sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Da pluralidade dos mundos


Podemos avistar na nossa galáxia aproximadamente o mesmo número de estrelas que segundos existem em 3 mil anos. Cada estrela poderá ter na sua órbita meia dúzia de planetas ou mais. E há cerca de 100 biliões de galáxias. 

Há quem se assuste com estes números, nomeadamente por pensar que nos tiram importância. Mas Nagel argumentou em 1971, no célebre artigo "The Absurd", que o tamanho não pode estar relacionado com a importância ou o sentido da nossa vida: teria a nossa vida mais sentido ou importância se fôssemos tão grandes que tivéssemos os pés na nossa galáxia e o pescoço noutra? 

Cosmos, de Carl Sagan mostrou pela primeira vez a muitos milhões de pessoas em todo o mundo a nossa dimensão cósmica. Ao melhor comentário sobre este tema, temos para oferecer um exemplar do livro de Sagan. O passatempo é feito em colaboração com o Sorumbático e termina no dia 4 de Fevereiro, às 23:50. 

23 comentários:

Unknown disse...

Vi a série Cosmos (os 13 episódios) há relativamente pouco tempo e posso dizer que apesar do número de estrelas e da grandiosidade (incompreensível para a mente humana) do cosmos, Sagan mostra-nos que em cada ser vivo a grandiosidade é ainda mais fascinante e admirável. Tenho 29 anos e não tenho filhos. Esta série foi a única coisa na minha vida que me fez dizer: "tenho que guardar isto para um filho meu ver um dia".

João Silva disse...

Vamos supor que eu era uma formiga:

-a minha vida teria tanta importância para mim como tem agora: só teria, ao que eu poderia apurar, uma vida, logo convinha vivê-la bem.

Ora, ninguém quer saber das formigas, logo, sem ser para mim, a minha vida não teria qualquer sentido/importância.
Para mim, sendo formiga, a vida conteria tanto sentido/importância como dantes. No entanto, outrém já veria a minha vida como irrelevante e sem sentido (ninguém se interessa por formigas).


Se olharmos para esta questão de forma antropocêntrica ou teocêntrica, vemos que perdemos importância: estará o Homem acima de tudo quando provavelmente há ET´s mais espertos, mais bonitos, em suma, melhores do que nós?; se somos tão pequenos no nosso Universo, preocupar-se-à Deus muito mais connosco do que com formigas?

Adoptando uma postura centrada no "eu" relativamente ao sentido da vida a importância da nossa vida não muda: se a minha vida só puder fazer sentido para mim, que interessa se somos os maiores, os mais pequenos ou os mais fracos do universo?

Para mim, o sentido/importância da vida mantém-se o mesmo. Para os que acham que a vida é um absurdo, o sentido manter-se-à o mesmo.
Para todos os que acham que o sentido da vida é fazer ou louvar algo de relevante, o sentido perde-se: se somos tão pequenos, para quê nos importarmos?

Unknown disse...

Se tamanho fosse importância, eu gostaria de ser quem sou.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Uma "dica": sobre a "Pluralidade dos mundos", talvez calhasse aqui bem uma referência a Giordano Bruno...

Xico disse...

Dizia Pascal (um cientista pouco considerado por estes lados...)
"Caniço pensante.- Não é do espaço que eu devo esperar a minha dignidade, mas do acerto do meu pensamento. Eu não teria mais se possuísse terras: pelo espaço, o universo abarca-me e submerge-me como um ponto. Pelo pensamento, abarco-o eu."

João disse...

Não há fuga ao nosso ponto de vista, seremos sempre humanos a pensar sobre o ponto de vista humano. O Universo está la independente de nós, inabalavel perante a nossa opinião sobre os efeitos da sua grandeza no nosso ego. A vida pode ser rica o suficiente para ser um universo por si própria, pouco há mais complexo em existencia que o que faz a nossa mente. Aproveitem. Vai passar num instante.

Anónimo disse...

Algures,uma civilização extinguiu-se.Antes do fim,alguns seres recomeçam um universo de dores e alegrias.

Anónimo disse...

