domingo, 23 de novembro de 2008

Repensar o Nuclear


Eis um novo texto de opinião de Armando Vieira:

Quem visite o nosso país, e ouça alguns políticos, vai achar que vivemos um período de grande prosperidade. Desde um novo mega-aeroporto, várias linhas de TGV, auto-estradas mesmo ao lado de vias rápidas, há projectos para todos os gostos. Certamente que somos um país rico, dirá um irlandês, um país com apenas algumas dezenas de quilómetros de auto-estradas mas um rendimento per-capita duplo do nosso.

À questão de “serão estes investimentos produtivos?”, o governo responde com a tradicional fuga para a frente. Faz-se e depois logo se vê. No período actual de grande endividamento e proximidade de recessão económica, todos parecem ter dúvidas menos o Primeiro-Ministro. Também, ao contrário dos analistas económicos, parece que raramente ele tem dúvidas e nunca se engana. Sorte a nossa ter chefes de governos tão esclarecidos.

Na verdade existem muitas incertezas sobre o futuro, mas de uma coisa podemos estar certos. O consumo de energia irá aumentar inexoravelmente. Outra coisa que também podemos estar certos é que a actual fonte primordial de energia irá desaparecer dentro de duas ou três décadas. O nosso Primeiro-Ministro irá explicar-nos, com a sua inefável postura de líder omnisciente, que isso está pensado. As energias renováveis serão a nossa resposta ao problema energético.

Seria bom se fosse verdade, mas não é. Para o insaciável apetite por energia do homem, as energias renováveis (solar, eólica, biomassa ou ondas) não passam de meros aperitivos. Hoje representam alguns pontos percentuais do consumo total de energia eléctrica, no futuro poderão chegar a uns meros 10%. Não chega.

Mais grave que isso. As energias renováveis, lamento informá-lo, são caras. Mais caras que as energias convencionais e nalguns casos muito mais caras. O preço do kWh da energia eólica, preço esse subsidiado pelo Estado, é cerca de 20 cêntimos, no caso da energia solar é perto de 50 cêntimos. Enquanto isso a energia paga pelo consumidor é cerca de 10 cêntimos. Não estou a dizer que não se deva investir nas energias renováveis, mas a verdade é que elas são caras e não vão resolver o problema da energia.

Já que o governo parece ter entrado num afã de realizar grandes projectos, existe um que ele poderia de facto realizar e com resultados bem reais na economia. A construção de uma central nuclear para produção de energia eléctrica.

De todas as energias, a nuclear é das que apresenta um menor custo por kWh e que tem maior durabilidade. Os EUA planeiam construir 14 nos próximos anos e a China nada menos de 100. Até a Finlândia, um dos países mais ecológicos do mundo, tem uma central já em construção.

A expressão nuclear faz qualquer ambientalista contorcer-se de inquietude. Eles, e todos os que se opõem a esta forma de energia, deviam rever os seus pressupostos. Os tempos mudaram. Hoje os reactores nucleares são uma forma comprovada de produção de grandes quantidades de energia, livre de dióxido de carbono, mais fiável e independente dos ditames da geografia ou do tempo. Patrick Moore, um dos fundadores do Greenpeace, acabou por se converter à causa nuclear.

Contabilizando todos os encargos, custos de combustível, de capital, de manutenção, e de desmantelamento, o nuclear tem o preço mais baixo de todas as outras formas de produção de energia eléctrica, praticamente igual ao preço do carvão. Porém o carvão é extremamente poluente e, se contabilizarmos os custos devidos à emissão de gases de efeito estufa, o preço da energia nuclear é claramente o mais baixo, menos de metade do preço da energia eólica e 2/3 do preço das centrais de gás natural a ciclo combinado, isto contando que o preço do gás natural não aumente.

Aqueles que argumentam que é muito perigoso podem consultar as estatísticas. O número de vítimas provocadas pela energia nuclear é claramente inferior às infligidas, directamente ou indirectamente, por qualquer outra forma de produção de energia. As centrais nucleares de quarta geração são muito mais seguras e virtualmente à prova de acidentes como o de Tchernobyl. O perigo que corremos por termos duas centrais nucleares em Espanha perto da fronteira, com uma tecnologia já obsoleta, é bem maior que o de construirmos uma nossa.

