domingo, 6 de maio de 2007

A emoção da omnisciência

Uma chave para compreender a procura racional de verdades que caracteriza a ciência e a filosofia é a noção de erro. As tradições sapienciais baseiam-se na ideia de que, em certas circunstâncias, não há erro — pelo que nem vale a pena pôr em marcha quaisquer actividades críticas, que visem interrogar pormenorizadamente se será verdade o que parece verdade. Um deus, um livro sagrado, uma meditação transcendental, uma intuição tântrica, uma experiência mística, uma trovoada — qualquer coisa serve para tentar colocar algumas afirmações fundamentais sobre o mundo e a vivência humana para lá da actividade crítica e irritante de perguntar “Mas será que isso é mesmo verdade?”

As duas atitudes perante a descoberta de verdades parecem corresponder a dois perfis emocionais distintos, e valeria a pena investigar empiricamente esta hipótese. Quem se entrega à procura racional de verdades parece retirar imensa satisfação do próprio acto de investigar: levantar hipóteses, explorar possibilidades, descobrir objecções, refinar teorias, fazer observações cuidadosas, deter-se em pormenores fundamentais. Pelo contrário, quem sente maior atracção por uma ou outra forma de tradições sapienciais — seja a New Age, a astrologia, a religião ou o ocultismo — parece não ter qualquer gosto nas actividades referidas, retirando antes a sua satisfação da posse da certeza inabalável, da sensação de que se alcançou uma Verdade fundamental que agora resta aplicar e reinterpretar, para se poder ir à vida, entretanto vivencialmente transformada pela Verdade.

Não se trata de dizer que quem investiga não gosta de chegar a resultados, nem se trata de dizer que quem se entrega às tradições sapienciais não tem gosto pela descoberta. É apenas uma questão de ênfase, um pouco como a diferença de ênfase entre quem é professor porque adora a sua profissão — mas gosta igualmente de ganhar o seu ordenado ao fim do mês — e quem é professor mas deixaria de o ser no dia em que lhe saísse a lotaria porque o que realmente lhe interessa é o ordenado ao fim do mês. É uma questão de ênfase.

Assim, quem se sente algo impaciente com a procura terá tendência para conceber sistemas automáticos e irrefutáveis de alcançar a Verdade. Seja a meditação, seja a tradição religiosa, seja a astrologia, seja a , seja o que for. A ideia é que há uma fonte infalível de verdade, que permite pôr fim à procura e à incerteza. Não se trata de dizer que quem sente gosto pela investigação em si, pelo caminhar em si, não tenha gosto nos resultados — como o professor talentoso tem também gosto em receber o seu ordenado, o investigador tem gosto pelos resultados. Mas o investigador encara quaisquer resultados que sejam pretensamente infalíveis e obtidos sem abertura crítica como um prazer roubado: não foi resultado da investigação paciente da verdade, da separação cuidadosa entre o erro e o acerto, que andam sempre misturados.

Poderá uma intuição directa, ou a fé, ou a tradição ou as mensagens deixadas pelos extraterrestres nas pirâmides do Egipto dar-nos a verdade sobre o mundo ou sobre a vivência mais autêntica? Sem dúvida que sim. Mas para o investigador, tudo isto são apenas pontos de partida e não pontos de chegada. Todo o investigador sabe que não se pode fazer física, matemática ou filosofia de maneira mecânica: precisamos de imaginação, talento, insight. E sabemos distinguir nos trabalhos dos nossos colegas precisamente os que são áridos, ainda que tecnicamente correctos, dos que revelam uma compreensão alargada das coisas, uma compreensão enriquecedora. A diferença fundamental é que o investigador racional usa todas essas fontes não como autoridades infalíveis, mas apenas como pontos de partida. O trabalho mais importante vem depois, sob a forma de justificação, medição, teorização, levantamento de objecções, debate público com os pares, procura de contra-exemplos, abertura à refutação.

