades há comparando com os outros. A suprema idiotice é pensar que isto é assim por causa de uns capitalistas malvados. Não, as coisas são assim porque estas são as preferências das pessoas. Se são as melhores preferências ou não, isso é outra discussão. Mas estas são as preferências das pessoas. O simples facto de precisarmos de financiar museus, bibliotecas, filosofia ou matemática através de impostos significa pura e simplesmente que as pessoas na sua grande parte não se interessam por essas coisas na mesma percentagem com que se interessam por sapatos ou cuecas. Claro que não estou a dizer que toda a gente se está nas tintas para a cultura, estou só a chamar a atenção para uma realidade desagradável: à excepção pequenas minorias, a generalidade da humanidade está-se nas tintas para seja o que for que tenha qualquer sofisticação cognitiva. E é isso que gera o problema de fundo do financiamento da cultura, que a ideologia do gratuito oculta, pois de repente parece que temos uma solução mágica para o problema que sempre acompanhou a humanidade. E não temos. É apenas mais do mesmo.

carolus augustus lusitanus disse...

Ó craque, até podia ser psicologia do fio dental, mas não é isso que se discute aqui (e ao que parece, também não é para discutir o tema do «post», pois «continua-se a chover no molhado»); não percebo a insistência - É preciso fazer o desenho? --> mathematical eschatology -> google/yahoo/altavista -> go! Ou é apenas estupefação? (So for isso, sorry...).

joão viegas disse...

Caro Desidério,

So agora li o teu ultimo comentario.

Mas estas a confundir duas coisas que não têm nada a ver. Quem fala em oferta gratuita de bens culturais, como o empréstimo de livros por bibliotecas publicas, não ignora que isto tem um custo, nem esquece que esse custo deve ser suportado por alguém. Apenas admite que esse custo deve ser suportado por todos (de acordo com as capacidades contributivas de cada um) porque é do interesse da colectividade que haja livros disponiveis para todos, gratuitamente, nas bibliotecas. Isto significa que se colocam livros ao alcance de quem não os poderia comprar ao preço do mercado, e que se permite dessa forma que uma criança pobre possa ler tanto quanto uma criança rica, que tem ou pode ter carradas de livros em casa...

Outra coisa completamente diferente é haver pessoas que dão gratuitamente tempo, trabalho, bens, ou mesmo dinheiro, para actividades de interesse publico, como sucede por exemplo quando uma pessoa doa a sua biblioteca particular a um municipio, ou a uma universidade. Isto não constitui nenhuma espécie de ameaça ao serviço publico. Pelo contrario, apenas ajuda.

Raciocinas como se devêssemos temer praticas de "dumping" no dominio da educação e da cultura. Mas isto esta errado. O dumping é praticado por empresas comerciais, com vista à obtenção de lucros atravês de uma perversão das leis do mercado (pela eliminação das empresas concorrentes por forma a criar uma clientela cativa). Os agentes que dispensam saber e cultura não são, na sua esmagadora maioria, empresas comerciais. A pessoa que participa na Wikipédia, tal como a pessoa que doa a sua biblioteca à universidade, ou a pessoa que decide proferir gratuitamente uma palestra sobre um tema que lhe interessa (ou ler os seus poemas, etc.), não esta a tentar tirar lucro dessa actividade, nem a procurar destruir as empresas comerciais que vendem livros ou enciclopédias para depois vender os seus proprios livros...

Como percebeste que te meteste numa alhada, inventaste agora esta da "mentalidade fanatica da gratuidade", mas isto não tem sentido. Alias, o argumento pode ser virado do avesso : tu é que estas a dar provas de uma "mentalidade" preocupante ao fazeres como se a produção e distribuição de bens culturais fosse uma actividade que se justifica apenas por ser fonte de rendimento para os profissionais do ramo. Isto não é assim. Os bens culturais, pelo seu valor intrinseco, é que justificam que haja pessoas que trabalham para a sua conservação, a sua transmissão, etc. Se conseguissemos conserva-los e transmiti-los sem trabalho, sem custos, isto não teria nada de mal...

Se calhar o problema é mesmo devido à existência de um forte serviço publico da educação, que faz com que muitas pessoas percam de vista que a educação não é apenas uma administração que paga no fim do mês os salarios dos professores.

Ja agora, sabes com certeza que os primeiros mestres pretendiam exercer uma actividade "liberal" (as artes liberais, ouviste falar ?).

Tens alguma ideia do que isso significa ?

A palavra "liberal", nunca sera demais lembra-lo, tem dois sentidos, que até estão intimamente ligados.

Estranho é ter de se explicar isto a quem exerce a profissão de professor de filosofia...

antonieta disse...

