quinta-feira, 15 de maio de 2008

Chumbar é retrógrado?

Sobre o "fim dos chumbos", transcrevemos excerto de um texto de opinião de Santana Castilho publicado no "Público" de ontem:

"A propósito da recente conferência internacional sobre o ensino da Matemática, ocorrida em Lisboa no quadro do PAM (Plano de Acção para a Matemática), a inefável ministra veio dizer que o insucesso escolar custa ao Estado 600 milhões de euros. Mas não disse como chegou a esse número. Tendo por referência os 7093,8 milhões de euros que constituem a totalidade da dotação do seu ministério, dificilmente se aceita tal valor como razoável. Mas lá que serve para defender o fim dos chumbos (não me admirarei se o vir decretado a breve trecho) serve. Da torrente de declarações públicas em que a ministra tem sido pródiga após o "entendimento", duas são autênticas pérolas: "facilitismo é chumbar, rigor e exigência é trabalho" e "os chumbos são um mecanismo retrógrado, antigo". Subjacente a esta demagogia está, mais uma vez, uma acusação implícita aos professores que chumbam os seus alunos. Qual é o modernismo que a ministra opõe ao que qualifica de retrógrado e antigo? Entendamo-nos: a missão da escola é ensinar a todos os alunos que a demandam aquilo que está previsto. Mas a sua responsabilidade também é certificar, para utilização da sociedade, o conhecimento que os jovens aí adquirem. Dizer que o possuem sem o terem é uma fraude. Ora o discurso demagógico e pouco claro da ministra, a este propósito, parece fazer a apologia dessa fraude. O problema de gestão educacional com que nos confrontamos é o de saber como fazer para que cresça o número dos que realmente aprendem o que é suposto aprender e não abolir os chumbos, por serem retrógrados. Muito do que politicamente este Governo tem decidido não se orientou para a maior e melhor aprendizagem dos alunos."

4 comentários:

Rui Baptista disse...

Há que ter a coragem de criticar construtivamente. Espero que este texto encontre eco em quem de direito. Errar é humano, persistir no erro é teimosia. A Educação dos jovens bem merece não estar ao sabor de conveniências ocasionais ou diagnósticos a olho nu... Bem pelo contrário, merece uma acção concertada dos seus responsáveis públicos.

Fernando Gouveia disse...

"Facilitismo é chumbar" é um bom exemplo de 'newspeak' eduquês...

Armando Quintas disse...

o ensino e a educação está a saque neste país com as tretas dos pedagogos do ministério da educação.
Agora chumbar passa a ser retrogado, afinal para que serve a escola?
Passa-se a ensinar e já n a avaliar?
Então estamos a formar burros, bichos e selvagens não pessoas instruidas.

Viva às modernices do pós modernismo!

Rui Baptista disse...

Na verdade, prezado Armando Quintas, está cheio de razão. Bem nos avisou, atempadamentre, Francisco de Sousa Tavares (cito de memória): "Dantes Portugal era um país de analfabetos, hoje é um pais de burros diplomados". Ou seja, estamos bem pior: o analfabetismo combate-se com o alfabetismo. A burrice sancionada oficialmente não tem cura possível num país em que só falta decretar-se a proibição de chumbar os alunos.

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