O herdeiro da tradição grega tem um insight e a seguir investiga as coisas cuidadosamente, expondo o insight à possibilidade de ser uma ilusão — e tem gosto nessa investigação crítica e aberta. O herdeiro das tradições sapienciais agarra-se a esse insight como critério único e final de verdade — e protege da crítica o seu insight, declarando-se omnisciente por interposta pessoa: os deuses são omniscientes e fontes de verdade e deram-lhe aquele insight, portanto como se pode duvidar da sua verdade? Como escreveu Gedeão: “homens ditosos a quem Deus dispensou de procurar a verdade”.

A grande ilusão das tradições sapienciais é a omnisciência. A hipótese aqui apresentada é que um factor importante para explicar tais tradições poderá ser a constituição emocional de algumas pessoas, que preferem respostas prontas a investigações complicadas e abertas à dúvida. Neste aspecto, não há grande diferença entre a mentalidade sapiencial e a tecnocrática: a investigação pura não tem valor, é até vista com alguma desconfiança, porque o que interessa é ter a verdade no bolso para ir à vida — num caso, para fazer pontes e auto-estradas, no outro para fazer igrejas e ter a experiência renovada da ligação mística com o sobrenatural, ao mesmo tempo que reforçamos a crença algo infantil na nossa importância cósmica no seio da ordem universal.

24 comentários:

Bruce Lóse disse...

Dério,

Se há dias o acusaram de compadrio subreptício com o Jorge, hoje devemos-lhe um aplauso pelo seu post que, levado à letra, teria um efeito autoclismo sobre alguns posts da equipa azul.

Acrescentar só o seguinte. Transparece no seu texto uma conceptualização lírica da "investigação", talvez por distância física aos departamentos de ciências. Já o tenho visto usar do seu Dicionário dos Termos Filosóficos, e acho que seria útil definir uma fronteira entre a investigação - conceito abstracto, e investigação - acto académico. Principalmente porque, na dúvida, fica a hipótese de o Desidério estar a enaltecer a metade errada.

José Oliveira disse...

Viva!

Muito obrigado ao Desidério por mais um post muito interessante.

Penso que podemos viver a nossa vida - pelo menos este aspecto da vida - de duas maneiras:

1) Podemos pensar que a Verdade já foi atingida/revelada, a ficarmos muito "sossegadamente" no nosso cantinho sem fazer ondas ou

2) Podemos tentar descobrir o mundo, ainda que essa descoberta nos deixe desamparados perante o Mundo.

Por mim prefiro a segunda. Penso que tem muito mais valor uma pessoa que tenta, através da sua interacção com outros e com o Mundo, criar um sentido e um rumo para a sua vida - ainda que pelo caminho sofra muitos dissabores e percalços - do que ficar cobardemente agarrado ao que outros disseram, sem pensar.

Obviamente que custa muito mais seguir o caminho da autonomia, porque nunca sabemos onde nos levará. Ma penso que mais importante que o destino, é o caminho que escolhemos. E como escrevia alguém, não há caminho para o caminhante. Ele fá-lo a caminhar...

Anónimo disse...

O erro por vezes é o impeto de um processo heuristico que pode valorizar a investigação. Nãp deve, por isso, ser menosprezado...ou cultivado..mas respeitado.

http://socres.org/vol72/issue721.htm#bios

Rui leprechaun disse...

As tradições sapienciais baseiam-se na ideia de que, em certas circunstâncias, não há erro — pelo que nem vale a pena pôr em marcha quaisquer actividades críticas, que visem interrogar pormenorizadamente se será verdade o que parece verdade. Um deus, um livro sagrado, uma meditação transcendental, uma intuição tântrica, uma experiência mística, uma trovoada — qualquer coisa serve para tentar colocar algumas afirmações fundamentais sobre o mundo e a vivência humana para lá da actividade crítica e irritante de perguntar "Mas será que isso é mesmo verdade?"


