segunda-feira, 28 de abril de 2008

Charlatanices, pseudo-ciência e pós-modernismo - II

Como já referi, no dia seguinte à constatação pelo Ludi de que é complicada «a refutação detalhada das patranhas que eles [criacionistas] despejam» tive uma experiência «mística» e hilariante noutro debate que me permitiu confirmar a origem pós-moderna das banhas da cobra e pseudo-ciências que insistem em explorar o desconhecimento alheio.

Na sequência da minha (mui) breve intervenção no programa do provedor do telespectador da RTP, fui contactada por uma jornalista do RCP para saber da minha disponibilidade em elaborar o que pensava sobre astrologia agora aos microfones desta rádio. Claro que estava disponível e só uns dias depois fui informada que estaria igualmente no estúdio um «astrólogo».

A gravação do programa foi uma revelação! Apesar de um certo bias da jornalista, que se fartou de repetir qual mantra também «acreditar» em ciência, compensado pelo bom senso de Rui Mendes, o actor que connosco partilhou as ondas hertzianas, diverti-me imenso durante a cerca de uma hora que lá estive. De facto, nunca vira alguém debitar ao vivo um discurso completamente vazio mas repleto de palavras «caras», sem qualquer sentido e tão irracional quanto o da homeopateta do vídeo anterior - embora o astrólogo que me saiu na rifa não atribuisse a partículas youees as formas de energia desconhecidas com que recheou a prosa decorada dos cartões sortidos que o acompanhavam!

O «astrólogo» parecia saber que o dogma central da astrologia fora definitivamente arrumado na prateleira das banhas da cobra por um estudo que acompanhou ao longo de 50 anos mais de 2000 «gémeos temporais». O estudo verificou o que qualquer pessoa racional já sabia, sem necessidade de confirmação experimental: as nossas características, destino, etc., não sofrem a mínima influência da posição que calhaus ou globos de gás ocupam na treta que dá pelo nome de «carta astral ou astrológica».

Assim, depois de nos explicar que se virara para a astrologia devido a sentimentos de desadequação e inadaptação ao mundo, esforçou-se imenso por reiterar que, embora não fosse ciência, a astrologia não era charlatanismo embora existissem muitos charlatães a praticar a «profissão».

O que era então a astrologia que não é ciência para Nuno Michaels que não é «charlatão»? Bem, ouvi estupefacta um crescendo de dislates que começaram New Age e terminaram pós-modernos, com direito a leituras, dos tais cartões, de citações de Boaventura Sousa Santos, o grande argumento de autoridade que «legitimava» epistemicamente a astrologia.

Considerando que a maioria dos ouvintes da RCP não deve ter grande traquejo para pós-modernices misturadas com patetadas New Age só posso esperar que muitos tenham percebido que ler o horóscopo ou consultar um «astrólogo» é um disparate total. De facto, diria que ficaram completamente mistificados ao ouvir o «astrólogo», que não conseguia explicar o que cargas de água era a astrologia que não tem contraparte física, isto é, não tem nada a ver com a posição de calhaus num qualquer mapa «celeste». Bem, de contradição em contradição o astrólogo lá deixou escapar referência à «Lei Cósmica da Correspondência Sistémica» (???) que supostamente une todos os sistemas do Universo - por vibrações, claro, embora por muito que eu tentasse não conseguisse descobrir que cargas de água eram as vibrações atribuídas, por exemplo, a Plutão e se estas seriam diferentes se Venetia Burney se tivesse lembrado de outro nome menos... simbólico para o ex-planeta. Também não consegui perguntar-lhe porque razão são irrelevantes as «vibrações» de Ceres, muito maior que Plutão ou mesmo Mercúrio.

A tirada semiótica que se seguiu deixou-me morta de riso: achei divertida a confirmação de que a astrologia usa simbolicamente os planetas (como poderia usar búzios, tarot ou outra coisa qualquer) para esclarecer, de forma igualmente simbólica, isto é, completamente arbitrária, as angústias que a sociedade fria e científica provoca nos consultantes.

Embora não me recorde exactamente dos termos desta tirada - é humanamente impossível alguém recordar na íntegra aqueles longos minutos de prosa vazia, pomposa e sem sentido - os meus apontamentos, que utilizei para o interpelar das poucas vezes em que tive direito de palavra, permitiram-me localizar algumas das pérolas redondissimas utilizadas na sebenta de Semiótica - «A linguagem, a verdade e o poder - Ensaio de Semiótica geral», de Moisés Martins. O Pedro Romano transcreveu alguns excertos da dita sebenta no seu blog, nomeadamente a parte que se segue, debitada no geral se não mesmo nos pormenores pelo «astrólogo» e em que semiótica foi substítuida por astrologia:

«A semiótica visa uma antropologia estrutural do imaginário (no seu sentido metapsicólogico) humano. Ora esse imaginário é assemântico ou não subjectivado. A matéria prima da Semiótica é uma substância que não é uma substância de conteúdo, mas um puro medium imaginário entre a regulação biológica e a idealidade, indizível, do absoluto. Se o conceito de estrutura é o conceito formal de base da semiótica, o do imaginário como carne é o seu conceito substancial de base».

Os ouvintes nesta parte já se deviam interrogar sobre que raios estaria o senhor a falar que muitos pensariam certamente ser sobre algo completamente desconhecido. As citações ao roubo do fogo sagrado por Prometeu (esqueceu-se do funcho) e o elogio a Platão e seus arquétipos poderiam ter enganado os mais incautos como sendo referências filosóficas mas na realidade foram uma elegia literal aos arqué de Empédocles.

De facto, parece que a astrologia «é uma dinâmica de Ascenção [sic, descobri que astrologia e ortografia não rimam], activada pela inter-relação dos Elementos: o Fogo, a Terra, a Água e o Ar», ou seja, esta gente quer ainda recuperar a alquimia. Ou antes, vende a sua banha da cobra como «o Projecto Alquímico que cada um de nós traz ao nascer, contido nas tensões do seu Tema Astrológico». Não sei se estas tensões rimam com vibrações mas não faltaram para compor o ramalhete termos como «holística» , dicotomias «visível» -«invísivel», «heranças energéticas», «energias específicas» e demais tretas. Assim como não faltou um esperado ataque à ciência e um elogio aos pós-modernistas em geral (Boaventura Sousa Santos em particular foi louvado como um profeta da boa-nova) que tanto contribuem para o sucesso de toda a espécie de charlatães e vendedores de banhas da cobra.

De facto, os grandes aliados do criacionismo e de todos os charlatanismos pseudo-científicos/alternativos são o eduquês e o pós-modernismo. O eduquês porque se devota a formar analfabetos científicos e também porque , sem qualquer surpresa, o discurso oco de ambos se confunde e muitas vezes se acumula num mesmo «especialista».