Lidos o texto do Desidério e os comentários em torno dele produzidos, uma enorme inquietação me assalta. Pareceu-me estarem todos exclusivamente preocupados com a gratuitidade desta nova universidade e as consequências que daí poderão advir, do que com uma questão que, pelo menos para mim, se apresenta fundamental e que é, precisamente, a da credibilidade científica dos cursos ministrados. A wikipédia todos sabemos o que é e o fraquíssimo e inexacto conteúdo de grande parte das matérias ali desenvolvidas, quase sempre na base do "main stream". Por outro lado, a existência de cursos de Harmonia Zen, Flores e Felicidade ou Medicina Incorpórea faz-me antever que, não tarda, teremos cursos de parapsicologia, astrologia e, talvez também, de culinária, bordados ou mesmo qualquer coisa do tipo "O insondável sobrenatural".
Enfim... o que deveras me preocupa é que, nisto como em tudo, o nivelamento vai continuando a ser feito cada vez mais abaixo.
Precisamente porque muito prezo o trabalho intelectual e o pretendo da melhor qualidade, como pretendo que aqueles que o produzem não careçam de quase relegá-lo para a categoria de hobby, em nome da necessidade de pagar os almoços e a renda da casa, não sou de todo adepta das borlas sistemáticas - na internet ou em qualquer outra circunstância. Não posso, no entanto, deixar de congratular-me pelo facto de, em tempos de tão complicada crise financeira grassando por todo o mundo, ainda haver muitos afortunados que se sintam aliviados por não mais terem de ficar escravizados ao ordenado.
Ao Desidério, faria um pequeno reparo: percebe-se claramente e desde sempre existir aí um grande preconceito anti-aristocrático, cujos fundamentos não vou, sequer, tentar descobrir e, muito menos, discutir; no entanto, não posso deixar de discordar dessa ideia de que os aristocratas desprezam o trabalho intelectual, porque ela é completamente falsa.

Desidério Murcho disse...

Não, o aristocrata não despreza o trabalho intelectual! O aristocrata despreza tudo o que se pareça com trabalho remunerado porque a marca do aristocrata é não precisar de ser remunerado para viver porque vive dos lucros das terras. Assim, o aristocrata pode singrar na política, no desporto ou na física -- mas sempre sem ser remunerado porque se for remunerado fica igual a pessoas como eu que têm de ser remuneradas porque não são ricas de nascimento.

carolus augustus lusitanus disse...

Eu até compreendo a preocupação da Antonieta, mas então e uma licenciatura em «surf» (como abriu recentemente numa universidade britânica), não será também mais um sinal destes tempos em que tudo vale?

Pois, com certeza que terá muita credibilidade, mas nessa já demos (e continuamos a dar) com Modernas formas de ensinar, sem imposições, Livre, para projeção Internacional, da Moderna arte do Kama Sutra à Independente e não memos canónica intrujice... de uns quantos macacos engravatados.
(Não é querer meter tudo no mesmo saco, mas parece que os sacos onde «os meto» não faz distinção de diplomas... nem de gravatas).

Anónimo disse...

"A existência do Linux, por exemplo, torna impossível o aparecimento de sistemas operativos alternativos ao Windows e que sejam pagos. O aparecimento do Firefox tornou impossível que o Opera continuasse a ser pago como era anteriormente, e hoje só uma grande companhia como o Google pode fazer um navegador, porque já sabe que não pode pedir dinheiro por ele."

O "Mac OS" nasceu de onde, do ar? Os únicos sistemas operativos que não vingam são aqueles que nada acrescentam ao que já há. Se é para dar mais do mesmo e pago qual é a vantagem? O diferencial tem é de ser maior. O AIX continua a ser vendido pela IBM (sabe, o AIX é um UNIX proprietário, faço o esclarecimento porque já vi que informática não é o seu forte).

Browsers? há para aí aos pontapés e se o desidério não desse tantas provas de ignorância na história da informática saberia que o Opera já era adware muitos anos antes do firefox (o lançamento do Opera foi em 1996). Mesmo no mundo open-source há vários browsers gratuitos que competem com o firefox. Porque é que não tem uma base maior? Se um produto não é percepcionado como apresentando uma mais valia significativa é claro que não vinga. De cada vez que tenta falar em informática o Desidério só dá tiros no pé, é excruciante.

Há muito tempo o Desidério escreveu um post como era custoso vir para aqui ter discussões de filosofia e apareciam aí uns caramelos a mandar bitaites sem se aperceberem que como não dominavam as ferramentas filosóficas só metiam água e era custoso falar com pessoas assim devido à diferença de traquejo na manipulação das mesmas. Então deve perceber como é custoso lê-lo quando demonstra o mais profundo desconhecimento da história da informática, da sua dinâmica de mercado e dos balanços economicos da sociedade. Recomendo-lhe frequentar um qualquer primeiro ano de engenharia onde logo se aprende que opinar sobre aquilo que não se sabe ou arrogar-se de omnisciencia sem ter os dados todos dá direito a perder a credibilidade profissional.

E por aqui me fico de vez porque de "numbers" que é a realidade factual e indesmentível não percebe. Fique-se pelo "sentido da vida", há muita gente a precisar de farois nestes dias conturbados. Cuidado é com os escolhos...