Bem, confesso que ainda nem sequer vi o resto do texto, ou seja, fiquei-me logo por aqui!

Será que se está a afirmar acima o retorno ao tal "magister dixit", ou o seu sucedâneo escolástico, "Roma locuta, causa finita", contra o qual, e muito bem, o conhecimento empírico e depois científico se foram rebelando quando afinal se descobriu que Aristóteles não estava sempre certo?!

Ou ainda, onde está esse argumento da autoridade "sapiencial" - whatever that is! - que exclui a tal interrogação naturalíssima e sábia sobre se isso é mesmo verdade?

Repito ainda e uma vez mais que intuição e razão NÃO são mutuamente exclusivas mas, pelo contrário, inclusivas!!! Sim, há por certo entre ambas também um princípio de complementaridade, de facto talvez as duas não se possam manifestar simultaneamente, mas cada qual possui uma natureza própria que completa e engrandece a outra... why not?!

Isto recorda-me uma interesantíssima reflexão de De Broglie, que me parece vir muito a propósito em defesa do que digo acima:

A dupla natureza corpuscular e ondulatória que tivemos de atribuir aos elementos da matéria levou-nos a pensar que uma mesma realidade se nos pode apresentar sob dois aspectos, que, a princípio, pareciam irreconciliáveis, mas que, na realidade, nunca se encontram em conflito directo. De facto, quando um desses aspectos se patenteia, o outro esvai-se exactamente na medida necessária para que uma flagrante contradição possa sempre ser evitada. [...] Qualquer que seja o valor que se deva atribuir a tais extensões do conceito de complementaridade, não resta dúvida de que esse conceito é, em si mesmo, de grande importância, e parece susceptível de abrir horizontes completamente novos à reflexão filosófica.

Exactissimamente... that's it really!!! Mais ainda, o conhecimento da "verdade" é sempre um processo dinâmico e nunca estático, algo com que por certo a ciência está 100% de acordo, suponho!

Não posso negar que haja... ou tenha havido... as tais "tradições sapienciais" acima referidas. É até possível que ainda por aí existam algures, em pleno séc. XXI. Sei, contudo, que tanto no Ocidente como no Oriente, as grandes tradições espirituais não pediram fé cega nem irracionalidade aos seus aderentes. Bem, pelo menos na sua origem, note-se! Se depois houve deformação ou desvios dessa norma original, então aí já estamos perante a corrupção da primitiva tradição, logo um tal exemplo "herético" não será o mais apropriado.

No texto acima, a palavra "verdade" aparece repetida 3 vezes. Segundo a tradição budista, no seu nirvana final... ou à hora da morte... Buda terá perguntado ao seu discípulo dilecto, Arjuna, o seguinte:

Crês no dharma porque o Buda to ensinou ou porque tu próprio o experimentaste?

É que, tal como na ciência material, também nessa outra transcendência do conhecimento interior - gnothi seauton! - só vale mesmo a via da experiência... THERE IS NO OTHER WAY!!!

A diferença é que aqui cada um tem de experimentar TUDO por si próprio, cientista a 100% do seu íntimo saber e não se pode fiar na realização do vizinho ou cientista do lado... o percurso da Divina Ciência é para ser percorrido do princípio até ao fim pelos próprios passos do viajante... de pé, de rastos, de bruços... you've got to walk man, do it NOW!!!

Pensar que a palavra da escritura ou o ensinamento do Guru ou a iluminação ou a revelação divina ou os ET e sei eu lá mais o quê! são o supra sumo do conhecimento... a Verdade!... é ignorar completamente a íntima realidade, porque não é simplesmente nadinha disso, nunca foi e por certo nunca o será!!!

