segunda-feira, 27 de agosto de 2007

ARGENTO VIVO


A editora Tinta da China vai publicar muito em breve o livro "Argento-Vivo", do escritor de ficção científica Neal Stephenson, autor de "Cryptonomicon". Da blogosfera (deste sítio), publicamos este extracto de uma crítica, que dá um "cheirinho" do livro:

"... Quicksilver (...) faz parte de um grande arco, uma obra magna que Stephenson se propôs escrever, sob o nome de Ciclo Barroco. O conjunto de livros que este ciclo encerra já ultrapassou largamente a trilogia, o que não surpreende - Stephenson propôs-se escrever nada menos do que uma história do sistema do mundo, centrado na era Barroca, quando o iluminismo e o mercantilismo começaram a demolir a velha sociedade pós-renascentista, alicerçada no mundo medieval, trazendo o mundo para a era moderna. Stephenson mergulha entre as elocubrações dos filósofos naturais que perscrutam o mundo, sedentos de curiosidade, entre as manigâncias dos jogos de poder das nobrezas políticas e entre os sonhos de uma classe emergente que apoia o seu poder e afluência não na tradição mas sim na troca de mercadorias e gestão de dinheiros. O Ciclo Barroco pretende ser uma história das ideias que formam a base da nossa sociedade contemporânea, e na sua minuciosa busca de interrelações num mundo que já era global antes da era da globalização Stephenson largou o ser conciso no meio das urtigas e foi escrevendo até chegar à conclusão, o que explica a amplitude deste ciclo de livros dos quais Quicksilver é o primeiro.

Quicksilver recupera as personagens-chave de Cryptonomicon como avós das personagens modernas. O elusivo Enoch Root faz uma aparição como propiciador da educação de uma criança desfavorecida, que se irá tornar Isaac Newton, e Daniel Waterhouse transmuta-se no filho de um puritano ferrenho. Quicksilver passa-se nos primeiros anos da Royal Society, quando ela era pouco mais do que um gabinete de curiosidades onde Hooke, Newton e as restantes luminárias que são, efectivamente, os pais da ciência moderna iluminavam a natureza, tentando decifrar os seus segredos. Waterhouse é neste livro um quase grande cientista, que só não o é porque era contemporâneo de Hooke, Newton e Leibniz - e entre gigantes, o mais alto de entre os homens será sempre anão. Daniel é o filho de um ferrenho puritano numa época em que o professar de diferentes correntes do cristianismo podia implicar o patíbulo, mas as suas crenças num juízo final marcado com toda a precisão para 1666 e a sua religiosidade moralista são abafadas pela sua curiosidade em desvendar os segredos do mundo natural. Daniel torna-se colega e amigo de Newton, e trabalha de muito perto com ele, participando no mundo fervilhante de descobertas científicas dos membros da academia real, participando na incipiência do mundo moderno."

3 comentários:

Jose Paulo disse...

Já li este livro na versão inglesa. É mesmo excelente e recomendo. Paralelamente à história "científica" existe também um bom retrato político e social da Europa desta época. Realço o desenrolar da rivalidade existente entre Newton e Leibniz. Interessante é também o grande pendor alquímico dos "filósofos naturais" do século XVII. Dada estas relações com a alquimia traduzi
para português "quicksilver" por "mercúrio"! Não sei se estou correcto mas parece-me mais de acordo com o "espírito" do livro.

Jose Paulo Andrade
www.pbase.com/jandrade

Unknown disse...

Pelo que conheço do livro, Mercúrio não é correcto, mas o correcto seria «azougue» (horrível bem sei, e a editora também deve saber). Mas argento-vivo é a denominação com origem latina que estava presente no tempo em que se passa a obra, pelo que considero o nome de uma (engraçada) felicidade.

Para além disso, recordo-me de existe mais para diante uma personagem chamada «Mercúrio», (mercutio), que nada tem de Quicksilver e poderia confundir.

Mas, de facto, uma obra fenomenal.

Björn Pål disse...

Toda a trilogia do "ciclo do barroco" é absolutamente genial. Tal como o Cryptonomicon.
O Neal Stephenson é um dos mais imaginativos e cientificamente cultos escritores actuais - mesmo considerando as liberdades criativas que utiliza como a cronologia dos acontecimentos "ajustada" ao romace, p. ex.
Para além do mais esta obra em particular elucida-nos como começou a economia de mercado, como evoluiu o conceito do dinheiro e dos mercados de títulos.
Excelente.
Espero que a tradução seja justa para com a obra.

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