Steve Fuller, o «esquerdista pós-moderno» arregimentado pelos apóstolos do Discovery Institute para depor a favor do Desenho Inteligente no julgamento de Dover é um exemplo dessa coligação. Para Fuller, tal como para os eduqueses, a ciência não é neutra, é um instrumento de opressão e, com um discurso familiar aos que leram o post «Química no ensino básico: quem nos liberta desta cruz», rejeita «a epistemologia clássica» que considera «uma forma encoberta de distribuir poder».

O Carlos, a Helena, eu própria e o Desidério já abordámos o relativismo pós-moderno que basicamente assenta na presunção de que a ciência tem tanto valor epistémico quanto os delírios de qualquer feiticeiro tribal. Pessoalmente concordo em pleno com o filósofo alemão Jürgen Habermas que relaciona o conceito de pós-modernidade a tendências políticas e culturais neoconservadoras, determinadas em combater os ideais iluministas.

De facto, graças aos ideais iluministas houve espectaculares avanços civilizacionais e científicos nos últimos 250 anos. Na ética, na política, no direito, no conhecimento e nas metodologias. Estes avanços deveriam impor ao nosso intelecto a disciplina do pensamento crítico e da comprovação prática da validade de uma qualquer afirmação. Foi assim que a ciência e com ela a nossa civilização avançaram. Todavia, os estragos operados pela transposição para as nossas escolas e media da verbosidade mística dos apóstolos do pós-modernismo e do eduquês permitiram que qualquer charlatão possa afirmar o que quer que seja sem recear que lhe peçam qualquer comprovação (especialmente se disfarçar a vacuidade do discurso num palavreado impenetrável, aparentemente muito «intelectual», com muitas mensagens de paz, amor, tranquilidade e preocupação com a natureza e esgrimindo que há formas alternativas de conhecimento se tudo o resto falhar).

No livro «Pós-modernismo, razão e religião», de 1992, Ernest Gellner refere-se ao pós-modernismo da seguinte forma:

«O pós-modernismo é um movimento contemporâneo. É forte e está na moda. E sobretudo, não é completamente claro o que diabo ele é. Na verdade, a claridade não se encontra entre os seus principais atributos. Ele não apenas falha em praticar a claridade mas em ocasiões até a repudia abertamente...».

Gellner rejeita, como qualquer pessoa de bom senso - e mesmo o mais empedernido pós-moderno não usa telepatia em vez de telefone ou rezas em vez de medicamentos-, que uma afirmação factual, quer científica quer mitológica ou mágica tenha o mesmo valor epistémico e só possa ser considerada verdadeira ou falsa em relação a uma determinada cultura. Um portátil funciona da mesma maneira em Ouro Preto e em Osaka; afirmar que o oxigénio, O2, no seu estado fundamental, é uma espécie paramagnética é a constatação de um facto que tem o mesmo valor epistémico aqui, no Afeganistão ou na China. Como continua Gellner:

«O mundo em que vivemos é definido, acima de tudo, pela existência de um sistema de conhecimento único da natureza, instável e poderoso, e pela relação corrosiva e conflituosa que mantém com outros conjuntos de ideias ("culturas") que orientam a vida dos homens.(...)

Existe um conhecimento externo, objectivo e que transcende a cultura: existe, de facto, um "conhecimento para além da cultura." (...) A faculdade, inerente à cognição, que lhe permite ultrapassar as fronteiras de um qualquer casulo cultural e atingir formas de conhecimento válidas para todos - e, consequentemente, um entendimento da natureza que resulta numa tecnologia extraordinariamente poderosa - constitui o facto crucial das nossas condições sociais comuns».

Esta faculdade inerente à cognição que nos permite transcender limites étnico-culturais é estrangulada quer pelo pós-modernismo quer pelo eduquês, que, sob a capa do multiculturalismo e respeito pelas diferenças, na prática aprisionam os membros de uma dada «comunidade cultural» ou social. A experiência do Ludi e a minha são apenas gotas de água que reforçam ser urgente que, para além de acendermos muitas velas de Sagan, não esqueçamos sobretudo o aviso de Joe Kaplinsky: «quando o criacionismo [a que acrescento patetadas como a astrologia] pode vestir-se de 'pensamento crítico' deveria ser evidente de que não é apenas com os fundamentalistas cristãos que precisamos preocupar-nos - é com todo um sistema educacional imbecilizante!»

24 comentários:

alf disse...

Uma pergunta à autora: alguma vez estudou alguma coisa de astrologia? Ou aceitou participar num debate sobre um assunto que ignora?

Creio que não terá estudado astrologia; se o tivesse feito, saberia que as caracteristicas que a psicologia estuda nas pessoas não são as mesmas que interessam à astrologia; e que esses estudos que presume científicos são baseados exactamente nessas características que nada interessam à astrologia.

Seria um mínimo exigir que esses estudos científicos se debruçassem sobre as caracteristicas astrológicas, não é? Assim, teremos de concluir que se tratam simplesmente de fraudes realizadas por cientistas.

Note que eu não estou a defender esses astrólogos que pululam por aí. Tudo o que diz a respeito deles está certo. Estou só a chamar a atenção para que um cientista não deve dar opiniões sobre um assunto que desconhece.

Experimente passar os olhos em um ou dois desses livros que procuram caracterizar o comportamento duma pessoa em função do seu signo solar... no mínimo ficará a conhecer muito mais sobre o ser humano e sobre as diferentes maneiras de entender a vida.

Palmira F. da Silva disse...

Caro Alf:

Não há nada a estudar em astrologia e restantes banhas da cobra: não passam de puras invenções sem qualquer suporte empírico, não importa quantas palavras bonitas vão buscar «emprestadas» à psicologia, etc.. para explorarem os mais incautos.

As banhas da cobra existem porque há quem ganhe (muito) dinheiro com elas e porque há quem acredite nelas e as crenças são quase sempre mais fortes que a razão.

Pensaria que bastaria ler dislates como:

A linguagem da Nova Era é uma linguagem que pressupõe o entendimento das Leis que regem o comportamento das energias. A Ciência Esotérica ensina que este entendimento se deve à acção do 7º raio, o raio que actualmente “baixa” sobre o Planeta. Todo o Universo se traduz em jogos de energias, ondas, partículas, inter-acções vibratórias… As ondas mais rápidas, as “altas frequências” manifestam-se como Luz, as mais lentas e pesadas, como forma e matéria… mas voltando a Neptuno: quando falamos deste Planeta, estamos a falar do Planeta com frequência mais rápida. Esse que já vibra na Luz, Neptuno simboliza o amor incondicional, o apelo à Unidade da Vida, de todas as Vidas.

para alguém minimamente habituado a dar uso crítico às sinapses se aperceber o que é de facto a astrologia: uma banha da cobra velha que procurou nova roupagem New Age amalgamando os ingredientes da velha astrologia com psicologia e misticismos sortidos, nomeadamente o hermetismo que inspirou O Segredo.

Mas qualquer que seja a roupagem não passa de banha de cobra...

Jorge Oliveira disse...