De facto, o percurso do autoconhecimento, ou o desvendar da consciência de quem somos é extraordinariamente escorregadio e dificílimo! Os nosso sentidos estão naturalmente virados para o exterior e é com a realidade material... "maya" ou não, que importa?!... que contactamos todos os dias, a cada hora e minuto! Ter consciência da suprema realidade do Ser nestas condições é uma tarefa hercúlea e a dúvida metódica e constante do "Mas será que isso é mesmo verdade?" assalta aquele que deveras busca o único e mais alto saber, sim!

Porque quem se acomoda com saberes estáticos e pensa que já chegou ao fim da jornada, provavelmente nem sequer iniciou o caminho. E não vejo razão alguma para que o conhecimento do mundo exterior - Ciência e Matéria - e o do interior - Espiritualidade ou Consciência - não caminhem par a par, pois eles são apenas complementares e nada mais!

Razão e intuição - conhecimento directo, insight - não são inimigas mas irmãs. Aquele que busca a transcendência... porque crê nela e a experimenta... não abdica da razão nem a pode aliás dispensar no seu viver. Mas o entendimento lógico e racional NÃO é a única via para o conhecimento, e deveras nem é o caminho principal para o autoconhecimento ou a visão do Puro Ser!!!

Como se pode isto de outro modo dizer?!?!?!?!

E sim, a mais alta poesia é também o reflexo desse íntimo vislumbre no sempiterno e indizivelmente maravilhoso Reino do Amor... que existe, que existe, que existe!!!

Eis como Sophia o soube e cantou ainda viva... NDE ou não!... what does it matter really, if Love does always and always know?!?!?!?!

Apenas imagino que me espera
No infinito silêncio a pura face
P'ra além da vida morte ou Primavera
E que a verei de frente e sem disfarce


Beautiful, beautiful, beautiful beyond belief...

Rui leprechaun

(...for this Undying LOVE ever Lives!!! :))

Fernando Dias disse...

Como naturalista, não acredito no divino, nem em coisas sobrenaturais, nem em teorias esotéricas. A emoção e o “espiritual = mental” é natural, a omnisciência não. Não existe “uma Verdade fundamental”, nem há “uma fonte infalível de verdade”. “Quem se entrega à procura racional de verdades com investigação paciente” são os cientistas e os matemáticos. As ciências podem ter graus de aproximação à verdade, conforme padrões de exactidão em cada época histórica. Mas em minha opinião, a questão da verdade em si mesma, sendo um assunto conceptual, é do foro filosófico. As ciências não resolvem problemas conceptuais. Visam explicar os fenómenos contigentes da natureza com teorias e hipóteses, confirmadas ou não pela observação e experiência. Por seu lado, a filosofia não visa explicar fenómenos naturais. As elucidações da filosofia são validadas ou refutadas por argumentos lógicos e racionais. As matemáticas constroem demonstrações, que servem muitas vezes de âncora às ciências na medida em que a verdade destas não pode ser rigorosamente definida na linguagem natural.

Depois de Gödel e Turing parece que se provou a impossibilidade das matemáticas chegarem à verdade, por limitações dos padrões que se servem dos sistemas de raciocínio do nosso cérebro. E não seria crível que ele tivesse essa “importância cósmica no seio da ordem universal”.

Anónimo disse...

"Homens ditosos a quem deus dspensou de procurar a verdade" Quando se perde a referência da Verdade como algo de Humano, corre-se o sério risco de sacrifica-la em vão.
Talvez Nietzsche na sua douta"loucura" tenha acedido à verdade Sou Humano demasiado humano e nada do que é Humano me é estranha".

:: rui :: disse...

F.Dias said...
Como naturalista, não acredito no divino, nem em coisas sobrenaturais, nem em teorias esotéricas.

>>> Acreditas em algo então. Acreditas no naturalismo.