De uma vez por todas, deixemo-nos de hipocrisias e fobias atávicas quanto à energia nuclear. Se o governo quer fazer um grande investimento, da ordem dos 1500 milhões de euros, ou seja um terço do preço do novo aeroporto, tem aqui um excelente projecto.

Armando Vieira
Professor Coordenador no ISEP

27 comentários:

Manuel Rocha disse...

Percebe-se o argumento do preço, embora se saiba que o que hoje é barato amanhã pode não o ser. O que não fica claro é o potencial de resposta duradoura do nuclear aos paradigmas de consumo instalados e às perspectivas do seu crescimento em linha com os projectos politicos de desenvolvimento da generalidade dos países. Até quando se continuará a pensar o problema da energia apenas pelo lado da sua produção como se o lado do consumo estivesse de saúde e se recomendasse ?

Uma nota final sobre a condição "ecológica" da Filândia. Palavra de honra que adorava ver esse ranking demonstrado. Se a Filãndia, um país que importa quase tudo o que consome, está no topo, quais terão sido os "magnificos" critérios de sustentabilidade da análise ?!

Jorge Oliveira disse...

Bom. Se não estive de acordo com Armando Vieira na questão dos professores, estou agora de acordo na questão da energia nuclear. Mas não totalmente.

A principal divergência diz respeito ao argumento das emissões de dióxido de carbono. É um facto que uma central nuclear não emite dióxido de carbono, mas não será por isso que devemos defender a construção de centrais nucleares. Sobretudo quando não acreditamos que as emissões de dióxido de carbono representem qualquer perigo climático ou ambiental.

Em segundo lugar, não é necessário chegarmos à quarta geração de centrais nucleares para garantir que não se verificará um acidente como o de Chernobyl. Um acidente como aquele não se poderia ter verificado no mundo ocidental, onde não existem centrais com reactores do tipo RBMK e sem condições de segurança, como apenas seria possível num regime ditatorial como era (já não é?) o regime em que vivia a União Soviética.

Em terceiro lugar, não diria que a energia solar não passa de um mero aperitivo. A eólica e outras, talvez, mas a energia solar não pode ser tratada de ânimo leve. A energia oriunda do Sol é a fonte primária de energia de todo o planeta. Aproveitá-la directamente é uma ideia muito defensável. Há que prosseguir na pesquisa de células fotovoltaicas de maior rendimento e de custos mais baixos.

Mas, no essencial, estou de acordo com o autor. A energia nuclear pode e deve ser aproveitada. Não só porque o preço é competitivo com o do carvão, mas até mais por motivos de carácter estratégico. O Ocidente, sobretudo a União Europeia, não pode continuar a depender de fontes primárias como o petróleo e o gás natural com origem em países que não merecem confiança.

Este argumento, por si só, deveria ser suficiente para que os decisores políticos ocidentais enveredassem decididamente pela construção de centrais nucleares, em vez de andarem a brincar às energias eólicas e outras renováveis, incapazes de preencher o cabaz energético de qualquer país.

Mas há outro argumento de carácter estratégico. Quando os motores de combustão interna dos nossos automóveis e camiões começarem a ser substituídos por motores eléctricos, as maciças quantidades de energia eléctrica necessárias para alimentar os acumuladores de energia desses veículos apenas poderão ser obtidas com recurso à energia nuclear.

E quanto à duração dos recursos/reservas de urânio e tório, trata-se de uma questão que não nos tirará o sono durante muitas gerações.

sguna disse...

Nunca deixa de ser engraçado, quando quem crítica os subsídios à energias renovavies, está a argumentar o uso de uma indústria em que practicamente toda I&D foi pago pelo contribuinte!!!