“as crenças são sempre mais fortes do que a razão”.

É uma verdade, que resulta de haver mais gente estúpida do que inteligente.

Mas os que ganham dinheiro a vender banha da cobra aos crentes não parecem ser estúpidos. Ora, se não são estúpidos, serão os primeiros a não acreditar na banha da cobra. Compreende-se que não o admitam em público, porque isso é o segredo do negócio. Mas em privado, ou mesmo no fim da vida, em que já nada teriam a perder, não poderiam revelar as aldrabices com que andaram a enganar os crentes?

Pelo menos alguns deles poderiam ter um rebate de consciência. Mas não consta que isso aconteça, o que nos leva a supor que eles próprios acreditam no que dizem. Nesse caso seriam estúpidos. Parece uma contradição, pelo que talvez tenhamos de admitir que, quer a estupidez, quer a inteligência são atributos que ainda não estão muito bem identificados.

Ricardo disse...

Impressionante o senhor alf. Isto é o que diz o estudo:

"Researchers looked at more than 100 different characteristics, including occupation, anxiety levels, marital status, aggressiveness, sociability, IQ levels and ability in art, sport, mathematics and reading - all of which astrologers claim can be gauged from birth charts."

Com que então isto são "caracteristicas que a psicologia estuda nas pessoas", e "não são as mesmas que interessam à astrologia"? Então que categorias interessam à astrologia, se é exactamente sobre estas que os astrólogos se pronunciam sempre?

Esta ideia espantosa que indicia que conhecer astrologia é acreditar em astrologia é por demais idiota. Cada um julgue por si...

perspectiva disse...

Estimada Palmira

Antes de satirizar a astrologia (também repudiada pela Bíblia por assentar numa visão naturalista do mundo) devia examinar a relação entre alguns conhecidos evolucionistas e os astros.

Tudo visto, observa-se que não andam longe da astrologia que tanto criticam.

Francis Crick descobriu a estrutura do DNA (juntamente com James Watson), tendo deparado com informação codificada diante dos seus olhos, cuja origem só pode ser inteligente.

Mas como Fancis Crick era um naturalista, não estava preparado para aceitar que Deus é a origem da informação codificada no DNA.

Daí que tenha derivado para caminhos tortuosos e absurdos.


No seu livro Life Itself: Its Origin and Nature (New York: Simon and Schuster, 1981), Francis Crick sustentou a teoria da panspermia, segundo a qual os extraterrestres vieram de nave espacial semear a vida no planeta Terra.

Para ele, a probabilidade de a vida surgir por acaso era zero.

Mas ele também não queria admitir que Deus fosse o Criador da vida.

Daí a sua fuga para o espaço.

É assim que se compreende que ele tenha dito, e passamos a citar, ‘that life on earth may have begun when aliens from another planet sent a rocket ship containing spores to seed the earth.’

É evidente que ele via muitos filmes de ficção científica a ponto de confundir a ficção com a realidade.

Também é claro que Francis Crick não explicou de onde vieram esses aliens.

Empurrou o problema para os confins do espaço e do tempo.

No entanto, a sua teoria alienígena é considerada por muitos como científica, quanto mais não seja por ter sido proposta por um evolucionista (ainda que um evolucionista suficientemente realista para saber que a vida não surge por acaso).

Curiosamente, há poucas semanas atrás Richard Dawkins também veio admitir que a vida poderia ter sido introduzida na Terra por extraterrestres!!

Quanto a Carl Sagan, basta ler os seus livros Contact e The Cosmic Connection e tirar daí as devidas conclusões.

De resto, elas são inescapáveis.

No seu livro The Cosmic Connection Carl Sagan especula sobre mensagens enviadas por civilizações extraterrestres mais avançadas, através de mecanismos incrivelmente sofisticados

Também outro que via muitos filmes de ficcção científica.

Eis as suas palavras:

'At this very moment the messages from another civilization may be wafting across space, driven by unimaginably advanced devices, there for us to detect them—if only we knew how. ...

Or perhaps the messages are already here, present in some everyday experience that we have not made the right mental effort to recognize.

The power of such an advanced civilization is very great. Their messages may lie in quite familiar circumstances. ... The message from the stars may be here already. But where?'


A mensagem fundamental já está aqui connosco.

Ela foi deixada na Bíblia e inteiramente corroborada pelo DNA.

Um Deus omnipotente e omnisciente criou todos os seres vivos, juntamente com o sistema de armazenamento, transcrição, tradução, execução e cópia da informação necessária à respectiva reprodução de acordo com a sua espécie.

Astrologia e evolucionismo são duas formas naturalistas de ver o mundo, com a sua raiz histórica comum em Babel.

Rui leprechaun disse...

Ora bem, isto de astrologia não é a minha especialidade e nunca me interessou por aí além, tal como muitas outras coisas, claro!

Mas há algo nesse tal artigo que só se deve considerar como apenas parcialmente correcto:

Its central claim - that our human characteristics are moulded by the influence of the Sun, Moon and planets at the time of our birth...

Para já, dizer que "as nossas características são moldadas" pelos astros não é propriamente aquilo que a astrologia afirma. Ela apenas sustenta que os astros podem influenciar tais traços da personalidade, o que não é propriamente a mesma coisa, se quisermos ser algo rigorosos com o significado das palavras.

Mas mais importante do que isso é o conceito de que tal influência existe sempre em potencial, podendo ou não manifestar-se consoante outras circunstâncias. Dito de outro modo, a astrologia NÃO é determinística, o livre arbítrio humano permanece sempre existente.

Bem, mas de que forma os astrólogos lidam com isto e mais as previsões... isso é que eu não sei! Deve ainda considerar-se que nem toda a astrologia é preditiva, ainda que esta seja a mais divulgada, claro. Mas esse tipo de astrologia descritiva foi aquele que Jung estudou, juntamente com a antiga alquimia, aliás, tendo referido ambos do seu "Arquétipos do Inconsciente Colectivo".

É provável que essa referência do 1º comentador às caracteristicas que a psicologia estuda nas pessoas tenha justamente a ver com a "astrologia psicológica" baseada nesses estudos de Jung ou mesmo a "astrologia transpessoal", fundamentada na psicossíntese do psiquiatra italiano Roberto Assagioli.

Mas em parte também tenho de concordar com ele e reafirmar que "a ignorância é sempre muito atrevida"! Seja a dos astrólogos em relação à ciência ou vice-versa, pelo simples desconhecimento mútuo do seu campo próprio de conhecimento e actuação, que é de facto muito díspar.

Do ponto de vista do estudo científico, há em todos estes assuntos uma dificuldade metodológica tremenda que é uma consequência natural do tal "multiculturismo", afinal, com o qual a ciência continua a lidar muitíssimo mal, infelizmente. Mas essa é outra história... É que existem diversas astrologias consoante as múltiplas culturas, tal como religiões e práticas empíricas pré-científicas mas não necessariamente menos válidas, algo que uma certa ciência ignara e enfatuada - da qual este blog é um excelente (mau) exemplo! - prefere simplesmente ignorar ou esconder debaixo do tapate da incompreensão dogmática!