A grandeza e a distância são relativas como sabemos. Não é relativa a nossa capacidade de as pensar, e mesmo torná-las infinitas. Se fechados neste corpo físico pouco mais podemos fazer que observar as sombras da caverna, há muito que percebos que podemos nós mesmo criar sombras e estudar as suas origens. E o que nos assusta não é termos mais respostas, mas mesmo, como dizia V. Ferreia, nos faltarem as perguntas, certas, claro está.

Anónimo disse...

"Uma "dica": sobre a "Pluralidade dos mundos", talvez calhasse aqui bem uma referência a Giordano Bruno..."

Este rapazola ainda percebeu a diferença entre "Cosmos" e "Universos". Já agora, por que não uma referência a Everrett?

Uma dica: deixe-se lá de dicas

perspectiva disse...

O Cosmos é imenso e, no entanto, alguns cientistas, como é o caso de Richard Dawkins, dizem que ele evoluiu por acaso... do nada. Não está nada mal, para uma explicação pretensamente científica!

A Bíblia afirma que os céus manifestam a glória de Deus. Não admira, pois, que sejam imensos, tão imensa que é a glória de Deus.

A grandiosidade do Cosmos, e a sua sintonia para a vida, testemunha da grandiosidade do seu Criador.

Se o Cosmos fosse pequeno, duvidaríamos certamente da grandiosidade do seu Criador.

Ainda assim, fomos criados à imagem e semelhança de Deus.

A extrema complexidade do cérebro humano, que Carl Sagan diz ser a mais complexa máquina conhecida no Universo, e a quantidade inabarcável de informação codificada no DNA ( a presença de informação codificada num sistema assinala sempre a sua origem inteligente)corroboram também o ensino bíblico.

Pedro disse...

Obrigado, perspectiva, por mais uma gargalhada.

Anónimo disse...

Não fui eu que cunhei esta frase, mas ela diz algo mais ou menos como: "Se você tem complexo de inferioridade, imagine o complexo de inferioridade de uma ameba".

O que mais me chateia na questão das escalas interestelares e interplanetárias é que este nosso planeta velho-de-guerra já não está dando mais conta:
a) de nos agüentar, dada a nossa fome por recursos;
b) de alimentar nossa sede por exploração, dado que quase todo canto dele já foi ou está sendo esquadrinhado.

O triste é que como estamos cada vez mais acomodados e bundões sobre nossas poltronas e sofás, poucos terão a coragem de se arriscar em cápsulas pra viajar pelo espaço e colonizar outros locais. Fico pensando: se descobrirmos outra civilização, o que faremos? Eles estão tão longe, e qualquer tecnologia pra chegar lá tão distante, que esta descoberta só servirá para alimentar nossa esperança deles serem melhores que nós.

Anónimo disse...

A medida do sentido da nossa existência não se prende com o nosso tamanho mas com a probabilidade de estarmos aqui.
Basta perceber que uma alteração infíma numa qualquer constante que rege o Universo e não existiríamos.
A conjugação "miraculosa" das condições que nos permitem existir é realmente uma (quase) impossibilidade matemática.
E ainda assim existimos e não valorizamos essa simplicidade de sermos uma parte do processo, uma parte do Cosmos.
Na escala total parecemos tão pequenos mas se existimos, transformamos o Cosmos logo à partida, nem que seja o nosso pequeno pedaço.
Portanto, se pelo menos matematicamente somos relavantes, uma conjugação improvável de probabilidades, somos um fenómeno único e marcante. A nossa existência quebra as regras da lógica. A nossa existência prova que há sempre incertezas e hipóteses. Se decidirmos extender isso (ou melhor dizendo, reduzir) ao nosso dia-a-dia, então vemos bem que há sempre uma hipótese, uma possibilidade de concretização.
Já temos sentido por estarmos aqui e fazermos parte do Universo.
Não chega?

Anónimo disse...

É algo com que sonho, o dia em que deixaremos de ser únicos por sermos os únicos. Nesse dia talvez se note melhor a nossa importância por sermos como somos e não aquilo que somos. Ou seja, por nós (e com "nós", refiro-me a toda a vida na Terra) termos (ou termos tido) esta forma e esta vida e não aquela ou aquelas que encontraremos noutros mundos.

