quinta-feira, 19 de julho de 2007

Espelho meu...?


Agora que o Verão está aí e com ele a preocupação com a boa forma, e como não há duas sem três, publicamos mais um artigo da nutricionista Ana Carvalhas (saído no "Diário de Coimbra" de ontem).

Depois da morte, no último ano, de duas modelos brasileiras por anorexia mental, Madrid e Milão tomaram a louvável atitude de banir dos seus desfiles de moda modelos supermagras, isto é, modelos com índice de massa corporal abaixo de 18 kg/m2 (segundo a Organização Mundial de Saúde, são considerados de baixo peso indivíduos com índice inferior a esse valor).

Comer deixou definitivamente de ser um acto inocente. Nunca como agora houve tanta consciência dos efeitos que a alimentação tem na nossa saúde física e mental (no nosso corpo e na nossa imagem corporal). Hoje em dia, comemos não apenas para nos alimentarmos, mas também para sermos mais: mais atraentes, mais jovens, mais saudáveis, mais inteligentes, mais longevos, etc, etc.

A busca da silhueta ideal imposta pelos média tem conduzido aos maiores disparates alimentares. Com efeito, a anorexia, a bulimia e a obesidade são consequências de maus comportamentos alimentares. As anoréxicas e as bulímicas (uso o feminino plural porque são geralmente raparigas, as portadoras destes distúrbios - nove raparigas para um rapaz) são vítimas de medo excessivo de engordar. Os seus comportamentos vão da privação total de alimentos, forma adoptada pelas anoréxicas, até à restrição alimentar alternada com hiperfagia (ingestão excessiva de alimentos), forma adoptada pelas bulímicas. Mas estes dois tipos de comportamento ocorrem igualmente com os obesos que podem experimentar os efeitos nefastos do jejum, quando tentam perder peso, e de hiperfagia descontrolada, quando desistem da sua dieta. Em qualquer dos casos, tais comportamentos geram angústia e infelicidade, que abrem caminho a novas crises, entrando em ciclos viciosos.

A obrigação de ter de parecer uma ninfa pode também ser responsável por distorções psicológicas com graves consequências na auto-estima. Mulheres clinicamente normais, quer dizer, com peso adequado à sua altura, sentem-se muitas vezes, gordas e feias devido à pressão social. Baseada neste fundamento, a Dove, conhecida marca de cosmética, pôs em marcha um inquérito à escala global, em que foram entrevistadas 3200 mulheres de dez países. O estudo revelou que apenas dois por cento das mulheres se achavam bonitas e que cerca de metade se julgavam demasiado gordas. Na sequência, a Dove decidiu lançar no ano passado uma campanha pela beleza real cujo “slogan” era “mulheres reais têm curvas reais”. A ideia era ajudar as mulheres que não têm um corpo de “top-model” (obviamente a esmagadora maioria!) a realçar e a apreciar a sua própria beleza. Repare-se que cada cultura tem os seus padrões de beleza e cada um de nós herda dos progenitores ancas largas ou estreitas, pernas curtas ou longas, troncos curtos ou longilíneos, cinturas estreitas ou largas, enfim cada ser humano é único e irrepetível, com o seu encanto próprio, pelo que não devem gerar-se sentimentos de inferioridade. Cada mulher deve achar-se bonita tal como é!

Nem gordura é formosura nem magreza é beleza. No meio é que está a virtude. E é esse meio que temos todos, mulheres e homens, de procurar para nos olharmos, felizes, diante de um espelho: "Espelho meu...?"

6 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns! O seu blogue paréceme magnífico. Eleva considerablemente o nivel medio da blogosfera non só en canto a interese, mais tamén pola interdisciplinariedade. E por riba os artigos están ben fundamentados e exquisitamente seleccionados en canto á temática!.

Xa teñen un (outro máis) atento seguidor dende Galiza.

Anónimo disse...

Fiquei um pouco perplexa com "... índice de massa corporal abaixo de 18 kg/m2...".
Isto, dito assim, significa 18 kg em cada quadrado de 1m de lado, quer dizer, peso (ou massa???) por cada metro quadrado.
Ora, a fórmula que nos dá a massa corporal é: IMC=Peso/altura2 (não sei pôr o 2 lá em cima). Quer dizer, aqui multiplicar o valor da altura por o mesmo valor não quer dizer que estamos a calcular uma área, é apenas uma fórmula prática de calcular um valor que foi criado para quantificar uma grandeza.
Dito como está parece que o que interessa é o peso em relação à área (de quê?) e não em relação à altura.
Quem me fará o favor de explicar?
Obrigada, um abraço e um beijo para vocês todos!
Maria Daqui

Ljubljana disse...

"Hoje em dia, comemos não apenas para nos alimentarmos, mas também para sermos mais: mais atraentes, mais jovens, mais saudáveis, mais inteligentes, mais longevos, etc, etc."

Também pensava assim, mas depois do que vou vendo quando vou às compras de alimentos e lendo disto:

"Enquête : Acides gras trans, le poison qui ne doit plus être ignoré.
Chips, barres chocolatées, biscottes, plats cuisinés : les AG trans sont partout, mais jamais sur les étiquettes. Et pourtant, ces graisses cachées sont une réelle menace pour la santé....surtout celle des plus jeunes. Quelques grammes par jour, et le risque cardiovasculaire grimpe en flèche. Enquête dans nos assiettes"

Science e Vie de Junho

Cada vez mais tenho receio do puro e simples acto de comer. Cada vez tenho mais a sensação de que ao comer, eu estou a ser envenenado.

Antonio disse...

Cara Maria Daqui,

Essa relação (quadrado da altura) não necessita de ser explicada por um nutricionista, nem tem a vêr com volume, pois quando se cresce em altura, não se cresce para a frente nem para os lados. :-) Uma pessoa de 2 metros de altura não tem o dobro da largura nem o dobro do comprimento de uma de 1 metro. Isso foi apenas uma aproximação ao desenvolvimento proporcional do corpo, que por cada unidade de altura, deve crescer uma proporção derivada da progressão em altura. 18, é o valor do indice calculado a partir desses dados, e é uma aproximação muito boa, dentro dos padrões normais de altura dos humanos, desde os mais baixos até aos mais altos.

Anónimo disse...

Caríssimo António:
Ou V. nâo percebeu o que eu queria dizer ou, o mais provával, eu é que não compreendo o que V. me quis dizer.
Eu estava à espera que me dissessem que o IMC, sendo um índice, deve ser referido apenas como um número, já que é matematicamente uma relação. Por isso não pode ser qualificado com quaisquer grandezas.
Quer dizer, é só 18 ou 20 ou 26. Não é, nem pode ser, kg/m2 ou gr/m3 ou km/s ou qualquer outra unidade seja ela qual for.
Uma relação é, e só pode ser um número, julgo eu.
Mas, concordo consigo, um nutricionista talvez não necessite, nem consiga, explicar isto (sem qualquer ponta de crítica, entenda-me bem, por favor).
O que eu pretendo dizer é que a Drª Ana Carvalhas deveria ter escrito "... índice de massa corporal abaixo de 18..." e não "...18 kg/m2..."
Mais um abraço (em especial para o António, a quem agradeço ter-se dado ao trabalho de me responder)
Maria Daqui

Antonio disse...

Cara Maria Daqui,

Só posso dizer: Ooooops!
Não me tinha apercebido do m2 no texto do post. :-) Isso muda o sentido da pergunta da Maria por completo.

Cumprimentos
António

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