Pergunto, se não há uma verdade fundamental e absoluta, porque é que dizes isso tudo de uma maneira absoluta? Acreditar no naturalismo é absolitivizar o naturalismo em contraposto com outro absoluto. Mas primeiramente teria de se perguntar, o que te faz absolitivizar algo? Como chegas a esse absoluto? Será por alguma noção de certo e errado? Esse naturalismo é o absoluto certo, o absoluto divino não o é. Então, estarás a usar conceitos emprestados da perspectiva cristã pois foi nesta que estes foram introduzidos. E depois é a questão de andarmos à volta da verdade, mas não a querermos mesmo. Assim podemos escapar a alguma questão quando já não nos interessa. Escorregar para outro entendimento ou como diz o leprechaun, "experimentar TUDO por si próprio" e dar a melhor explicação de acordo com a situação.
No simpósio, um dos facilitadores dizia todo satisfeito: "É tão surpreendente acreditar que tudo surgiu do nada! O nada tem significado!" Como é possível nada ter significado? Nada é nada, vazio, nulo, neutro... e dá a possibilidade de poder escorregar para qualquer entendimento que sirva a qualquer situação, sempre indo buscar emprestado os entendimentos cristãos que em boa altura Deus se lembrou de mostrar às pessoas que viviam no mundo. E andamos nós neste escorrega a ver quem consegue escorregar em grande estilo e convencer os outros dessa experiência alucinante que deve ter tido um início, como qualquer experiência tem, mas que parece que convém que seja no nada, para dar oportunidade a poder escorregar para outros entendimentos quando a questão lhe toca nalgum ponto crítico, que foi o que aconteceu no simpósio quando alguém perguntou o que é o nada realmente. "Outra pergunta por favor?"

Sair do pós-modernismo não é fácil, mas é possível. Não é uma experiência, é um processo. E não parte só de vocês. Mas terão o apoio de quem já lá esteve e viu que o constante escorregar só traz mais infortúnio e destabilização. Nada do que acontece hoje é novo. Portanto, escorregar é algo que acontece desde o inicio da humanidade. Mas, acreditem que o deixam de o fazer quando começarem a querer ver a vida com os olhos daqueles que vocês tanto "atacam".

Um bom dia a todos.

Alef disse...

Este texto é muito pouco rigoroso e incompleto e mete-se em dicotomias desnecessárias. Por um lado, mete no mesmo saco coisas muito diferentes. Por outro, caracteriza-as mal, com generalizações inaceitáveis. E nem lhe faltam contradições.

Dizer que as tradições sapienciais se caracterizam pela omnisciência não tem qualquer sentido, porque há muitas tradições sapienciais que se caracterizam precisamente pelo seu contrário e, na verdade, não me consta que exista uma única sequer que se diga omnisciente. Basta pensar, no âmbito bíblico, em dois casos bem interessantes: o Livro de Job e o Livro de Cohelet (ou Eclesiastes). São livros sapienciais e bastariam estes para refutar este «post». Mas tenha-se também em conta as tradições da teologia mística, as teologias apofáticas-catafáticas, clássicos místicos como The Cloud of Unknowing ou a «Noite Escura da Alma» de S. João da Cruz. E muitos outros místicos mais recentes. E poderia citar muitos outros casos fora do âmbito cristão, por exemplo, do hinduísmo, ou mesmo das tradições sufis. Fica-me a sensação de que este «post» não dá a mínima conta de todo este vastíssimo filão.

Além disto, não deixa de ser curiosa a ambiguidade da abrangência de tal omnisciência. Por um lado, a omnisciência está nas tradições sapienciais; por outro lado, «o herdeiro[?] das tradições omniscientes» declara-se «omnisciente por interposta pessoa: os deuses são omniscientes e fontes de verdade e deram-lhe aquele insight, portanto como se pode duvidar da sua verdade?». Isto não tem qualquer sentido. No mínimo, confunde-se «certeza absoluta» com «omnisciência». Por outro lado, a «omnisciência por interposta pessoa» é uma expressão absurda. Nenhuma corrente sapiencial, mística ou coisa do género declara omnisciência! Pelo contrário, é frequente ver correntes místicas que, quanto mais crescem em profundidade, mais declaram a impossibilidade de entrar nos «mistérios insondáveis» de Deus ou da realidade. Note-se a força da metáfora em tantas dessas correntes, precisamente pela dificuldade de «dizer» o «inefável».