Anónimo disse...

Mais um post completamente estúpido que já nem me motiva sequer a chamar-te burro. É demasiada burrice, estou cansado, desculpa lá desta vez não te chamar burro mas não há paciência. Se algum dia arranjares uma gaja que te ature, de certeza que tem que ser uma super madre Teresa.
luis

Anónimo disse...

Matemática Escatológica. Eu explico. É aquela que se aprende sem o menor esforço entrando tudo pelos olhos dentro. É aquela que o Ministério da Inducação promove no ensino português.

José Meireles Graça disse...

Eu estou interessado em dar umas aulas na minha especialidade, que é buraca (uma variante de biriba). Não vejo todavia com bons olhos a perspectiva de o fazer de graça. Mas se me garantirem o doutoramento honoris causa estaria disposto às tais aulas pro bono, com o limite de 2 horas por semana, se oferecerem os charutos e meia garrafa de espirituoso para o professor.

Ana Coelho disse...

Do meu ponto de vista, há duas leituras bem distintas deste tipo de discussão. Uma, a que é tão acérrimamente criticada acima e, por causa disso, infelizmente focada, é o grito do autor (e que me desculpe, eu até aprecio bastante os seus textos) de "pobre de mim, como é que vou continuar a viver do fazer cultura se há quem a faça por mim de borla?"
É verdade que a distribuição gratuita de cultura não é, a priori, algo de necessariamente mau, nem significa o fim dos cientistas, filósofos, etc. que existem no Mundo.
A minha verdadeira preocupação, e que vejo claramente quando olho para estes casos, é outra: é que por aquilo que pagamos, podemos pedir contas, mas no que é gratuito, manda quem dá. A cavalo dado não se olha o dente, já diz o provérbio, e acho de uma ingenuidade incrível pensar que quem distribui 'cultura gratuita' o faz desinteressadamente.
Um caso claro são os jornais gratuitos: uma vez, perguntaram a um colega meu porque lia o Público e não o Metro, e ele imediatamente respondeu "Porque para ler publicidade mais vale não ler nada.". Quando quem paga a informação é o leitor, esta tem por interesse máximo servi-lo, e serve-o com a verdade; a partir do momento em que está na mão de empresas de publicidade...Bem, eu sou editora de um jornal de renome, e sobrevivo à conta dos meus patrocinadores. Acham que lanço uma notícia que abalará fortemente a credibilidade de um deles?
No caso da Wikipedia (e já agora da Wikiversidade), este problema também surge, sob outra forma: eu quando pago propinas, exijo em troca um ensino de qualidade e com condições, reconhecido no mercado de trabalho. Quando pago uma enciclopédia, exijo informação detalhada e verdadeira. Agora se alguém decide, porque sim, ir dar aulas do que for gratuitamente, como é que lhe posso exigir seja o que for? Daí o surgimento de cursos tão excêntricos como os referidos...se depois de 5 (ou agora 3) anos sair da Wikiversidade mais burra do que lá entrei, a quem é que vou pedir justificações, se não fiz qualquer investimento? Estou à partida a sujeitar-me ao que decidirem oferecer-me!
também, ao tornarmos a cultura "gratuita", estamos a sujeitá-la aos gostos e sabores de quem dá, seja um académico com horas livres ou uma empresa multimilionária. Na minha humilde opinião, deixar a cultura a esses critérios é correr o risco de a assassinar.

Anónimo disse...

Parece-me que se está a confundir trabalho cooperativo / Comunitário, em que um grupo de pessoas se inter-ajuda para um dado fim/objectivo, mas em que o ganho individual entre elas é basicamente nulo, ou mesmo negativo, na execução directa desse trabalho, podendo, contudo, ganhar com a venda do realizado a terceiros (caso do LINUX e variantes), beneficios (um dique de protecção), etc.

Claro que a repartição desse ganho pelo grupo pode seguir regras, não necessariamente equitativas.

Sendo assim, casos como o Linux e afins são uma forma informal de empresa, tão válida como a Microsoft (com os seus lucros), pelo que a questão:
- "O Linux impede o aparecimento de concorrência à Microsoft"

é tão VÁLIDA como:
- "a Microsoft impede o aparecimento de concorrência a ela própria, pelo que só sobra o LINUX", ou:
- "O Linux e a Microsoft impedem o aparecimento de concorrência", etc

Já agora podia-se estender este raciocínios às lutas de patentes, que impedem a menhoria de productos, obtenção de subsídios e apoios e outras "lutas de capoeira", que atrasam o desenvolvimento das ciências, etc

não me parece que a "gratuicidade" (real ou pseudo) esteja na cerne so artigo.

O problema está no modo e facilidade como formas de organização mental "não cientificas" se conseguem organizar e desenvolver, com a aparente passividade e "olhar aristocrático" do bem pensante "Pensamento Científico".