O autor menciona o único reactor em construção na Europa (Olkiluoto - Finlândia). Recentemente este projecto foi descrito assim:

"The utility TVO signed a turn-key contract with the Franco-German consortium Framatome-ANP, now
AREVA NP (66% AREVA, 34% Siemens) to supply a 1600 MW EPR (European Pressurized water
Reactor). The Bavarian Landesbank – the Siemens headquarter is located in Bavaria – granted a loan of €1.95 billion, over 60% of the contract value, at a particularly preferential interest rate of 2.6%. The French public COFACE export credit agency covered an additional €720 million loan. The construction started in August 2005. Two and a half years later the project is over two years behind schedule and at least 50% over budget, the loss for the provider being estimated at €1.5 billion. It remains unclear who will cover the additional cost."

Juros a 2.6% não são subsídios?

Eu não sou contra a energia nuclear, mas se vamos comparar custos, temos que ser justos e realistas.

Jorge Oliveira disse...

Se os subsídios às energias renováveis se limitassem a taxas de juro bonificadas, destinadas a facilitar o investimento na construção dos empreendimentos, estaríamos todos bem.

O que nos faz ficar mal e se torna recusável é a política governamental que impõe à rede eléctrica a recepção de toda a energia produzida por esses empreendimentos, a qualquer momento, e a preços artificialmente elevados, fixados de forma administrativa. Preços que permitem um festim aos promotores e também aos autarcas, não esqueçamos, que cobram uma comissãozinha de 2,5% sobre as vendas.

E nós a pagar. Ou antes, e nós a ficar a dever, porque, não satisfeito com a distorção de mercado que provoca, o Governo, sobretudo o actual, vai muito mais longe na confusão. Passa por cima da Entidade Reguladora (que aceita tudo, coitadinha, desde que lá puseram um presidente à maneira), muda a lei da regulação tarifária, impõe limites ao aumento das tarifas e, relativamente ao valor que fica por pagar à REN e à EDP, arranja o mirífico nome de “défice tarifário”. Não estão sozinhos. Em Espanha fazem o mesmo. Mas com o mal dos outros…

Sucede que o défice vai ser pago em suaves prestações mensais, ao longo de um período que permita atenuar os efeitos no bolso do eleitor pagador. Primeiro era de 10 anos, agora já são 15 porque o défice acumulado vai crescendo. E sabe-se lá como vai evoluir esta trapalhada toda. De garantido, apenas temos a certeza de que, se não formos nós a pagar, serão os nossos descendentes. Uma prática muito socialista.

Claro que a REN e a EDP não se ralam muito com o assunto, porque facilmente titularizam uma dívida que, ao fim e ao cabo, tem o aval do Estado, e vão aos bancos buscar o que falta. Vejamos se agora a crise financeira, com reflexos na liquidez dos bancos, não vai arranjar umas dificuldades às nossas eléctricas. Se os investidores de casino começam a pensar no assunto, lá vêm as acções da REN e da EDP por aí abaixo.

E isto tudo para quê? Para promover a energia eólica ! E para andarem por aí uns agentes de marketing a dizer que somos um país muito evoluído em energias renováveis. Claro, não custa fazer umas piruetas com energias renováveis quando se tem à disposição o bolso aberto dos consumidores de energia eléctrica.

sguna disse...

Caro Jorge,

Quem lê o artigo, fica a pensar que a energia nuclear é muito barata, o investimento não custa nada ao contribuite, nem nunca recebeu/recebe contra-partidas de dinheiros públicos. Ora, a meu ver, isto não corresponde à realidade. Uma vez todos os custos adicionados - construção, desmantelamento, tratamento de resíduos, seguros (mais um subsídio), etc. - a energia nuclear deixa de ser assim tão barata, e isto sem introduzir os apoios para desenvolver a tecnologia, pagos pelo contribuinte, durante os últimos 50 anos.

Anónimo disse...

Concordo plenamente só não percebo porque as companhias de seguros (aqui e em todos os sítios que conheço) excluem sistemáticamente o risco de acidente núclear.

Será que eles sabem alguma coisa que nós não sabemos ou nós sabemos alguma coisa que eles não sabem, ou...não não pode ser.

José Simões

Jorge Oliveira disse...