O certo é que, contrariamente ao que sucede na ciência... grosso modo, pelo menos... não existe um corpo unificado de práticas e conhecimentos na astrologia, do mesmo modo que na religião e nem sequer em campos mais experimentais, como o das medicinas não convencionais, por exemplo. Ou seja, a natureza muito subjectiva ou empírica deste outro conhecimento torna difícil a sua sistematização, do modo como a ciência convencional gosta, no seu rigor analítico lógico-racional.

Por fim, isto leva-me a comentar essa afirmação irrealista de Ernest Gellner e que diz muito acerca da soberba do tal conhecimento científico que se pretende superior, pior ainda, único, a acreditar em certas luminárias:

Existe um conhecimento externo, objectivo...

Absolutamente errado!... externo, objectivo... onde?!

NÃO existe conhecimento objectivo algum, já que rigorosamente TODO ele deve ser sempre mediado ou apreendido pela consciência do sujeito cognoscente. Logo, todo e qualquer o conhecimento é SEMPRE interno e nunca externo!!!

Este é o bê á bá de qualquer epistemologia das ciências que se preze, fora disto não há qualquer rigor em tais afirmações tão erróneas e descabidas quanto as de qualquer astrologia ou outra "banha da cobra" sortida, na qual esse tipo de injunções dogmáticas e absolutistas também se devem enquadrar.

E para transcender limites étnico-culturais existe apenas uma ÚNICA cognição: a mais íntima e interior de quem EU SOU!... jamais qualquer outra pseudo-verdade que amanhã será uma velha falsidade...

Física sem Metafísica... pior que padre sem missa! :)

Marco Oliveira disse...

Palmira,
Parabéns pela paciência para aturar um astrólogo.
A entrevista está disponível nalgum site?

Pedro disse...

Alguém pode apagar o lixo de posts do perspectiva? É que isto de vir para aqui debitar em todos os assuntos a sua diarreia criacionista...

Valter Boita disse...

Estimada Palmira,

Receio que o meu comentário possa ser interpretado por si ou por outros leitores como vindo de alguém que aprecia o "wishfull thinking" ou quaisquer outras formas provenientes de uma consciência mítica e sedenta de fórmulas e de mezinhas contra alguma maleita. Desconfio inteiramente de todas as literaturas "new age" e de todos os gurus dos "além-mundos", expressão tão interessante do malogrado Nietzsche.
Apenas gostaria que me elucidasse no seguinte ponto:
O que é que pós-modernismo tem que ver com charlatanice? (interrogo-me se a autora desta entrada conhece efectivamente o pós-modernismo!). Pressinto uma falta de rigor conceptual no seu texto, pois não creio que o pós-modernismo, na arte, na literatura, na arquitectura, na filosofia, possa ser uma derivação da charlatanice.

Cordialmente

Unknown disse...

Sinceramente preferia que não se apagasse o post do perspectiva; qualquer opinião(mesmo uma mal fundamentada logicamente)têm o direito de ser falada, e neste caso seguinte, analisada. Sinceramente não tinha sequer razão em falar até ver os supostos factos deste mesmo.

Primeiro, permitam-me fazer um pequeno comentário em relação à astrologia, e à capacidade de cada um de nós fazermos comentários da mesma. A ideia resumida disto, é basicamente, que o podemos fazer.

A astrologia, sobre nada mais se debruça do que caracterizar os comportamentos dos seres humanos, e para tal fazer, usa como justificação, os movimentos dos corpos celestes no céu.

Não há no entanto justificação de qualquer escolha desses elementos. Quer dizer: porquê os planetas, se até os típicos tomados destes estão mal contabilizados(ou mal definidos, como já foi referido no caso de Plutão e Ceres). A astrologia não deseja definir em nada a sua exactidão, e como tal não obtém nenhum direito para se calcular como exacta, especialmente quando dados as contrariam.

Porém, tal como referido, se forem dizer que a astrologia também necessita de um contacto com as pessoas, será necessário explicar então em que parte é que esta não é psicologia. Ou não é esta a ciência do comportamento humano? E não é isto que a astrologia se propõe a definir de acordo com os astros.

Acho que a posição que foi adoptada em cima é muito bem caracterizada na verdade por isto:

http://cectic.com/043.html
http://cectic.com/138.html

Mas deixando isto de parte, e voltando aos assuntos mais urgentes...

Primeiro meu caro perspectiva, acho que tenho o direito de desabafar chamando-lhe hipócrita. Já que nada mais a sua mensagem revela.

Além de por um lado aparentemente desprezar os cientistas, não têm problema em apresentar exemplos que o convêm ao lado de um grupo seleccionado para melhor levar avante o seu ponto de ficção-cientifica.

Vale a pena dizer que está como tantos criacionistas fazem, a confundir a teoria da evolução(que lembre-se que é um facto, já que o termo 'teoria' é usado cientificamente da mesma maneira que teoria da gravidade, relatividade, etc...(e acho que não têm problemas em aceitar estas)), com a origem da vida. Esse que é um dos maiores mistérios do mundo actual, e que o próprio Dawkins admite no seu livro(não o leu pois não? experimente, vale a pena) que tanto as actuais teorias cientificas podem estar certas como erradas. Algo que também já foi deturpado na treta de filme americano chamado 'Expelled'. Para mais informações acerca do lado cientifico da questão veja:

http://en.wikipedia.org/wiki/Origin_of_life

Mas agora, a primeira pergunta que lhe faço é então, qual é o problema com os aliens? Certamente estes parecem-me ser muito mais prováveis que o Monstro do esparguete Voador, e que o Unicórnio Cor de Rosa Invisível, e que o Dragão Invisível na garagem do Carl Sagan, e que o Pai Natal, e que o Colho da Páscoa, e, como já se está à espera, que 'deus'(a falta de maiúsculas neste é de propósito, sinceramente, o Coelho da Páscoa merece mais respeito por nunca ter provocado guerras).

No entanto, nada mais por este caminho vou enredar que dois pequenos pontos.

Nº1-Não há(e isto é realmente um 'HÁ' de existência) nenhuma razão para que o conceito de Deus seja tomado em vez de outras teorias, pela simples razão de que assim que se introduz esse conceito já não há perguntas a fazer. No entanto, essas perguntas nunca foram respondidas, e como tal é de se perguntar(embora não possamos fazer perguntas), do que é que isso nos serve, já que aceitar isso é dar cabo da lógica que tão longe nos levou e nos poderá mais levar(e se achar que esta lógica cientifica a nenhum lado o levou, então pode devolver os medicamentos e antibióticos e quaisquer cuidados médicos actuais que alguma vez usou).