Não chorem, pois, sobre o leite derramado. Tivessem-o distribuído ....

Ingénuo Renitente

joão viegas disse...

Caras Antonieta e Ana Coelho,

Os vossos comentarios mostram até que ponto o delirio do Desidério consegue baralhar as ideias e isto é preocupante.

1/ Ninguém esquece a questão da qualidade e é claro que, na hipotese das universidades que funcionariam na base do trabalho voluntario, haveria que determinar em que medida elas oferecem um serviço equivalente às publicas (ou alias às privadas). Não se vê bem como isso poderia acontecer, pelo menos numa larga escala porque os custos são enormes, e eu constato, alias, que exitem ja algumas universidades desse tipo (o filosofo francês esquerdista Michel Onfray criou uma na normandia) mas que elas em nada ameaçam a existência de um serviço publico do ensino superior, nem tão pouco a existência de universidades privadas. So que estamos aqui a raciocinar por absurdo (por causa das falacias do Desidério). Ora, se imaginarmos que amanhã todos os cidadãos se apaixonassem pela transmissão do saber e da cultura, a ponto de passarem uma parte substancial dos seus lazeres a fazer investigação séria e a ensinar os outros, e que o fizessem de forma perfeitamente rigorosa, de tal maneira que quem pretendesse adquirir conhecimentos de engenharia, ou de arquitetura, não necessitasse frequentar um estabelecimento publico, onde é que estaria o mal ? Lembro que, mesmo hoje em dia, e mesmo em profissões regulamentadas, existe sempre a possibilidade de trabalhar sem formação académica, desde que obviamente uma pessoa apresente garantias solidas de competência (que pode perfeitamente ser adquirida pela experiência, pelo trabalho pessoal etc.). Isto não é novo.

2/ Mas o que é mesmo inquietante é a questão levantada por Ana Coelho. Por tras dos textos do Desidério esta de facto o medo que as pessoas sejam enganadas, que comprem gato por lebre, que passem a confundir bens verdadeiros, como o saber, as obras de qualidade (que exigem trabalho, e têm custos), etc., com fraudes, falsos valores que não custam nada. No fundo é isso que ele esta a dizer : se as pessoas vão à Wikipédia, vão deixar de distinguir entre um artigo "sério" e um texto feito a martelo, sem garantias de rigor.

Isto (para além de mostrar uma profunda ignorância pelo modo como funciona a Wikipédia) é pura e simplesmente assumir que as pessoas são estupidas e que elas não sabem distinguir.

E é isso mesmo que o Desidério pensa : para ele, maior parte das pessoas são idiotas, não sabem que o saber é importante, não sabem que a cultura tem valor, não sabem ver a diferença entre um trabalho rigoroso e um tecido de disparates. Ele ja se fartou de escrever esta asneira e isto é que me revolta.

Mas, meu amigo, se defendes que os valores verdadeiros não são reconhecidos pela maioria das pessoas, quem é que esta a ser aristocrata ?

Aqui é que esta o erro fundamental, e é incrivel que venha de quem trabalha no ensino publico. As pessoas sabem distinguir. As pessoas valorizam a cultura, a ciência, os livros e mesmo a filosofia. Por isso aceitam pagar impostos para existir (com custos fenomenais) um serviço publico do ensino para todos. Se não fosse assim não serias pago ao fim do mês !!!

O raciocinio do Desidério equivale a defender que é imoral darmos presentes aos nossos amigos, porque isto pode criar a ideia que os bens que oferecemos não têm custo, e favorecer o gosto das pessoas por tudo o que é baratucho.

Desidério : as pessoas não são estupidas.

Mas ainda que fossem estupidas, e que o ensino obrigatorio fosse uma grande falcatrua organizada por espertalhões para poderem ser pagos pelos outros para se dedicarem aos seus hobbies (que é exactamente o que estas a dizer), isto nunca seria um argumento para criticar quem se dedica gratuitamente ao seu hobby.

Os teus textos não têm ponta por onde se lhe pegue.

E agora adiante que, como muitos comentadores ja aqui salientaram, não ha paciência...

Anónimo disse...

IGUALMENTE IMPORTANTE:

www.creationwiki.org

Anónimo disse...

CRIACIONISTAS CONCORDAM COM ATEUS!

1) Ludwig Krippahl diz que um código tem sempre origem inteligente.

Os criacionistas concordam.

2) Richard Dawkins afirma que no DNA existe um código quaternário, com as letras ATCG (em rigor, hoje sabe-se que são seis), que codifica informação como um computador.

Os criacionistas concordam.

3) Por concordar com o Ludwig em 1) e Dawkins em 2), o decano do ateísmo filosófico, Anthony Flew, conclui que o código do DNA só pode ter tido origem inteligente, abandonando o seu ateísmo.

Os criacionistas concordam.

António Parente disse...

João Viegas

O seu texto contém algumas barbaridades e mostra até que ponto o texto do Desidério o confundiu. Vou ver se tenho tempo de passar aqui à noite para espalhar um pouco de confusão.

joão viegas disse...