Também será o dia em que veremos que há vizinhos. Para os não religiosos, o dia será grande, porque demonstrará a desnecessidade de um Deus. Para os crentes, demonstrará a grandeza do mesmo.

Recordo um diálogo entre Ellie Arroway e o reverendo Palmer Joss num outro livro de Sagan (Contacto, este um romance), citado vagamente de memória:
Ellie: - não o incomoda? Esta minha experiência [a viagem para outra galáxia e contacto com outros seres muito inteligentes e avançados] faz-nos parecer muito pequeninos.
Palmer Joss: - Sim, mas também faz Deus parecer muito grande.

E é isto o fundamental. A descoberta de outros mundos e civilizações não faz ninguém pequeno nem grande. É uma experiência pessoal. É apenas uma descoberta. Aquilo que "parece", depende apenas das percepções de cada um.

Unknown disse...

Como relatado em Contato de Sagan, nos tornamos uma sociedade artificial e que tem pressa para tudo... Procuramos um significado, mais que significado? o trabalho é chato, as férias estressantes, nos endividamos nos shoppings para comprar mais coisas e tentar preencher as lacunas em nossa vida. Não nos admira estarmos assim desorientados.

Sentimos nossa pequenez diante do Cosmos, mais ao mesmo tempo temos uma certa dimensão do do quanto raros e preciosos cada um de nós somos.

Adiquirir uma intelectualidade tem seu preço, e o que acontece é que já estamos com o intelecto um pouco que sobrecarregado, e por isso sentimos falta de algo.

Lembro-me do que Gould disse certa vez: Nós habitamos um mundo complexo. Algumas fronteiras são nítidas e permitem distinção claras e definidas. Mais a natureza inclui algumas continuidades que não podem ser divididas em duas pilhas inequívocas de sim e de não.

Uma a pergunta não tem resposta porque você fez a pergunta errada! Pergunta essa que não tem nenhum significado porque seus pressupostos violam os processos da natureza.

¨Devemos ter acesso à metáfora correta, não apenas à informação necessária!¨

Pedro disse...

Giordano Bruno, um frade dominicano italiano queimado vivo, há 400 anos, na fogueira da Inquisição católica, devido às suas ideias originais sobre a lei natural, vai ser homenageado em Roma, ao longo deste ano. O célebre filósofo e escritor, que viveu entre 1548-1600, foi o primeiro a admitir o infinitude do Universo mas após oito anos de processo inquisitorial e depois de rejeitar a hipótese de se retratar, o que o teria livrado da morte, Bruno foi condenado a morrer queimado, a 17 de Fevereiro de 1600, numa pira erguida na Praça do Campo das Flores, em Roma, onde há hoje uma estátua em sua honra. Na sua obra, o filósofo reflectiu sobre si próprio, a natureza e o mundo, durante o processo inquisitorial. Este frade dominicano que viajou pela Europa, cometeu a imprudência de voltar a Veneza, onde o seu calvário começou em 1592. Entre as homenagens que lhe serão feitas este ano destaca-se um congresso internacional de especialistas que vão analisar a sua obra e a publicação dos seus "escritos mágicos", explicou o vereador da Cultura, Gianni Borgna. O congresso incide não só sobre as suas 309 obras filosóficas, mas também sobre trabalhos de cosmologia, matemáticas e ciência, sem esquecer a comédia satírica "Il Candelaio" ("O Veleiro"). Exposições, concertos e representações teatrais servirão também para recuperar a memória sobre a figura de Giordano Bruno, conhecido como o filósofo da liberdade e da tolerância, firme defensor das teorias copérnicas e impulsionador da lei da Natureza.
Quando for grande quero ser como ele mas vou levar un extintor para apagar a fogueira

mister p disse...

Durante o fim-de-semana em deslocação à aldeola da família e a propósito das condições climatéricas descobri uma evidência unânimemente reconhecida pela população local e que o Mestre Pimpó resumiu assim: "Desde que foram à Lua que o tempo ficou variado"; e pumba, emborcou mais um copo de tinto "qu'este é q'enche a alma".

