terça-feira, 24 de julho de 2007

Ideias perigosas

Vale a pena ler o artigo de Steven Pinker sobre ideias perigosas (em inglês).

Sob a capa do respeito pelas diferenças, interiorizámos cada vez mais a ideia de que certas coisas não se podem dizer -- por exemplo, não se pode dizer claramente que a religião e a irracionalidade são males, mas pode-se dizer claramente que a ciência e a racionalidade são males. Repare-se que não estou a defender que é verdade que a religião é um mal. Estou é a dizer que hoje é politicamente incorrecto defender tal coisa. E isso é assustador. Não há pior censura do que a autocensura.

13 comentários:

Anónimo disse...

A Ideia Perigosa de Darwin
http://www.geocities.com/CapeCanaveral/Hangar/6777/li0100.html

Osvaldo Lucas

MiguelT disse...

Há outras coisas que não se podem dizer, meu caso Desidério. Por exemplo: que as raças humanas não tem aptidões iguais. E contudo ideias deste tipo seriam passíveis de ser comprovadas cientificamente... Só que fazer ciência nesta área descredibiliza-a automaticamente. Não porque a ciência seja necessariamente má, ou pretenda provar teses racistas, mas precisamente porque não tenta provar teses que são a antítese do racismo.
Portanto, as vacas sagradas variam, mas há sempre tabus. Ontem era a religião, hoje é a igualdade entre as raças, amanhã será outra coisa qualquer.
Compreenda-se que eu estou consciente que estudos que demonstrassem, ou pelo menos sugirissem, a desigualdade entre as raças não são ÚTEIS (são até destrutivos sob o ponto de vista da coesão social), mas isso não quer dizer que não possam ser justos ou verdadeiros...

Anónimo disse...

Nunca foi tão fácil criticar a religião nas sociedades ocidentais como o é hoje. Não sei onde é que o Desidérito foi buscar a ideia de que é politicamente incorrecto criticar religiões. Cada vez há mais ateus e agnósticos. Não deve ser por dizerem bem de religiões.

Também nunca houve na história tanta gente com acesso a informação e estilos de vida que lhes ofereçam a oportunidade de pensar. O que quero dizer é que a racionalidade nunca terá sido defendida por tanta gente.

Nunca houve tempos melhores do que aqueles em que estamos a viver.

O que existe também é liberdade de expressão, dificuldade de acesso a cientistas e intelectuais (como amigo) pelas pessoas comuns. Como as pessoas também precisam de líderes acabam por escolher aqueles que aparentam preocupar-se com as suas vidas, que em muitos casos são pessoas associadas a religiões nem sempre com seriedade.

O que eu sugiro a cientistas e intelectuais é que deixem de criticar as pessoas por terem uma culturas de determinado tipo e compreendam a falta de capacidade que muitas delas têm até para organizar a própia vida, e ofereçam um pouco das vossas capacidades intelectuais para ajudar essas pessoas directamente. Não vai ser com o elitismo universitário, a vontade de crescer na sociedade e no meio académico, a ambição de ter amigos em posições de destaque na sociedade, por cientistas e intelectuais, que vai criar o espaço e poder social que à ciência e à racionalidade tanto se deseja. O que a ciência tem gostado é de se distanciar das pessoas com menos capacidade, e de ajudar há distância no tempo ou no espaço...não vá cá haver misturas.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Toda a gente sabe que:

1-Nem tudo o que se pensa se pode dizer;

2-Nem tudo o que se diz se pode escrever;

3-Nem tudo o que se escreve se pode publicar.

Anónimo disse...

"[...] por exemplo, não se pode dizer claramente que a religião e a irracionalidade são males, mas pode-se dizer claramente que a ciência e a racionalidade são males. Repare-se que não estou a defender que é verdade que a religião é um mal."

Desidério, daqui do Brasil, olhando para os Estados Unidos, tenho a impressão diametralmente oposta: ser religioso é uma grande ofensa, uma grande burrice; deve-se glorificar a ciência, já que ela "salvará" a humanidade.

Ou alguém leva Bush e a religião a sério? Ou a grande parte da Intelligentsia não é crítica da religião e da "irracionalidade"?

Goldmundo disse...

Como autor deste post aprenderia se falasse de Darwin aos inquisidores medievais ou se falasse da redenção por Jesus Cristo aos revolucionários de 1793, há censuras bem piores do que a autocensura.

Anónimo disse...