Quanto aos «dois perfis emocionais distintos», também me parece completamente artificial esta distinção, porque ambos os perfis assinalados se podem encontrar nas tradições sapienciais e possivelmente também em alguns cientistas.

Provavelmente estaremos sempre em desacordo nestas matérias, talvez por partirmos, implícita ou explicitamente, de teorias muito diferentes da inteligência humana. Creio que o Desidério continua(rá) numa linha de pensamento que reduz o campo do «racional» e do «conhecimento», dando a impressão de que esse pequeno território é o único válido e que implica a exclusão de todos os outros, como se estivessem em competição. Provavelmente isto explica a necessidade de contínua exclusão da fé, da religião, das tradições sapienciais, etc. Ora, eu acho que, sem confundir a ciência com a filosofia e estas com religião, tradições sapienciais ou morais ou outras, se pode evitar uma certa «esquizofrenia» ou «maniqueísmo» epistemológicos. Considero que um cientista pode ser também um homem de fé e até um místico, sem que isso faça dele menos cientista. Evidentemente, estou a falar de «místico» num sentido específico (por exemplo, místico cristão) e não no de certos «misticismos» que pretendem substituir a ciência por outras coisas. A ciência tem um âmbito próprio na existência humana e não está necessariamente em competição exclusivista com os outros modos de abordagem da realidade que somos e que nos rodeia. Uma tal visão é bastante míope e continuará a combater moinhos de vento, favorecendo, ironicamente, o campo dos erros opostos, como é o caso do criacionismo.

Alef

Fernando Dias disse...

Rui,

Falar daquilo em que acredito e do que não acredito não significa dizer que estou certo e os outros estão errados. É uma questão de honestidade intelectual confessar o estado das nossas crenças sem fazermos o favor à hipocrisia. Por mais esforços que eu faça, certas crenças não conseguem entrar na minha cabeça. O que hei-de fazer?

Tive a oportunidade de contactar de perto com muitas pessoas antes de morrerem por dever de ofício profissional. Em todo o caso não foram muitos os que vi morrer e que ainda estavam lúcidos, sabendo perfeitamente que iam morrer dali a pouco tempo. Tive a honra de partilhar com eles conversas serenas sobre a morte e sobre o que poderia vir depois. Alguns disseram-me que eram ateus e morreram em harmonia e em paz consigo próprios. Eu dizia sempre às pessoas que não era ateu, que era agnóstico. Alguns perguntavam-me qual era a diferença. Eu respondia que um ateu, como um crente, só acredita numa coisa. Um agnóstico não acredita em nada, duvida de tudo. Eu sou daqueles que não tenho uma certeza. Para mim, os contactos com essas pessoas antes da morte, constituiram não só uma grande lição de morte, mas também uma grande lição de vida.

Rui leprechaun disse...

A grande ilusão das tradições sapienciais é a omnisciência. A hipótese aqui apresentada é que um factor importante para explicar tais tradições poderá ser a constituição emocional de algumas pessoas, que preferem respostas prontas a investigações complicadas e abertas à dúvida.

Hummm... a emoção da omnisciência é um belíssimo título, sim!!! :)

No cômputo geral, e pese embora as reticências originais, posso até concordar que é um belo artigo, ó Desidério, caso não nos esqueçamos que a emoção também parece andar de braço dado com a inteligência, logo com a curiosidade intelectual, ou não?!

Já agora, há algum slogan do tipo "ciência com emoção"... da mesma forma que existe o tal "ciência com consciência"? Creio que ficava bem, pois então! ;)

Bom, mas "omnisciência"... that is a high, high claim indeed!!! Anyway, só me posso de facto repetir... isto é um círculo ou espiral viciosa!