Caro Antonio Parente,

Experimente e fique descansado que a si responderei. Ja discordei muitas vezes daquilo que você escreve, mas até agora ainda nunca o vi estar de ma fé.

Estou pois interessado em saber onde é que vê barbaridades naquilo que eu escrevo e até aposto que vai concluir que as barbaridades não estão no meu comentario, mas nas consequências absurdas da tese do Desidério (que vem ja expondo ha varios postes, convém talvez ir ver de onde isso começou).

Cumprimentos,

nuvens de fumo disse...

Eu acho que o Desiderio está a confundir tudo, só não sei se de propósito ou sem se aperceber.
A intenet tem um modelo de negócio completamente diferente da realidade física. Todos aqueles que souberem tirar partido disso singrarão, o GOOGLE por exemplo, os que insistirem em copiar a realidade para o suporte digital sem acrescentarem nada de novo, desaparecerão como a Encarta.
Deixe que lhe diga que desde a primeira edição, a Encarta era uma porcaria e as seguintes nunca recuperaram nem ganharam fama de qualidade e isto muito antes da wIKIPEDIA. Por isso desapareceu e não por causa da wikipedia. Como era má ninguém estava disposto a pagar por conteúdos fracos, mercado em funcionamento.

A Wikipedia é o que é, usa quem quer, em termos científicos muitas vezes tiro uma ou outra dúvida por lá e não tenho tido dificuldades em distinguir entre o trigo e o joio. Noutros temas pode ser que não tenha o mesmo rigor, mas informação é informação, tem que ter mais valia para ser vendível. Acabaram os tempos de se poder vender um milhão de vezes a mesma coisa a laparotos diferentes.

Os vinte e tal volumes da britânica tiveram de ter uma nova apresentação, mais conteúdos, mais multimédia para se perceber o valor e estar-se disposto a pagar por eles. Só que antigamente a esmagadora maioria das pessoas não tinha acesso a nenhuma enciclopédia de jeito.

Eu felizmente cresci com milhares de livros mas ainda me lembro de ir á biblioteca para consultar volumes da britânica porque era muito cara e poucas pessoas a tinham. Hoje isso nem cabe na cabeça de ninguém e ainda bem, é sinal que há mais difusão do conhecimento, e mesmo que seja politicamente incorrecto eu digo que mais vale uma copias ilegais e mais difusão em nome de um bem maior do que o antigo espartilho de acesso à cultura. Quem pode normalmente compra, por status, para ter as actualizações, para acesso a determinados conteúdos. Quem não pode mas está interessado pode ter acesso sem pagar, ou pelas wiki, ou mesmo recorrendo á copia. Antigamente era o ter ou não ter. Que saudades desse mundo verdadeiramente aristocrático onde o pensamento e a cultura eram para muito poucos….. O problema da cópia ilegal é a falta de guito, principalmente.

Este problema não é tão simples, mas no fundo milhares de alunos de ciências tiveram de fotocopiar todo o seu curso, ou será que não conhecia esse fenómeno? É pura demagogia afirmar que o faziam por gosto, aliás que maravilha estudar em livros a preto e branco e com 4 páginas por folha de um alado e outro para se poupar dinheiro. Faziam porque os senhores professores , em vez de darem aulas com apontamentos decentes remetiam para os livros grande parte da matéria indiferentes ás dificuldades das pessoas. No fundo, adeptos da sua ideia de pagar por tudo, incentivaram uma florescente indústria de cópias. Nunca vi ninguém preocupado com esse crime que era feito á frente de todas as pessoas e alimentava muitas casas de fotocopias. Mas na net é diferente, os autores copiados não são só autores estrangeiros, afecta todos, ora assim deixou de ter piada LOLLLL

Quem vive fora deste planeta é o Desidério que mesmo com a sua formação em filosofia tem uma sensibilidade social e uma orientação para a cultura que cheira a um profundo desprezo por tudo que não sejam as elites que conhece, que reconhece e que no fundo acha que deveriam existir. As ditas com qualidade.

Se não percebe que está a viver tempos de mudança , onde o acesso á informação será tendencialmente gratuito com tudo o que isso implica, o problema é da sua capacidade de análise e não da realidade. A dificuldade e ao mesmo tempo o fascínio é descobrir novas formas de vender , novos mercados.

Alguém criticava os cursos de reiki e MT e afins, é uma forma de ver o fenómeno, outra é descobrir que há um mercado grande a descobrir, há outras formas de fazer dinheiro e a cultura não pára, e já agora esses temas mesmo menores fazem parte da cultura, quer se goste ou não ( eu detesto mas enfim) .