Caro Sguna

Esses custos todos que enuncia estão contabilizados. Mal fora que não estivessem. Pessoalmente, nunca fiz essas contas, mas daquilo que leio sobre o assunto, a conclusão que tiro é que vale a pena o investimento. Mesmo sem subsídios governamentais.

O que acontece é que voltamos ao tipo de discussão do aquecimento global. Quem está previamente a favor tem mais propensão para acreditar nos trabalhos que favorecem a energia nuclear e quem está contra adopta a posição oposta. Por aí não há nada a fazer. Mesmo com as contas à frente, os detractores arranjarão sempre um argumento contra, sejam os riscos de acidente, sejam os resíduos radioactivos. Paciência.

Pela minha parte sou favorável ao nuclear. Acredito que o preço da energia eléctrica de origem nuclear é compensador. Possivelmente, o nuclear apenas poderá ser batido pelo carvão. Não acredito que os franceses, por exemplo, sejam tão estúpidos que insistam no nuclear daquela maneira, se fosse mais caro do que as outras fontes primárias. Aliás, têm que chegue para eles e ainda vendem para fora.

E não receio os acidentes porque acredito na tecnologia. Acredito também que a construção e operação de uma central nuclear é daqueles casos em que o interesse particular se alinha claramente com o interesse colectivo. Nenhum construtor de centrais nucleares tem interesse em que alguma coisa corra mal.

O que não se admite é que esta questão seja dominada, a nível governamental, pelo politicamente correcto. O actual Primeiro Ministro é de uma arrogância que toca a estupidez quando decide, por conta própria, que “o nuclear não está ‘de’ cima da mesa”.

Como é que um tipo que tem uma licenciatura da treta está em condições de saber se o nuclear é ou não exequível, se é ou não do interesse do país?

John Fritz Von Gato disse...

As centrais nucleares são fixes porque permitem ao pessoal fazer de conta que não vão precisar de poupar na energia, nem investir nas renováveis, nem nada dessas chatices.

Só têm um problema. Onde construí-la? Claro, em qualquer lado desde que não seja no nosso quintal! Por volta de 2450 haverá acordo.

JSA disse...

Estou para saber onde vai Armando Vieira buscar os seus dados para os preços. Segundo a Economist publicou em Junho, o preço do KWh da energia eólica está em 8 cêntimos (de dólar) e ainda em queda:

http://www.economist.com/specialreports/displaystory.cfm?story_id=11565667

Outra questão que em que este post usa de um spin nuclear é na questão da tecnologia. O nuclear tem novas tecnologias e por isso mais baratas e seguras. Quase dá a ideia que a energia eólica, por exemplo, não se está a desenvolver tecnicamente. Segundo o mesmo artigo, as torres eram inicialmente feitas a partir de componentes de barcos. Actualmente são desenvolvidas usando tecnologia inicialmente prevista para a aviação. Mais um ponto é a questão da central incompleta. Uma central nuclear demora anos a ser terminada e só funciona se todos os seus componentes estiverem prontos. Uma "central" (ou parque) eólica está a gerar electricidade a partir do momento em que a primeira torre estiver ligada à rede. E se estiver 50% incompleta apenas significa que está a gerar 50% da electricidade prevista, enquanto que a central nuclear está a gerar 0%.

Quanto à solar, essa sim, estava na casa dos 20 cêntimos de dólar HÁ 3 ANOS (2005) e em tendência decrescente. No final deste artigo da Economist:

http://www.economist.com/specialreports/displaystory.cfm?story_id=11565636

Aparecem empresas que argumentam serem capazes de trazer o preço para os 8 ou 5 cêntimos de dólar. É naturalmente marketing das empresas, mas certamente que esperar que os preços caiam para a casa dos 10 cêntimos não seria estranho.