Mas vejamos ainda este ponto interessante sobre as investigações complicadas e abertas à dúvida. Pois bem, por certo as haverá muitíssimo e extremamente variadas em todos os campos da ciência... no doubt about it! Mas será que aquilo a que se pode chamar "the quest for consciousness" não entra nesse conceito bem desafiador do engenho humano?!

Pelo menos, naquilo que me diz respeito e no meu principal campo de interesse que aqui tenho vindo a debater, considero o problema da consciência absolutamente fundamental, e não só para a ciência "stricto sensu", mas também para a encruzilhada espiritual ou civilizacional em que a Humanidade, uma vez mais, se encontra.

E sim, a questão não é apenas científica, mas também religiosa e filosófica ou metafísica. Mas dando mesmo de barato que a ciência é a grande fonte de conhecimento - (omnis)ciência, isso sim! - será assim tão difícil investigar a relação cérebro-mente fora dos padrões batidos e repisados da neurofisiologia e nada mais?!

Ou ainda, o que há de não convencional ou excepcional na pesquisa de fenómenos que alegadamente até podem fazer alguma luz sobre a "independência" da mente vs. cérebro?!

Aliás, desde há já umas 3 dezenas de anos, no mínimo, diversos investigadores em vários campos têm
realizado experiências muito inovadoras no domínio da consciência. E atenção, porque nem todos eles são ilustres desconhecidos! O biólogo Rupert Sheldrake, por exemplo, não é propriamente uma figura de segundo plano, tal como o psicólogo Daryl Bem e outros. Mas não parece terem muito sucesso a convencer o mundo científico com a teoria da ressonância mórfica ou as experiências ganzfeld... pelo menos para já! É que talvez estejam ainda um pouco adiantados para o seu tempo, sei lá...

Bem, há algumas outras explicações um pouco mais humanas até, diga-se... Mas não perdendo o fio à meada, e retomando um argumento que não me canso de esgrimir, repare-se só neste diálogo entre Daryl Bem e Michael Shermer, um psicólogo e especialista em "pseudociência":

Most academic psychologists do not yet accept the existence of psi, anomalous processes of information or energy transfer (such as telepathy or other forms of extrasensory perception) that are currently unexplained in terms of known physical or biological mechanisms. (Daryl Bem)

Why don't scientists accept psi? Daryl Bem has a stellar reputation as a rigorous experimentalist and he has presented us with statistically significant results. Aren't scientists supposed to be open to changing their minds when presented with new data and evidence? The reason for skepticism is that we need both replicable data and a viable theory, both of which are missing in psi research. [...] The deeper reason scientists remain skeptical of psi — and will even if more significant data are published — is that there is no explanatory theory for how psi works. (Michael Shermer)

Mais do que muito elucidativo... sem teoria não há nada p'ra ninguém, já que as observações e os resultados são mesmo interpretados segundo o modelo teórico proposto e, até ver, realismo materialista e materialismo realista... periquito quer alpista!!! :o)

Tudo o que vá para além da neurofisiologia parece ser tabu no campo da investigação da consciência. E qualquer teoria ou explicação que soe... mesmo vagamente... a místico ou espiritual, religioso ou transcendental... no, no that can't be!... get away from me!!!

Para terminar, eis o que Terence McKenna, um filósofo new age... e psicadélico, pior ainda!... diz sobre Sheldrake:

...make no mistake about it, the overturning of a scientific paradigm is a political act, and it has to do with reputations, and tenure, and publication, and people who have built their lives defending something that they now see under severe attack.

Eu estava a evitar trazer isto para este campo um pouco menos digno, mas lembrando-me daquilo que Magueijo também diz no seu livro... Power trips and human weakness after all...

Mas gostei desse título... very nice! E creio que pode ser correcta essa distinção emocional na busca da verdade, sim, não tanto da omnisciência mas mais da transcendência!

Citius, altius, fortius...