Sim, há umas quantas ideias que são tabu. Sim, a Igreja Católica castiga, ostracizando, quem com ela não concorda em algumas coisas.
Mas falemos de outras coisas:
Vão ver o filme «A Nuvem», que passa hoje no Gil Vicente, em Coimbra, sobre as consequências sociais de um eventual acidente numa central nuclear. É uma versão MUITO simplificada relativamente à versão original de Gudrun Pausenwang. Há personagens (importantes!) que não aparecem, temas (importantes!) que foram ignorados, e as consequências nefastas do nuclear surgem de certa forma branqueadas («naturalizou-se» o cancro, por assim dizer, e nada muda no modo de vida das pessoas em sociedade...), relativamente à obra infanto-juvenil de Gudrun Pausenwang, escrita pouco depois de Chernobil, creio. Mas é, mesmo assim, um filme interessante, particularmente agora, após as muitas pannes em centrais nucleares, e a discussão que tem havido sobre isso. Muito mais podia dizer, se as falhas no sistema não me tivessem feito perder uma explicação mais longa das diferenças entre o filme e a obra literária que lhe deu origem.
Abraço
Adelaide Chichorro Ferreira

Anónimo disse...

De alguns meses para cá a paranoia tem-se instalado nas hostes ateias e naturalistas. O que se passa?

Rita Marques

Björn Pål disse...

Rita Marques:
Porque o ataque ao racionalismo, ao método científico, no fundo, o ataque ao iluminismo, tem sido sistemático e bem concertado um pouco por todo o mundo mas com especial relevância numa sociedade/país que ainda é o ponto chave da nossa sociedade e tem sido o motor do progresso científico mundial: os Estados Unidos.
Na europa o "imperador palpitine" - leia-se Bento XVI - não faz mossa, felizmente, talvez excepto na Irlanda e na Polónia. Mas faz mossa em África e na América Latina.
Enfim assiste-se, talvez, à famosa "era de aquário", mais "espiritual". O que não é uma coisa boa, como os ingénuos New (old) Age acreditam que é.

Anónimo disse...

Curiosamente, o teórico Daniel Dennet apregoava há bem pouco tempo o carácter perigoso das ideias de Charles Darwin (no seu livro Darwin's Dangerous Idea), afirmando que as mesmas eram um autêntico "ácido universal".

Fazia-o com o orgulho de um perigoso rebelde. De resto, a mesma atitude está claramente presente em Richard Dawkins, nomeadamente nos seus livros "The Devil's Disciple" e "The God Delusion".

Agora, para o Desidério Murcho e companhia, parece os criacionistas é que são verdadeiramente perigosos.

Pelos vistos, o ácido criacionista (para usar uma terminologia evolucionista) parece ser ainda mais poderoso e corrosivo.

Em que ficamos? Quem é que é verdadeiramente perigoso?

Anónimo disse...

O Desidério Murcho, autoproclamado especialista em discurso e argumentação, finge não perceber que lança frequentemente mão de falácias quando toca a questão do criacionismo, da ciência e da religião. E não é só ele.


Vejamos:

Os criacionistas afirmam que não existe evidência conclusiva de que a informação genética esteja efectivamente a aumentar e a criar estruturas e funções inovadoras mais complexas.

Isto é essencialmente o que pretendem afirmar. As mutações aleatórias e a selecção natural operam sobre informação genética pré-existente que vão gradualmente deteriorando e eliminando.

Existem hoje muitos não criacionistas que começam a perceber este ponto.

Do mesmo modo, os criacionistas afirmam que não existe evidência conclusiva no registo fóssil de evolução gradual, no que são acompanhados pelos evolucionistas saltacionistas.

Assim, muitas das supostas evidências de evolução não passam de interpretações cuja "força probatória" se encontra totalmente dependente da prévia aceitação da crença evolucionista. (o que não deixa de ser uma falácia: o raciocínio circular)

Muitas outras, por uma razão ou por outra, acabam por se revelar totalmente desadequadas à defesa da evolução (v.g. Homem de Piltdown, Homem de Nebraska, Homem de Orce, órgãos vestigiais, embriões de Haeckel, junk-DNA, Archaeopteryx, Archaeoraptor, "penas" de dinossauros, Neandertais, Homo Erectus, Lucy).

Somando estas e outras linhas de argumentação, os criacionistas concluem que a ideia de criação especial e posterior dispersão, especiação e degenerescência, tal como é explicado na Bíblia, é a que melhor se adequa à evidência observável.