Patrick Moore rendeu-se, tal como Lovelock, ao nuclear. Mas são tão exagerados na defesa do seu novo bebé como o foram na defesa do antigo. Agoram tratam o nuclear como uma "silver bullet" que é panaceia pra todos os males da energia. O grande problema da energia nuclear é que não pode resolver tudo só por si e nem poderemos esperar tal coisa dela. Pode ser parte da solução, mas colocar fé na energia nuclear é andar a pensar em acabamentos de luxo numa casa que ainda nem sequer tem isolamento térmico. E é disso que se trata. A ineficiência energética (que em Portugal é gritante) ainda não começou a ser resolvida e trataria de baixar drasticamente o consumo. Por outro lado, uma rede energética integrada (em que as casas pudessem ter uma turbina pequena e uns painéis solares para aproveitamento doméstico) permitiria que as próprias casas pudessem vender energia à rede em períodos em que não a utilizassem (imagine-se uma casa durante o dia, a acumular energia solar e eólica porque ninguém lá está e depois a vender parte dessa energia de volta à rede, isso não é eficiente?).

Isto tudo sem contar com os futuros desenvolvimentos em energia das marés:

http://www.economist.com/science/tq/displaystory.cfm?story_id=11482565

ou outras eólicas:

http://www.economist.com/science/tq/displaystory.cfm?story_id=11482484

Em relação ao nuclear, ainda estou céptico em quanto é que é a participação dos subsídios ou créditos estatais no preço do KWh. Também me pergunto sobre qual a participação estatal na construção e desmantelamento das centrais.

Além disto, há dois pontos a salientar no post.

1. Tenho a certeza que antes de Tchernobil e Three Mile Island também se dizia que as centrais nucleares eram «virtualmente à prova de acidentes». Por outro lado, dizer que já existem centrais em Espanha e que corremos riscos por elas é o equivalente a dizer: já temos assassinos na cidade ao lado, por isso estamos em risco. Vamos lá libertar então os outros, que só estamos a gastar dinheiro com eles e estes já foram reformados. Além disto, há que contar que qualquer acidente que possa suceder é potencialmente muito mais perigoso que os acidentes de outras centrais (mortes directas e indirectas e áreas contaminadas).

2. A poluição. Certo, não há libertação de CO2. Mas existem resíduos. E que se faz a esses? Enterram-se à espera de melhores dias? Parece-me ser uma solução algo ridícula, para dizer a verdade. E há ainda a poluição térmica, a qual é constantemente ignorada. Estas centrais exigem muit mais água para arrefecimento que as restantes, o que significa que reenviam a água para os seus cursos naturais (lagos ou rios) a uma temperatura superior à normal. Isso provoca redução da concentração de oxigénio e a morte de muita fauna. Isto pode parecer trivial mas não é.

Repito, deve discutir-se o nuclear, mas com cabeça. Este post (além de citar valores falsos) faz o nuclear parecer a solução apra todos os males. Isso só nos fará esquecer o desenvolvimento de outras alternativas.

Jorge Oliveira disse...

Uma das vantagens da energia nuclear é que o preço da energia eléctrica produzida é pouco sensível ao preço de mercado do urânio.

Ainda que o preço do urânio duplicasse, o custo do material cindível aumentaria apenas 26% e o preço da electricidade apenas 7%.

Em contrapartida, uma duplicação do preço do gás natural aumentaria 70% o preço da energia eléctrica produzida.

E depois basta ver em que países se encontram as principais reservas de urânio e as de gás natural...

Miguel Cruz disse...

O argumento mais utilizado pelos que defendem a energia nuclear é a questão do preço da energia. É bastante mais barato produzir energia nuclear do que outra forma de energia... É mais barato, desde que não sejam contabilizados os custos para nos desfazermos dos resíduos nucleares produzidos pelas respectivas centrais. Esses resíduos podem ser lançados ao mar ou enterrados algures no Alentejo ou em Trás-os-montes... mais deserto menos deserto... Esta é uma questão séria. Não podemos fingir que o nuclear não tem custos. As pessoas têm que se habituar a que a energia é um bem caro e que, tal como o ambiente, tem que ser poupado. O nuclear não é uma energia barata. Tem custos elevadíssimos para nos desfazermos dos resíduos. Custos de saúde para que fique perto dos cemitérios nucleares e custos monetários para fazer com que ninguém fique perto deles. E onde colocariam a central? Em Lisboa ou Porto, visto ser aí que se concentra o consumo??? Claro está que a mesma iria parar ao já referido Alentejo ou Trás-os montes. Já que é deserto vamos lixar os poucos que lá moram!!! Nuclear Não Obrigado!!!