Nº2-Nunca, mas mesmo NUNCA tente dizer que a bíblia foi comprovada e corroborada pelo DNA, já que o DNA muito bem diz que a baleia é um mamífero, e a bíblia diz que é um peixe. Usar a ciência como desculpa para a religião de nada alguma vez valeu porque nunca acertou.

alf disse...

Palmira

quando eu tinha para aí 20 anos, um belo dia resolvi fazer o meu estudo "científico" sobre a astrologia. Naturalmente, comecei por comprar um livro de astrologia.

Fiz um pequeno resumo das caracteristicas mais tipicas de cada signo. Depois, fui ter com um colega que eu achava que era uma pessoa com bom conhecimento do ser humano, ao contrário de mim, e pedi-lhe para participar num ensaio que consistia no seguinte: a partir da minha pequena lista das carateristicas de cada signo, ele ía tentar descobrir o signo de colegas nossos. Ele podia "passar", isto é, achar que determinada pessoa não lhe dizia nada, ou "ir a jogo", isto é, fazer uma tentativa. Eu registava as vezes que ele falhava ou acertava.

Combinamos que ele faria 10 tentativas. Ele desistiu à nona pela seguinte razão: como nas 8 vezes anteriores ele tinha acertado 5 vezes, estava muito seguro de que não errava e deu o seu palpite sobre uma colega nossa. Fomos-lhe perguntar o signo, ela não queria dizer, mas lá disse: Virgem. O meu colega reagiu com vigor, tão certo estava de si próprio (ele tinha dito outro signo): Impossível!

Essa colega ficou convencida que estavamos a pregar-lhe uma partida de mau gosto e que ele tinha falado com segundo sentido. Sendo uma pessoa muito sensível, esse colega recusou-se a prosseguir o teste.

Mas imagino que a Palmira sabe fazer as contas às probabilidades de acertar 5 vezes em nove.

Depois disso, eu mesmo me tornei capaz de acertar nos signos de algumas pessoas - mas só em casos muitos especiais, não faço ideia de que signo serão mais de 90% das pessoas. Mas mesmo assim, isso é suficiente para que num grupo de pessoas seja natural que eu saiba o signo de um delas. Não estou a dizer andar a mandar palpites ao acaso até acertar - só dou um palpite. Alguns signos têm caracteristicas muito frequentes, como a maneira de andar de uma mulher carneiro ou a maneira elegante de levantar a cabeça de uma carangueja

Eu não estudo astrologia, dela apenas me interessou a sua descrição dos comportamentos humanos, conhecer o ser humano é um objectivo meu e consulto todas as fontes.


Penso que talvez as caracteristicas humanas se repitam com alguma periocidade e que a astrologia não faça mais do que associar os períodos humanos aos períodos planetários - este seria apenas um relógio apropriado à medida de grandes períodos.

Mas é interessante perceber que uma pessoa ser extremamente metódica e outra não o ser pode não ser uma mera questão de educação.

E respondendo ao senhor que perguntou que caracteristicas são essas que a psicologia não estuda, olhe, aqui está uma muito simples: ser ou não extremamente metódico.

Esta é a minha experiência. Eu sou uma pessoa extremamente céptica, não tenho crenças, não acredito nem que sim, nem que não, não acredito nem em A, nem em B, faço testes.

alf disse...

E já que falamos em «banha da cobra»: então a matéria negra a energia negra, a inflação, só por poderem ser traduzidas por parâmetros matemáticos, não são também «banha da cobra»?

Um engenheiro que trabalhava na construção de detectores de ruido de fundo cósmico confidenciou-me há já bastantes anos: a matéria negra e a energia negra são 90% do universo (já não me lembro do número exacto, sei apenas que era menos que hoje)porque a margem de erro das medidas é 10%... quando for 5% a matéria negra e a energia negra serão 95%

Parece que agora a matéria negra e a energia negra são 96% do universo.. e a margem de erro de 4%... ainda chegamos À conclusão de que afinal.. não existimos! Nada que assuste um físico, não é verdade?

Mais banha da cobra: teoria do aquecimento global baseada em modelos climáticos sem nuvens! para mim, isso é como um carro sem rodas... A propósito, o nivel dos mares não devia ter subido não sei quantos centímetros? ainda estou a ver a quercos a falar de 6 metros de subida...

Errar é normal, é o caminho da descoberta, o que me preocupa é o unanimismo da ciência. Embora compreenda: não se pode abrir a porta ao monte de pessoas que faz os raciocínios mais estranhos para suporte daquilo em que já acredita. Nada é mais perigoso do que as pessoas que se presumem detentoras da Verdade.

(eu não corro esse perigo porque não sou uma pessoa, sou apenas um observador)

Nando disse...

Oh Alf: eu já há bastante tempo que espetei aqui um comentário longuíssimo com respostas a muitas diatribes suas e de outros eminentes postadores. Mas parece que não leu, e não me apetece repetir.

Mas já agora: quem é esse brilhante amigo seu, engenheiro de detectores de ruído cósmico (que não é ruído, branco, preto, cinzento ou de outra cor qualquer: é radiação térmica)? Qual era o detector? Referências, artigos, white papers?

E de onde tirou esse seu amigo ideia tão estúpida como a margem de erro das medidas ser de 10%? Era 10% lá para 1950, talvez. Isto sem lhe perguntar o óbvio: quais medidas, meu caro? Frequência, polarização, alqueires de cevada?

A sério, Alf: há muita gente que sabe do que está a falar neste blog, por trabalhar nas coisas e ter dedicado tempo e miolos a percebe-las. E há muita gente a rir-se de si, e à sua custa — e eu sou o primeiro. Não fale do que não sabe, nem que isso lhe custe a palavra. Mais vale passar ao lado que passar por estúpido, não é?

Nando disse...

Quanto ao resto do comentário, que só agora li...

Caro Alf: tem ideia de quantos modelos diferentes existem para explicar a matéria escura e a energia escura? Claro que não tem: não sabe, por isso diz disparates sob a capa do justiceiro trololó que não quer soutôres a dormir no poleiro, ou que acha que duas pessoas perderem anos a fazer cálculos e chegarem ao mesmo resultado é um sinal de conformismo e submissão ao status quo.

Voltando à matéria e energia: estas são "escuras" precisamente por isso: porque ainda não se compreende do que são constituidas, como funcionam, e apenas se possuem algumas peças desse puzzle rudimentar. É um bocado como a sua argumentação, está a ver?

Rui leprechaun disse...

Não há (e isto é realmente um 'HÁ' de existência) nenhuma razão para que o conceito de Deus seja tomado em vez de outras teorias, pela simples razão de que assim que se introduz esse conceito já não há perguntas a fazer. No entanto, essas perguntas nunca foram respondidas, e como tal é de se perguntar (embora não possamos fazer perguntas), do que é que isso nos serve, já que aceitar isso é dar cabo da lógica que tão longe nos levou e nos poderá mais levar...


Humm... isso está um pouco baralhado, ó Drexer!