A falácia argumentativa surge quando os evolucionistas, em vez de se limitarem a encarar os argumentos criacionistas, recorrem à "sobre-generalização".

Esta falácia consiste em procurar apresentar os criacionistas como perigosos fundamentalistas que querem destruir a modernidade, a ciência, a civilização ocidental, estabelecer uma república teocrática e remeter toda a gente para a Idade Média.

Embora nada esteja mais longe da verdade, pelos vistos espera-se que as pessoas acreditam isso!!

Daí que se procure frequentemente estimular o ódio e a irracionalidade do "populum" (e esta é outra falácia), de forma a impedir a difusão dos argumentos contrários à teoria da evolução.

Ora, o que os criacionistas pretendem apenas dizer é: não existem evidências científicas concludentes de origem acidental do Universo e da vida nem de evolução gradual das espécies de partículas para pessoas.

A teoria da evolução, se pretende ser científica, tem que estar aberta à crítica, inclusivamente à crítica que pretenda pôr em causa a própria ideia da evolução no caso de não existir evidência que a suporte suficientemente.



Provavelmente, todos recorremos a falácias na nossa argumentação. Isso é quase inevitável, como bem demonstra a história da retórica.

Mas pelo menos devemos assumi-lo de forma auto-consciente, sabendo distinguir quando é que um argumento pode legitimamente favorecer a nossa posição e quando não pode.

Dizer que o criacionismo é perigoso por supostas razões ideológicas é apenas uma maneira falaciosa de não encarar as críticas científicas dirigidas ao evolucionismo.

Joana disse...

Os criacionistas afirmam que não existe evidência conclusiva de que a informação genética esteja efectivamente a aumentar e a criar estruturas e funções inovadoras mais complexas.

Afirmam com base em quê? Em mitos que são propagados desde o Neolítico? Porque não há um único facto empírico que suporte essa afirmação.

Mas se o Jónatas e restantes criacionistas estaõ tão certos disso têm bom remédio, ou antes, têm um remédio antigo: deixem de tomar os antibióticos de nova geração que com a perda de informação das bactérias a penincilina é tiro e queda!

A ciência está mais que aberta a críticas, a ciência É crítica, abandono de teorias quando não explicam os dados. Patetadas neolíticas e sobrenaturais não são críticas: são delírios de fundamentalistas!

falácia consiste em procurar apresentar os criacionistas como perigosos fundamentalistas

Não, são os próprios criacionistas que fazem a apresentação! Basta ir ver os sites criacionistas (ou ver virtualmente o Museu da Criação) para perceber que não são precisas falácias: os criacionistas enterram-se sózinhos com os disparates que dizem.

O criacionismo foi inventado pelos fundamentalistas americanos, vá ler os posts da Palmira sobre as pedradas da adventista do sétimo dia e sobre o Morris, anda de mãos dadas com o fundamentalismo - que quer dizer levar à letra os livros sagrados, o que o Jónatas faz.

O criacionismo é mais uma das coisas que os fundamentalistas querem impor à força de poder político e económico. Não há pevas de ciência no criacionismo, nem um cheirinho de ciência, o criacionismo não explica nada nem diz nada: só diz que factos, não teorias, factos sólidos, sobre os quais não há sombra de dúvidas, são falsos porque não estão de acaordo com a Bíblia.

Anónimo disse...

Num determinado post anónimo lê-se:
«Provavelmente, todos recorremos a falácias na nossa argumentação. Isso é quase inevitável, como bem demonstra a história da retórica.
Mas pelo menos devemos assumi-lo de forma auto-consciente, sabendo distinguir quando é que um argumento pode legitimamente favorecer a nossa posição e quando não pode.»

Reparem: isto é válido para os advogados pagos para defenderem uma determinada causa, mas não para cientistas. Então os cientistas não podem descobrir argumentos contrários à sua posição?! É legítimo seleccionarem ou manipularem os seus num determinado sentido? Não há tantos casos em que a evidência contraria as suas hipóteses iniciais?
É em parte isto que distingue Ciência de dogmatismo, egoísmo (ou auto-defesa, como quiserem...) e propaganda. A Ciência não vive de belíssimas catedrais feitas apenas de lógica pura e orientadas para um determinado fim aprioristicamente seleccionado.
Adelaide Chichorro Ferreira

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