Jorge Oliveira disse...

Os custos de armazenamento dos resíduos radioactivos ou estão, ou não estão, contabilizados.

Num contexto de contestação do nuclear, ignorar ou esquecer essa parcela fragilizaria excessivamente a posição dos adeptos do nuclear. Por isso, mesmo sem ver as contas, torna-se "very likely" (à la IPCC) que essa parcela esteja incluida.

Por outro lado, será que o armazenamento dos resíduos representa mesmo um custo? Sabendo-se que esses resíduos contêm ainda enormes quantidades de energia, que num futuro próximo podem ser aproveitadas em reactores regeneradores, não seria melhor falar em investimento...?

sguna disse...

Caro Jorge,

Eu não disse que era contra este tipo de energia. Apenas apontei, a meu ver, lacunas no artigo altamente parcial.

Quanto aos custos contabilizados, bem eu também posso contruir uma ponte, antes de começar digo-lhe que custa 10, e no fim apresento-lhe uma conta de 20. Ora, isto nunca acontece em Portugal!!! Como exemplo concrecto temos o custo de desmantelamento de centrais no Reino Unido, em que o orçamento é sempre revisto em alta! Além do exmplo do terceiro reactor em Olkiluoto.

Isto não se trata de preferências clubísticas, trata-se de ser objectivo. Se acha que não o estou a ser, por favor corrija-me.

Nuno disse...

Para quê construir centrais nucleares, eólicas, solares ou hídricas se existe em Portugal um potencial imenso para a conservação de energia ?

Se o argumento é económico vamos esbanjar dinheiro em centrais quando podíamos reduzir o nosso consumo doméstico e aumentar a eficiência da rede e equipamentos "conquistando" assim mais potência do que a que hipotéticamente passaríamos a produzir em excesso por este ou outro meio??

Conservação e eficiência são a solução.
Não façam os meus impostos pagar meios para manter o desperdício comodista da maioria!

Já agora de que buraco brota o urânio? Do maior desastre ecológico de sempre em Portugal que foi a Urgeiriça ou de um país do 3º mundo que não interessa para nada??

O problema é que o português prefere gastar dinheiro e falar de soluções mágicas e fáceis (mas o barato sai caro) do que alterar o seu comportamento e educar-se...

Jorge Oliveira disse...

Caro Sguna

Eu comecei por apontar as minhas divergências em relação ao artigo. Penso que fui suficientemente objectivo na defesa das centrais nucleares. Acredito na energia nuclear e não tenho qualquer interesse material na construção de centrais nucleares. Julgo que não me vale a pena dizer mais nada.

Em defesa da Escola Publica disse...

Caro Jorge:

Só por curiosidade, se fosse o senhor a fazer uma Central Nuclear em Portugal, onde a colocava? Qual seria a água que usaria para arrefecer? E onde iria colocar os resíduos?

E, já agora, onde vive exactamente?

Jorge Oliveira disse...

Colocaria a central nuclear no sítio que fosse determinado pela equipa de trabalho nomeada para o efeito.

E o local onde vivo não tem nada a ver com o assunto.

Com argumentos destes, não se vai a lado nenhum. Ou antes, prova-se que muitoos dos detractores do nuclear não têm argumentos.

LJ disse...

Caro Jorge.
A questão do nuclear vem repetidamente à baila e sempre com argumentos inquinados e sem critério de exclusão..