Só não percebo é a solução que propõe, acho que seria algo como uma PIDE da net, onde se fechariam pura e simplesmente todas as coisas gratuitas, coisas sem qualidade, sem dignidade cultural, e isto feito por um conselho de sábio ( não os de Sião) muito chatos, muito velhos. Ou uma comissão de figuras iminentes , sábias, de preferência com doutoramentos antes de Bolonha, daqueles sérios : ))))

Era esta a sua solução, uma polícia com poderes ultra alargados e sem controle , altamente discricionária que pudesse devassar a vida privada para impedir a distribuição de conteúdos de forma gratuita ?
A PIDE comparada com uma regulamentação destas seria um arco-iris.

Eu acho que o Desiderio não pensou mesmo a fundo naquilo que acha que gostava que acontecesse. Espero …

joão viegas disse...

Nuvens de fumo,

De acordo consigo. Mas o problema do Desidério é mesmo falta de cultura filosofica. Eu ja aqui escrevi (e não fui desmentido) que se ele quisesse pensar 5 minutos com rigor, iria realizar que as ideias são bens comuns, ou seja que são gratuitas, que não têm preço. Portanto quem esta a ensinar filosofia, esta a colocar ao alcance dos outros bens comuns, que não estão no comércio. Isto não significa que o trabalho do professor não tenha valor, ou que não deva ser pago (alias, que eu saiba, ele é pago no fim do mês). Mas afirmar que nessa matéria "o comércio é o soro da verdade" é pura e simplesmente demonstrar que não se tem a mais pequena ideia daquilo que se esta a falar...

Anónimo disse...

Eu continuo a não perceber esta luta do sr Desidério contra o GNU/Linux e software open-source, como se estes fossem produtos que não geram dinheiro, nem emprego.
A SUN trabalha com este tipo de produtos e ganha com isso.
Existem diversas empresas em Portugal que trabalham com software open-source, que geram emprego, que geram lucro.

As pessoas não gostam da Microsoft porque o objectivo da Microsoft é anular a concorrência a qualquer custo, utilizando qualquer tipo de prática.
A Microsoft foi condenada por mais de uma vez pelo Tribunal Europeu por monopólio e abuso de posição dominante.

Relativamente ao Openoficce.org e ao software open-source em geral, as pessoas escolhem estes programas porque eles permitem trabalhar com formatos abertos standard internacionais, reconhecidos recomendados por Governos e diversas instituições.
Porque eles permitem que o seu trabalho nunca fique fechado. Permitem e garantem que o sr terá sempre acesso aos SEUS documentos.

Quando eu envio um documento a uma pessoa, eu não quero estar a preocupar-me se essa pessoa usa windows ou mac ou gnu/linux. Não quero preocupar-me se essa pessoa tendo windows tem dinheiro para comprar o microsoft office.

Não. O que eu quero é muito simples. Eu quero enviar um documento e ter a certeza que essa pessoa o consegue abrir, com a formatação que eu escolhi. E eu tenho essa certeza com o openoffice. Mas não a tenho com o Microsoft office. Aliás, mesmo dentro das várias versões do microsoft office, nem sempre os documentos com os formatos fechados e proprietários da mesma empresa conseguem ser abertos.

E já nem lhe falo na quantidade de documentos e objectos digitais que por estarem em formatos fechados e proprietários, estão já irremediavelmente perdidos.

De qualquer forma, não há como lutar contra isto. Simplesmente não há. E ainda bem. Não quero voltar ao tempo em que para ver um documento tinha de trocar vários emails "então mas não consegues abrir?" "então mas estás a usar o micros. office?" "então mas qual é a versão?"

Porque é que em vez de empregar a sua arte de pensar em modelos ultrapassados aos quais não é possível voltar, não a emprega às novas possibilidades?

Sim, há exemplos de pessoas que disponibilizando os seus livros gratuitamente na web continuam a vender os mesmos livros em papel e vivem disso e bem.
E tem outros vários exemplos noutras áreas.
paula

Anónimo disse...

"Se as pessoas preferissem programas televisivos de astronomia ao Big Brother e livros de história a telemóveis de luxo, haveria mais programas de astronomia e menos de Big Brother e mais livros de história e menos telemóveis de luxo."

O caso do Big Brother é excelente: ainda não havia BIg Brother em Portugal e pessoas que nunca tinham visto o Big Brother já o queriam ver. Como se pode querer uma coisa que não se conhece?

Em relação a isto, perguntou-me uma vez o sr Mário Mesquita se se instalasse uma torneira de whiskey ao lado das torneiras de água de todas as casas em Portugal, será que o consumo de whiskey não iria aumentar?

É que fazer um programa de História apetecível custa muito dinheiro, é mais barato fazer um Big Brother...
Paula

ACORDEM disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
nuvens de fumo disse...

"É que fazer um programa de História apetecível custa muito dinheiro, é mais barato fazer um Big Brother..."

Não sei se custa, o difícil é ter alguém que os saiba apresentar.

Fulane de Tal disse...

O mais engraçado nesta linha de pensamento é o Desidério ser contra uma atitude aristocrática na produção de cultura (ao estilo só produz cultura quem tem dinheiro) e ser a favor de uma atitude aristocrática no consumo (ao estilo só consome quem tem dinheiro).