Em 1º lugar, convém saber se esse conceito de Deus é apenas uma teoria, como afirmado, ou corresponde a uma realidade fora da matéria-energia e do espaço-tempo, tal como está implícito na sua própria definição de "sobrenatural" ou transcendente à natureza material.

Colocando a hipótese de ser um ente real, de que forma tal poderá ser comprovado?! Ou ainda, será que isso é dar cabo da lógica? Explicando melhor, a prova da existência de algo FORA dos limites físicos conhecidos não pode, por definição, ser efectuada directamente recorrendo ao método científico com o seu naturalismo metodológico, como é óbvio. Aqui, parece-me que todos podemos estar de acordo, até aí a boa lógica ainda nos leva.

Contudo, é talvez argumentável que tal verificação se possa fazer por via indirecta, isto pressupondo que existe alguma relação entre Deus e o mundo. Embora alguma teologias o neguem - aquelas que só admitem o conceito transcendente de Deus acima de toda a realidade material - de um modo geral as diversas religiões afirmam que Deus actua no mundo ou inclusive que é imanente ao mesmo. Ou seja, basicamente podemos considerar 3 posições filosóficas quanto ao conceito de Deus:

Transcendente
Transcendente e Imanente
Imanente

Este último, corresponde grosso modo à visão panteísta de que o Universo é Deus, não havendo pois nada mais que o transcenda. Ou ainda, Deus manifesta-se unicamente neste plano natural de existência, o que não significa, porém, que deva confundir-se unicamente com a realidade material, claro. De facto, embora uma tal visão do Divino excluia a transcendência, ela mantém ainda a ideia do sobrenatural - ou a mente divina - como outra parte de uma natureza mais vasta do que a simplesmente material.

Meaning... material e não-material coexistem neste plano de realidade que é o universo fenomenal, isto na concepção panteísta de um Deus impessoal. É claro que o conceito do Deus pessoal das religiões se identifica com a transcendência pura, logo inteiramente fora do conhecimento humano, pelo menos tal como o entendemos.

Tudo isto para dizer que, em princípio, o conceito de imanência divina deveria ser passível de comprovação experimental indirecta, por assim dizer, ao contrário do mero conceito de transcendência.

Ou seja, este raciocínio pretende somente dizer que algures no futuro, talvez a ciência física possa obter alguma comprovação indirecta da existência de uma força consciente ou inteligente, actuante sobre a matéria-energia, que é tudo que actualmente admitimos como existente.

Note-se, aliás, que o próprio conhecimento científico das partículas-ondas é, de certa forma, indirecto, ainda que experimental. Como de resto acontece com uma parte vastíssima do edifício da ciência onde não é possível testar as hipóteses por experiência directa, mas unicamente através de outros métodos que possibilitam uma comprovação lógica indirecta. Aí, por exemplo, a matemática tem uma importância relevante, e cada vez mais, tanto nas ciências naturais como nas sociais.

Em suma, e para não me alargar excessivamente, ainda que o conceito de Deus pareça à partida inteiramente fora do âmbito da ciência e unicamente no domínio da metafísica, tal talvez não seja inteiramente assim. Just a may be...

Mais tarde, irei ainda focar essa questão da lógica que tão longe nos levou. Deveras, esse é o campo da filosofia por excelência, incluindo nela a teologia. Aqui, o confronto centra-se nas duas concepções monistas antagónicas do materialismo - para o qual a que a matéria é a única substância - e do idealismo - para o qual a consciência (ou as ideias) é a realidade última. Claro que eu sou idealista, óbvio! ;)

Claro que há ainda várias outras concepções dualistas da realidade, isto para além das diversas nuances nos monismos materialista e idealista. Mas há que simplificar, procurando o máximo denominador comum em cada um desses conceitos, o que para esta discussão serve perfeitamente. Afinal, estamos numa simples conversa e troca de opiniões, isto não é nenhuma tese nem artigo para a "Nature"! :)

Anyway... e como "food for thought", deixo aqui esta pequena parte da definição do idealismo. Merece leitura atenta, ó sábios!

...a world of material objects containing no thought either could not exist as it is experiencedd, or would not be fully "real".

Quite interesting stuff, indeed! Tanto mais, que a moderna física quântica se está tornando algo idealista... it seems! So, could science prove the elusive higher reality of consciouness or mind?! May be... we shall see! :)

Unknown disse...

Caro Parodoxo (nick bem escolhido):

Basta ler as patetadas do gnomo para perceber o mal que o pós-modernismo fez:

legitimou todos os patetas ignorantes que "intuem" teorias a pensarem que as suas patetadas têm tanto valor como um qualquer facto ou teoria científica.

Eu percebo que algum pessoal das ciências sociais, que odeia o prestígio das ciências duras mas não abdica de ter ciência no nome, como aquele pateta do Steve Fuller que diz que só há uma epistemologia, a epistemologia social, e Boaventuras Sousas Santos pensem que a melhor maniera de terem os seus cinco minutos de fama é fazerem declarações bombásticas ( e tolas) sobre ciência.

Mas não podem fugir às consequências das suas patetadas: como diz o desidério:

"Wolin tem sido um dos autores que mais se tem dedicado a analisar esta plêiade de ideias que, sob a aparência de radical crítica à sociedade contemporânea, são de facto profundamente conservadoras, dando abrigo a todos os tipos de fundamentalismos.

alguns pensadores pós-modernistas acabaram por radicalizar de tal forma as coisas que hoje é de bom tom, nos meios académicos e culturais mais frágeis, declarar que o Big Bang e os mitos gregos da criação estão ao mesmo nível — são ambos mitos."

alf disse...

Jorge

esta madrugada, lá pelas 4 da manhã, puz um comentário não muito feliz, um desabafo sonolento, e vim aqui cedinho a ver se o eliminava antes que alguém lesse. Não cheguei a tempo, o amigo já o leu. Resta-me explicar-me melhor.

a ideia do comentário foi a seguinte: não se pode fazer juizos de valor sobre algo a partir do que dizem algumas pessoas, às vezes mesmo pessoas qualificadas na área. A Ciência é uma construcção fantástica apesar de, nalgumas áreas, trilhar caminhos que não são de sucesso.

A Cosmologia está num buraco, mas a verdade é que, até hoje, ninguém conseguiu apresentar uma explicação melhor; sendo assim, a Ciência defende a teoria que tem.

Mas esta teoria, essa é a verdade, viola uma saudavel metodologia científica. A Matéria negra e a energia negra são realmente "negras". A generalidade das pessoas fora do ramo pensa que a matéria negra é apenas uma matéria escura, que não se vê, mas que é matéria. Mas nós sabemos que não é nada disso, não é verdade? É um mero parâmetro matemático. Ainda por cima, de valor variável consoante a idade do universo. Na realidade, é uma nódoa negra que será removida do edificio do conhecimento a seu tempo.

Mas entretanto, que fazer? A Ciência não pode dizer "não sei", não é verdade? Apareciam logo os religiosos a dizer que está tudo na Bíblia... nada como um absolutamente ignorante para se julgar absolutamente sábio, não é?por isso é que eu pretendia remover esse meu infeliz comentário/desabafo.