Fala em frança e finlandia, estados unidos e china. Países com dimensões muito superiores à nossa e com uma infraestrutura já instalada.

ora, como pode calcular, se você tem 100 centrais o custo marginal de mais uma é irrisório. se não tem nenhuma a questão já não é bem assim.

tem de lhe adicionar todo o custo
- das infrastruturas necessárias.
- extracção de minério, enriquecimento, acomodamento de todos os custos ambientais e de segurança para esta extracção,
- construção da central mais as acessibilidades, e redes de alta tensão redundantes,
- estrutura de backup da central
(e portanto para reactores com 1500 mw de potencia, como raio vai fazer o backup sem mais um grupo gerador ou outra central termoelectrica ali mesmo ao lado?),
- formação de todos os técnicos e pessoal envolvido a partir do zero! ,
- estrutura de fiscalização e segurança independente igualmente a partir do zero, e mais uns quantos funcionários públicos pagos a peso de ouro para fiscalizar uma única estrtura e empresa!. (está-se mesmo a ver a independencia a manter-se...)
- e a questão dos resíduos.. tratamentos, acomodação e final enterramento em algum lado que os nossos herdeiros após mil gerações continuam sem poder chegar-se perto ou beber água ou alimentos daquela zona..

portanto, faça lá essas continhas todas de novo e agora conte com estes custos que têm de ser contabilizados para um país sem infra estrutura na área e não com os dados que apenas entram em conta com o custo de produção marginal de mais uma central.

é que as questões e situações são diferentes e poratnto nãos e pode confudir a nossa situação com a deles. tal como o tipo de soluções que nós temos não se aplicavam às seichelles por exemplo, independemente da validade das mesmas.



agora à segunda parte do seu argumento.
diz que o consumo de energia vai sempre crescer. discordo. o consumo de combustível do seu carro tem vindo a crescer nos últimos 50 anos?
o consumo de energia do mundo vai aumentar por questão de número de população, mas isso não quer dizer que localmente, à escala do nosso país não diminua por questão de eficiência, avanço tecnológico ou simples exclusão da necessidade.

segundo, novas maneiras e estruturas e formas de pensar têm de ser desenhadas e aplicadas para lidar com a escassez de fontes de energia "convencional" e o crescimento de população e riqueza do resto do mundo. agora, aqui temos duas soluções.
ou seguimos a sua e ficamos dependentes do exterior em tecnologia, e eventualmente em combustível se tentar cortar nos custos acima referidos,
ou seguimos a nova solução e tentamos nós, à nossa escala aplicar fontes de energia infinitas e renováveis, criar a tecnologia para exportar e ser energéticamente sustentáveis e independentes.

parafraseando a expressão de um certo judeu de há 2000 anos, o caminho mais fácil nunca é o melhor!
que acha?

Jorge Oliveira disse...

Acho que você, caro Lord Jeremias, está no seu pleno direito de não querer centrais nucleares. Mas convinha que lesse bem o que escrevi antes.

O aumento brutal do consumo de energia eléctrica é inevitável, porque vai substituir a energia dos combustíveis líquidos com que enchemos os depósitos dos nossos automóveis e camiões.

Quanto aos aviões, sinceramente, ainda não tenho solução. Mas, o que acha?

LJ disse...

acho que mais uma vez discordo! ;)

concordo consigo no aumento do consumo de energia eléctrica em virtude da substituição de combustíveis líquidos por electricidade. mas o aumento não será assim tão sgnificativo que um novo sistema de produção e distribuição não possa acomodar.
sem dados e modelos nenhum de nós pode obviamente ter 100% de certeza nisso admito.

da energia primária que é usada em veículos a ciclos de combustão, só na conversão em energia eléctrica pode ter um ganho de 66% visto que o rendimento energético dos ciclos de combustão usados oscilam entre os 20% e os 40%, façamos a uma média optimista de 33% .
logo só precisaria de 33% de electricidade equivalente à energia hj gasta em conbustíveis fósseis.as percas em transmissão não são assim tão significantes.

as centrais de electricidade a ciclo combinado têm 55% de eficiencia, logo aí temos um ganho e ainda em combustiveis fósseis. as fontes renováveis não se pode por a questão deste modo, sendo antes o limite financeiro/recursos da sua produção.

portanto não sei se poderemos comparar, sendo apenas uma questão de limite de produção com os nosso recursos endógenos. e aqui não creio que ambos tenhamos dados a favor ou contra dos limites de produção.

outra questão é que sendo os veículos eléctricos, a eficiência do proprio veículo aumenta, devido À recuperação de energia de travagem e redução de peso (dependente isto das tecnlogia de baterias claro.) quantos % de consumo de energia primária é que poderemos aqui recuperar?