Se calhar é por o achar que ele próprio não acrescenta nenhuma mais-valia na produção de cultura e caso as pessoas não sejam obrigadas a pagar pelo acesso à cultura, ele vá ter de mudar de profissão

nuvens de fumo disse...

Por exemplo, a pornografia gratuita está a dar cabo da industria profissional?

http://abcnews.go.com/business/Story?id=3259416&page=1

O problema é sempre o mesmo, se não há mais valia nos profissionais...as pessoas não pagam.
mas dizem os realizadores:

But pornographers will keep trying to adopt changes and hoping to make a buck. "I don't really think that there is less money to be made because of free content," says Drew Rosenfeld, the creative director of Hustler Video Group. "We're making important changes, from hard DVDs to video on demand and we're focusing a lot of production for Internet purposes first. In the past, we've put it online 90-100 days after we sell it on DVD. Now we're shooting it for the Web, which is less expensive for us and the consumer."


Pelos vistos há que adaptar e andar para a frente. Os custos de produções feitas com um telemóvel são capazes de compensar , digo eu que não realizo mais que filmes para mim. LOLLL

Esta é das mais antigas industrias a cobrar direitos , e continua. Por isso há esperança de não acabarem estas produções épicas.

E pornografia È cultura

Anónimo disse...

Hoje o meu comentário é muito curto, como curtas são as possibilidades da vida e trágica a eterna armadilha das boas intenções. Como gostaria de viver de rendas para poder ser altruísta.

Anónimo disse...

O Sr. Dr. Desidério deixou de acenar com a cenoura e passou ameaçar com um pau...

Julga que somos todos burros?

nuvens de fumo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Até as grandes editoras estão contra o Deside!
A Bloomsbury estava a oferecer o download gratuito de um dos finalistas do Orange Prize:
http://www.bloomsbury.com/Orange/Default.aspx

Agora já acabou, mas não se admirem que as cópias andem pelos torrents, se é grátis para uns...
A sorte dos pobres e do autor é que há sempre uns Desides que gostam de passear de livro debaixo do braço, que não dispensam o cheirinho das páginas, do toque, e do bem que ficam a enfeitar uma estante.
Apesar desta maluquice da Bloomsbury, que é problema e ideia deles, se calhar o livro até vai vender bem, ao contrário dos exclusivos e cultos escritos do Deside.
luis

Anónimo disse...

There has grown up in the minds of certain groups in this country the notion that because a man or corporation has made a profit out of the public for a number of years, the government and the courts are charged with the duty of guaranteeing such profit in the future, even in the face of changing circumstances and contrary to public interest. This strange doctrine is not supported by statute or common law. Neither individuals nor corporations have any right to come into court and ask that the clock of history be stopped, or turned backRobert Heinlein, Life-Line (1939)

Anónimo disse...

hoje é um dia triste:
http://remixtures.com/2009/04/parlamento-de-europeu-estende-direitos-de-autor-dos-artistas-para-os-70-anos/paula

Anónimo disse...

anónimo das 19:16

não é só mais uma palahaçada do parlamento europeu a esticar o pescoço a dizer que existe. É pq a coisa deve ser séria e não é só "pocket money" para cigarros e bilhar.

Dr. Pinguim disse...

Aqui há uns anos, movido por ataque insano de novo-riquismo, adquiri uma coisa chamada Enciclopédia Verbo, Edição Século XXI. Vinte e nove volumes, 3.456 toneladas e meia. Um bosque deitado abaixo só para extrair o papel que leva um exemplar. Hoje serve- me para abaular duas prateleiras: a wiki é 6.543 toneladas melhor.

Concordo que os direitos de autor devem ser respeitados. Aliás, também já ganhei trocos com isso, para bem dos meus pecados. Mais, acho até que as próprias editoras, e outros agentes, deveriam respeitar volta e meia os direitos do dito. Agora, porque não posso trabalhar à borla se me apetecer? Há o perigo de uns eus, e mais uns quantos como os eus, pormos o Saramago, o Bill Gates, e o próprio Desidério na ruína? Ou não deixarmos que novas empresas, prenhas de intelecto, imaginários e clarividências, singrem pelo mundo fora? Tretas. Este fim de semana prometi pendurar uns toalheiros em casa de pessoa amiga, muito surpreendida por os meus aguentarem-se há dez anos sem cair. Será que vou ser processado pela ordem dos carpinteiros?

Tretas, repito. Já agora, deveríamos proibir os grupos amadores de música, e as companhias amadoras de teatro? Não vá dar-se uma falência generalizada das congéneres profissionais? Ou até a chatice do pessoal não descobrir as diferenças entre umas e outras?