Em matéria de ciência eu digo coisas diferentes mas não digo disparates. Muito pelo contrário. Mas o nosso cérebro é assim: quando uma nova ideia contraria as nossas presunções, ela surge-nos como um non-sense. E reagimos com uma espécie de riso alarve muito típico desse processo mental.

é por isso que eu, seguindo o conselho de Planck e o exemplo de Galileu, concebi aquele meu peculiar blogue para tentar explicar umas coisas sobre o Universo físico. Umas coisas que os cientistas não sabem, o que não admira, há tanto para descobrir...

Nando disse...

Caro Alf: eu também não estava muito bem disposto. Assim, peço desculpa pelo equívoco de o confundir com um arauto da desgraça. Mas, mesmo assim, reitero: embora não se saiba de que é feita, a matéria escura é claramente... matéria. Basta conhecer os trabalhos mais recentes com o choque entre aglomerados de galáxias (o Bullet Cluster) para ver, de um modo gráfico e simples, a prova contida nos perfis gravitacionais da dita matéria.

Claro que podemos ter uma discussão epistemológica sobre o que é saber (neste caso, saber que a matéria escura é matéria): realmente não podemos saber, tal como não podemos saber se Júpiter não é uma bola luminosa pendurada no céu, se existe realmente a Sibéria, etc.

O que interessa é que, baseados em observações, demonstra-se que o modelo mais simples que as explica se baseia num tipo de matéria desconhecida, mas matéria na mesma. E, nesse sentido, a Cosmologia não está nada num buraco, antes pelo contrário: por alguma razão se considera que os anos 90 inauguraram a chamada Idade de Ouro da Cosmologia observacional.

Quanto à insinuação de que estou a recusar ideias novas e tal, é um óbvio expediente auto-provável: se eu ripostar a uma ideia nova com outra, é porque esta última já não pode ser nova para mim. Assim, é fácil dizer que estou a defender o status quo por razões sociais ou psicológicas. Mas eu, como todos os cientistas, sou pago para testar ideias novas: acho que algo que muitos pensam é que os ditos soutôres passam a vida a "defender" o que já existe, quando o contrário é que é verdadeiro: a Relatividade Geral começou a metamorfosear-se poucos anos depois de surgir, quando surgiram as primeiras ideias para extensões.

Sobre este parágrafo:

"A generalidade das pessoas fora do ramo pensa que a matéria negra é apenas uma matéria escura, que não se vê, mas que é matéria. Mas nós sabemos que não é nada disso, não é verdade? É um mero parâmetro matemático. Ainda por cima, de valor variável consoante a idade do universo."

O que quer dizer que a matéria negra é apenas um parâmetro matemático? Eu vejo uma pedra a cair, calculo o local onde vai parar com base a algo que chamo velocidade, aceleração e equações do movimento, e consigo prever com exactidão o dito sítio: mas a aceleração e velocidade são objectos matemáticos, utilizados para exprimir variações de posição. A massa, por muito que achemos que é uma coisa "verdadeira" (por ser dura e pesada e tal), também é um parâmetro matemático, que serve para exprimir a nossa inércia quando nos é aplicada uma força.

Quanto a variar no tempo, é um comentário infeliz: a quantidade de matéria escura (a sua massa) não é suposto variar no tempo (embora algumas teorias possibilitem uma interacção entre esta e a energia escura): o que varia no tempo são os referidos parâmetros (os tais 95% e etc.), que nos dão a densidade relativa dos vários componentes. Se o Universo está a expandir-se, é apenas natural que a densidade de matéria (escura ou normal) diminua, não é?


Mas, dando-lhe o benefício da dúvida que ontem não tive a graça de conceder, pergunto-lhe: exactamente que buraco é esse onde a Cosmologia se meteu? Não quero referências vagas a termos científicos, razão primeira para o ter tomado como crítico new age da batata: espero sim uma discussão sobre quais os pontos em que a Cosmologia actual está inapelavelmente errada, isto é, não admite possibilidade de investigação que resolva as suas próprias contradições (já que, como qualquer outra teoria, evolui).

E, obviamente, preferia ver algo concretizado sobre o hipotético absurdo da inclusão de componentes têm uma base experimental já com 75 anos.

alf disse...

Jorge

agradeço a sua amável resposta, que me faz sentir de alguma forma desculpado pelo infeliz comentário.

A matéria é o quê? o nosso conceito empírico de matéria aplica-se a átomos e moléculas; mas "matéria" são as partículas.

Que propriedades têm as partículas da matéria negra? Aqui começa a dificuldade porque uma partícula é um ente físico, não é apenas uma fonte de campo gravítico. E, para constituir alguma estrutura material, é preciso mais de um tipo de partículas, como electrões e protões.

Para a matéria negra tem-se sugerido coisas como axions e wimps, mas isso praticamente não passam de nomes.

é por isso que a matéria negra não passa de um parâmetro matemático que afecta o campo gravítico.

provas da sua eventual existência, como a rotação das galáxias, têm uma explicação muito mais simples e óbvia.

Quanto à variação do valor destes parâmetros no tempo, pode ver o resultado das ultimas medidas do ruido de fundo cósmico pelo WMAP:

http://physicsworld.com/cws/article/news/33318

Nesse artigo, do Pedro Ferreira, pode ler-se:

According to WMAP, neutrinos made up 10% of the universe at the time of recombination, atoms 12%, dark matter 63%, and photons 15%, while dark energy was negligible. Today, by contrast, 4.6% of the universe is made of atoms, 23% dark matter, 72% dark energy and less than 1% neutrinos.

Mas eu não pretendo demonstrar que este ou aquele modelo físico está errado. Ou melhor, chateia-me um bocado a história do aquecimento global porque se trata de uma miserável manipulação da ciência, com perigosas consequências para nós e para a credibilidade da ciência. Mas fora isso, o caminho da descoberta passa sempre pelo erro, nada a criticar

Além disso, eu não preciso de demonstrar os problemas do modelo cosmológico. Porque o "jorge" do meu blogue (eheh, que coincidência de nomes ... ou será o destino?)vai dizer exactamente como é. E é tão claro, tão óbvio, que ninguém de boa vontade poderá ter dúvidas.

Nando disse...

O Jorge do seu blog não vai dizer exactamente como é, pela amostra do que li no seu/vosso blog. Assim, como as posições me parecem irreconciliáveis sobre matérias que a comunidade física toma como relativamente consensuais (e não vou elaborar, já o fiz em excesso e sem sucesso), fico com o que sei e despeço-me por hoje.

Boa noite a todos,

Jorge

Ana Paula Arez disse...

Andava por aqui pesquisando coisas de Ciência (mais especificamente sobre Divulgação da Ciência) no Google e vim aqui parar.