assim sendo, e assumindo simplisticamente que os 80% da energia primária em portugal que não vão para electricidade vão para transportes teriamos um aumento para o dobro do consumo de electricidade nas situações actuais. (.8*.3=.24)
se conseguirmos também meter no mix reduções em consumo de electricidade nas habitações, equipamentos mais eficientes, melhor optimização das construções e melhor aproveitamento dos recursos exisitentes nos locais, quando não poderemos também reduzir no consumo de electricidade doméstico?


creio que as premissas da nossa discorda é que você está a propor uma solução para mantermos o "sistema" e modo de vida tal como ele está e eu falo em querer mudar tudo (ah juventude arrogante...) .
não houve até hj nenhuma revolução energética que não tenha alterado totalmente a maneira como vivemos, não percebo porque haveria de ser esta, sem dúvida a mais perigosa de todas a não acarretar essas alterações de modo de vida.

essas alterações podem reduzir ainda mais o consumo do nosso modo de vida e adequá-lo às capacidades de produção das fontes renováveis.

mas como disse anteriormente, mesmo a energia nuclear não é infinita. porque investir numa tecnologia meramente transitórias se podemos desde já lançar as bases para um novo mode de vida sustentável com tencologia "made in portugal"?
cumprimentos,
Filipe S.

Oscar Maximo disse...

Sabendo-se que o mercado de lítio está apertado e metade das reservas estão num só local, como é que será obtido o suficiente quando forem usadas baterias muito maiores em numero e capacidade?

Jorge Oliveira disse...

Caro Lord Jeremias:

A sua argumentação é curiosa. Os detractores do nuclear costumam dizer (e muitos deles dizem-no sem receio de serem apelidados de mentirosos, porque geralmente estão perante ignorantes na matéria) que a energia nuclear não tem interesse nenhum em Portugal porque apenas cobriria a produção de 20% do consumo eléctrico e como a electricidade representa apenas 20% do consumo total de energia do país, a energia nuclear apenas asseguraria 4% do consumo total. Para eles não vale o trabalho.

E até se dão ao divertimento de explicar que o maior consumo de energia do país se verifica nos transportes. Ah, os transportes e os combustíveis líquidos, claro, como é que o pessoal não se lembrou disso...?.

Por isso, meu caro, desculpe lá que lhe diga, os seus argumentos são pouco credíveis. Será melhor dizer, de uma vez por todas, que não quer o nuclear, nem pintado. Assim como assim não me convence, nem eu a si. Escusamos de perder tempo com isto.

JSA disse...

Pergunto-me porque razão me dou ao trabalho de escrever comnetários mais longos e minimamente fundamentados como o de cima quando depois ninguém liga a uma discussão minimamente séria.

João Vaz disse...

Nuclear, não obrigado.
Desperdiçamos mais de uma central por ano, só em iluminações públicas ineficientes, casas mal construídas, aparelhos mal regulados, ares condicionados a funcionar com a porta do estabelecimento aberta para o exterior...etc. Mais produção de energia, cara ou barata, significa apenas um maior grau de comodismo e obesidade. Deveríamos ser mais adultos e responsáveis e parar de querer sempre mais e mais...enfim, minimizar a ganância e procurar seremos felizes com o muito que já temos.

Nuno disse...

Amen, João Vaz.

Inacreditável a aposta nestas "balas mágicas" nucleares para se justificar este comodismo e desperdício.

Desidério Murcho disse...

Desamen, Miguel Vaz. Por que raio hei-de querer andar a poupar água ou energia se posso ter muita? A questão é saber se realmente posso ter muita água e energia. Cantar louvores à vida estóica de poupança é uma tolice, com todo o respeito que me mrecerem os ecologistas, que é nenhum.

carolus augustus lusitanus disse...

Este último «post» é sem comentários... e valia a pena reler a cartilha de «Apresentação», para ver se ele tem cabimento aqui.

NOVA ATLÂNTIDA

 A “Atlantís” disponibilizou o seu número mais recente (em acesso aberto). Convidamos a navegar pelo sumário da revista para aceder à info...