Tretas, tretas, repito, repito. A mim, tomara que houvessem mais artistas de rua em Lisboa; seria sinal que haveria também mais profissionais. Tomara que existissem mais cientistas amadores em Portugal, mesmo que dados a luminices à Giampaolo Giuliani; seria sinal que se calhar na faculdade onde estudei se faria ciência a sério, e não umas escritas emproadas duns para os outros. E tomara que o Magalhães desse muitos programadores a botarem software à borla na net; isso sim, seria sinal de que o choque tecno não tinha sido ilógico. E até talvez tivéssemos futuro.

disse...

"nunca me senti tão bem; libertei-me da necessidade de ganhar dinheiro."

O movimento que defende que nada deve ser pago (software, música, e agora aulas) parece-me uma utopia já que se existem pessoas que trabalhariam por gosto sei que a maioria apenas se aproveitaria do trabalho dos outros. Infelizmente ainda não encontrei um restaurante ou supermercado onde não tenha de pagar. Será que os agricultures estarão dispostos a alimentar os outros sem receber dinheiro em troca? E os alfaiates e sapateiros? Então porque quem ensina ou produz algo não há-de ser pago?

Por outro lado afirmar que os doutores de uma determinada área de conhecimento não sabem mais do que o comum dos mortais (nessa área), além de infantil é perigosa: para quê aprofundar conhecimentos se somos todos autoridade em tudo? Nesse caso para quê esta mesma universidade (gratuita ou não)?

Parece-me cada vez mais que tudo o que dá trabalho a conseguir (seja estudo seja dinheiro para adquirir outros bens) é afastado como não sendo democrático ou justo. Se todos optarmos por essa via acabaremos como espécie já que com 6 mil milhões de habitantes não é possível voltar ao tempo de caçadores-recolectores.

Leonel Morgado disse...

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Ludwig Krippahl disse...

Desidério,

O atendimento aos alunos, a avaliação dos trabalhos e exames, as sessões de discussão e dúvidas no final de cada aula teórica, tudo isso são coisas que não posso partilhar sem limites porque exige dedicar um certo tempo por aluno, e o tempo que tenho não é ilimitado.

Mas se preparo e dou uma aula não me custa nada gravá-la e pô-la na net. É o que faço por sistema, e é o que muitos fazem mesmo em universidades privadas de renome. Que não é por isso que vão à falência.

Com o entusiasmo para atacar uma caricatura esqueces-te que o que defendemos não é que se trabalhe de borla. Isso será sempre uma opção de cada um (com certeza não o queres proibir?) mas não uma obrigação nem um sistema do qual possamos depender.

A ideia principal é que não se queira ganhar dinheiro restringindo a distribuição daquilo que não requere trabalho para distribuir. Se exige trabalho para se criar é legítimo exigir dinheiro por esse trabalho, mas não pelo acesso à coisa já feita. Em concreto, no meu caso, é-me legítimo exigir um ordenado para preparar aulas, dar aulas e atender os alunos mas seria ilegítimo proibir a distribuição dos ficheiros que forneço aos alunos para ganhar mais dinheiro vendendo-os.

Já agora, se me permites um comentário mais pessoal, esperava de ti um esforço maior para compreender a posição que atacas... Estás a atacar o amadorismo como se o quisesses proibir (se muita gente quiser trabalhar de borla vais fazer o quê?) quando o problema é a lei proibir-nos de partilhar gratuitamente as coisas que compramos. Se um aluno paga uma aula tem todo o direito de partilhar o conhecimento que adquiriu. Mas se compra um CD e distribui esses bytes na net pode ir preso. É essa diferença que me preocupa.

Anónimo disse...

"A existência do Linux, por exemplo, torna impossível o aparecimento de sistemas operativos alternativos ao Windows e que sejam pagos."
Incríveis as desculpas com que os incompetentes justificam seus fracassos. E por que o Windows-mesmo pago- continua com uma fatia enorme do Mercado se a Microsoft, como bem lembras, tem que pagar e pagar bem, aliás, seus funcionários? Será que é por realmente atender as necessidades dos usuários, que por isso pagam por ele? Empresas investem grandes quantias na expectativa de receber dinheiro dos consumidores, montam fábricas, contratam pessoas, abrem lojas, projetam produtos apenas para atender às demandas dos cunsumidores (às vezes, falham no prever/atender tais demandas, mas isso é culpa delas, não é culpa do consumidor). Se ninguém se interessa em pagar por um sistema operativo alternativo ao Linux é porque estão satisfeitos com o que o Linux lhes dá. Deveriam ser forçados a pagar pelo que o Linux já lhes proporciona, pagar para que alguém desenvolva um "Linux" pago quando já existe para os avessos ao Linux- e é dominante no Mercado!- a opção Windows? Só para sustentar aqueles que nada têm de valor para apresentar aos consumidores?
Otávio Macedo

Unknown disse...

Convido a todos a trabalharem na Wikiversidade!

A panaceia da educação ou uma jornada em loop?

Novo texto de Cátia Delgado, na continuação de dois anteriores ( aqui e aqui ), O grafismo e os tons da imagem ao lado, a que facilmente at...