Tenho feito a minha vida pela Investigação Científica – licenciei-me em Biologia, doutorei-me em Biologia (Biologia Molecular), andei muitos anos de bolsa em bolsa, BIC’s, BD, Pós-Doc… Enfim, o normal para os denominados Cientistas em Portugal.
Quando leio (ou ouço) este tipo de discurso feito por Cientistas, inevitavelmente “paro” a pensar… E infelizmente não gosto do que penso… E infelizmente não é tão pouco frequente assim…

Não ouvi a dita entrevista mencionada no início nem conheço o mencionado astrólogo por isso não vou comentar o que ele disse ou deixou por dizer. Já li, por curiosidade, algumas coisas relacionadas com Astrologia como com muitas outras coisas menos científicas mas não me considero de forma alguma conhecedora da matéria. Por isso não vim aqui tomar partidos ou argumentar a favor ou contra esta linha de pensamento, crença ou o que seja.

O que me chocou muito neste texto foi o tom arrogante e jocoso com que está escrito. Entre tão enorme sapiência, na prática não consigo distingui-la ou diferenciá-la do “…discurso completamente vazio mas repleto de palavras «caras», sem qualquer sentido e tão irracional quanto…” da tal entrevista que eu não ouvi. Mas isso será certamente, não tenho a menor dúvida, apenas devido à minha ENORME ignorância.

A mesma ignorância que terão certamente aquelas pequenitas formigas que se andam ali a passear pela minha sala – sempre no Verão lá vêm elas… não desistem com a sua Sociedade hiper-organizada, os seus carreiros ordeiros a apanhar qualquer migalha que este Ser distraído deixa cair lá do alto, muito alto… (aproveito já para dizer que também não tenho qualquer tipo de formação ou crença religiosa)

Terão elas noção que vivemos no mesmo espaço? Vivemos a mesma realidade mas não creio que a percepcionem como eu. Quando nalgum acesso de fúria pela minha impotência contra esta invasão, lhes ponho um pé ao cima ou lhes despejo espuma insecticida para dentro dos formigueiros, será o quê?! Um cataclismo natural? As forças e leis da natureza a actuar? Quase as consigo imaginar, como seres “inteligentes” que são (passe a utilização abusiva do termo “inteligência”) com as patinhas na cabeça a dizer “Temos já que fazer um estudo científico para explicar o que está a acontecer… Vou já pensar em mil experiências científicas e utilizar o método científico para deslindar estes mistérios e responder a estas questões…”. E outras, também de patinhas na cabeça, a dizer “Não, não… isto é certamente obra de algo que nos transcende mas que ACREDITAMOS que existe e isso chega-nos…” E então?! Umas estão certas e outras erradas? Umas são espertas e outras burras (mais uma vez, passe a confusão de bichos!)

Não sei se ainda corre por aí um filme infantil muito engraçado que talvez muitos sábios adultos devessem ver para tentar sair do seu pedestal – “Horton e o mundo dos Quem”

Pois… é por este tipo de coisa que, embora cientista, me sinta cada vez menos entusiasmada, não com a Ciência, mas com os Cientistas.

Tiradas como “…a maioria dos ouvintes da RCP NÃO DEVE TER GRANDE TRAQUEJO para pós-modernices misturadas com patetadas New Age só posso esperar que muitos tenham percebido que ler o horóscopo ou consultar um «astrólogo» é um disparate total” ou “…ESTA GENTE quer ainda recuperar a alquimia” ou “… a que acrescento PATETADAS COMO a astrologia” são tudo aquilo que eu não esperaria ouvir de um CIENTISTA.
É que realmente não há pachorra para tanta prosápia.

APA, 23-07-2008

carolus augustus lusitanus disse...

Sobre o último comentário.

Eis alguém sensato, a quem os confrades da área deveriam prestar atenção e humilde reverência. Porque isto do conhecimento não é (só) aquilo que o «magister dixit» nos bancos da faculdade e os papagaios depois, com o seu sotaque, vêm reproduzir em teses (com ou sem «magna cum laude»)... não! E depois há ainda a sabedoria que começa, como no exemplo anterior, por abertura e respeito pelas ideias dos outros às quais, caso nos pareçam erradas, devemos ripostar com argumentos válidos e não com os chorrilhos de má educação/desrespeito e (mau feitio) que por aqui pululam. Meditem no que foi dito...

Anónimo disse...

Olá meu nome é Ricardo e tendo eu estudado astrologia , venho entao dar a minha opiniao sobre o que é a astrologia. Ao contrario do que muito se diz os astros nao influenciam. Mas sim sao indicadores de algo. Do mesmo modo que quando olhamos para um espelho e vemos um penteado mal feito na nossa cabeça isso nao nos diz que o espelho nos provocou um penteado horrivel , este apenas nos mostra a nossa realidade. Embora ainda existem muitas coisas que a ciencia ainda anda a tentar descobrir e só num futuro nos poderá dar mais certezas.... será que os astros nao nos influenciam ?? Será que tudo na vida é completamente independente ?? será que por eu estar aqui agora a escrever algo isto nao irá influnciar algo noutro sitio qualquer no mundo neste preciso momento ?? sao questoes que julgo a ciencia ainda nao tem resposta. Outra questao que julgo ser merecedora de ser avaliada é a forma como se rotula um astrologo de charlatão, só porque usa metedos nao cientificamente provados ...... charlatao para mim é um politico advogado/engenherio/medico/doutor que diz que vai fazer algo e depois nao o faz. Ainda hoje em dia se poe tudo no mesmo saco pessoas que teem como profisao Astrologo e cartomante, bruxo, vidente, quando na realidade essas pessoas usam metedos diferentes, embora todos eles teem um objectivo até mesmo os astrologos , antropologos etc , todos eles procuram estudar o ser humano e procurar encontrar respostas para tal comportamento , e se possivel contibuir para um melhoramento do bem estar das pessoas. Se me disserem existem maus profissionais é verdade , isso existe em todo o lado, se me disserem existem profissionais que cobram dinheiro por maus serviços isso tambem é verdade, mas nao é verdade que todos os Médicos sejam charlatoes, como tambem nao é verdade que todos os advogados o sejam , ou estarei enganado ??

Anónimo disse...

Tanta necessidade de atacar outro tipo de crença, de ideal, de pensamento...? Psicologicamente isso revela muito insegurança sabia? Necessidade de impor os seus ideais atacando os dos outros é muito pouco "iluminado", não acha? Parece-me que este mundo é grande o suficiente para todas as formas de pensar. Enfim, desejo-lhe muito sucesso em receber a aprovação que procura para a sua necessidade de reconhecimento, e ao mesmo tempo endurance para conseguir administrar todas as frustrações que a vida lhe há-de trazer pela sua necessidade de afirmação. Era importante fazer uma introspecção sobre o seu passado, e até à sua infância, para conseguir perceber em que fase da sua vida começou este processo de revolta... Boa sorte e tudo de bom!

A panaceia da educação ou uma jornada em loop?

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