Pois é, ponham-se com essas idéias das estrelas e coisa-e-tal e vão ver o descalabro que aí vem...
Cá p'ra mim mandava mas era exorcisar esses tais satélites, que coisa boa não deve ser enviar tanta tralha lá p'ra cima. Nem um homem consegue dormir descansado !

Anónimo disse...

A dimensão do universo não pode ser mensurável pelos escassos instrumentos de que o homem possui.
A infinitude de massa que se estende pela abóbada celeste faz-nos sentir pequenos. Mas a nossa pequenez está na infertilidade de pensamentos, na falta de vocabulários que nos permitem falar de dimensões.
O universo pode continuar a existir, mas cada dia que passa aqueles que o vêem e reflectem vão-se tornando em energia e em redutos de matéria de que num amanhã incerto será feita uma estrela.

Alex

Ana disse...

A pequenez do ser humano mede-se não pelo tamanho da sua pessoa, mas pelo tamanho da sua alma...
Ao olharmos apenas numa única direcção seremos pequenos, no entanto ao olharmos à nossa volta seremos grandes. Ocuparemos não o nosso planeta, mas o Universo inteiro.
Hoje em dia, desprezamos a beleza e a simplicidade das coisas, ambicionamos cada vez mais, procuramos o impossível e acabamos por esquecer o óbvio e o essencial!
Por isso não me assusto com grandes números, na medida em que eles jamais irão tirar a importância de um olhar, a coragem de um abraço nos dias de tristeza!
O tamanho da nossa essência mede-se pelas nossas atitudes. Olhem em volta, olhem para e pelo mundo! E um dia seremos GRANDES, do tamanho do Universo!

Ana

Anónimo disse...

No mundo existem um sem número de objectos que elevam a inspiração dos homens: o oceano, um quadro, uma musica, a natureza...

Mas para mim, tal como o era, acredito eu, para Carl Sagan, nada é mais imponente do que contemplar o céu, nada mais desafia tão fortemente a mente humana e os seus limites do que meditar acerca da vastidão do espaço.

Ao questionar o que nos espera nos confins do universo abre-se uma brecha extra-dimensional de imaginação, interrogação e de razão na teia que é o raciocínio humano.

Em relação à insignificância sentida pelo homem ao se dar conta da sua dimensão no universo e da questão subjacente sobre o sentido da existência do ser humano, é de extremo interesse observar a dualidade entre esse mesmo sentimento de insignificância e a grandiosidade da mente humana, que graças há imensidão dos céus, questiona permanentemente as barreiras do seu próprio domínio.

Essa pequenez que sentimos serve para nos apercebemos que a grandiosidade que podemos atingir está para alem das coisas do quotidiano, das coisas do aqui e do agora. Em ultima análise, a dimensão do universo coloca-nos uma dúvida existencial, mas também nos dá a resposta a essa mesma questão.

Se o céu fosse literalmente o limite então nunca os nossos pés levantariam do chão, e aí sim... não existiria razão para a existência do homem.

Anónimo disse...

Há dois meses eu li "O mundo assombrado pelos demônios" de Carl Sagan. As idéias e os debates provocados pelo autor me fizeram como Kant, ao ler Hume, acordar de um sono dogmático. Longe de eu ser um Kant, mas qualquer um pode através de reflexões despertar-se para um mundo novo. Por meio das reflexões deste cientista pude entender melhor o que é a ciência e seu importante papel para a humanidade. Aumentar o entendimento humano do cosmos pela ciência e afastar de si toda a obscuridade, é o caminho que para mim Carl Sagan nos legou.

Anónimo disse...

Henrique Florentino
Infelizmente postei pelo horário do Brasil. Aqui são 23:50. Mas está valendo!

Desidério Murcho disse...

O feliz contemplado é o primeiro comentador, Nuno, que tem agora 24 horas para resgatar o prémio, escrevendo para sorumbatico@iol.pt, indicando a respectiva morada.

É fascinante o antropocentrismo dos comentários. Parece que precisávamos de mais umas centenas de Sagans.

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