Rui leprechaun

(...ignotum per ignotius! :))


PS: Se há por aqui alguém curioso e muito coca-bichinhos como eu, eis um vídeo de Kenna e Sheldrake sobre a tal Morphogenetic Field Theory. Bem, os memes de Dawkins tiveram mais sucesso... para já! ;)

http://video.google.com/videoplay?docid=
8346001127958763110&q=sheldrake

Anónimo disse...

Só pela fé se pode crêr no naturalismo, já que não existe nenhuma explicação naturalista plausível para a origem do Universo, da Vida, do Homem, da linguagem, da consciência, dos sexos, etc.

Os naturalistas têm a sua fé, e os crentes em Deus também têm a sua fé. Resta saber qual é a fé que pode ser mais facilmente compatibilizada com a extrema complexidade do Universo e da Vida: a crença em processos aleatórios, ou a crença num Deus sobrenatural?

:: rui :: disse...

Este último anónimo (que talvez fosse sensato apresentar nem que seja um nome) apresentou realmente a questão. Porque preconceituosos somoso todos. Todos vivemos sobre preconceitos definidos. Agora a questão é saber que preconceito é o mais acertado sobre o qual podemos viver.

f.dias diz:
"Falar daquilo em que acredito e do que não acredito não significa dizer que estou certo e os outros estão errados."

O que te faz dizer o que dizes então? Se nao estiver certo, (ou seja, se nao estiver dentro de um preconceito), entao o que te faz dizer o que dizes? Cai de onde os teus entendimentos?

"É uma questão de honestidade intelectual confessar o estado das nossas crenças sem fazermos o favor à hipocrisia."

Crenças que ora são uma coisa ora são outra conforme a situação o pede. Ora compromete ora descompromete. Se por exemplo (supondo) que estás noivo, pedes a tua noiva em casamento, estarás a pedir um compromisso dela e nao estarás à espera que depois diga que não por qualquer razão para depois dizer que sim numa outra situação que lhe interesse. O que podes afirmar é que poderás querer entender melhor e estás confuso e isso é normal.

"Eu dizia sempre às pessoas que não era ateu, que era agnóstico. Alguns perguntavam-me qual era a diferença. Eu respondia que um ateu, como um crente, só acredita numa coisa. Um agnóstico não acredita em nada, duvida de tudo. Eu sou daqueles que não tenho uma certeza."

De certeza que nao tens nenhuma certeza? Eu diria que tens certeza que nao tens certeza. E diria que como agnóstico, acreditas que nao acreditas em nada. E acreditas que duvidas de tudo. Ninguém é neutro, o zero não é um lugar especial para estar, como ouvi dizer no simpósio. Podes querer afirmar que ainda não entendeste bem sobre o que acreditas, estás confuso e isso é normal.

Concordo com o Alef que diz "Considero que um cientista pode ser também um homem de fé e até um místico, sem que isso faça dele menos cientista.", ele acredita que a sua fé o vai ajudar no seu trabalho científico e se forem a ver, muitos dos mais famosos cientistas eram homens de fé. E esta fé não prescinde da relação pessoal com Deus, que criou todas as coisas.

Nao concordo contudo, que por causa da ciência ter uma visão exclusivista é que surgiu o criacionismo, dado que este surgimento recente já não é novo. Nada do existe hoje é novo e podemos querer afirmar que ainda não entendemos verdadeiramente as questões e estamos confusos e isso é normal. O que não é normal é viver na confusão e achar que esse é o lugar para estar. Ou se acredita ou nao. Ou se compromete ou nao.

O Desidério escreveu no último artigo que publicou "Geralmente, estamos dispostos a pensar que os nossos hábitos, as nossas convicções, a nossa religião e os nossos políticos são melhores do que os deles, ou que os nossos direitos dados por Deus anulam os direitos deles, ou que os nossos interesses exigem ataques defensivos ou dissuasivos contra eles."

A questão é que na questão de fé, não há uma fé melhor que outras, mas sim, a fé. As outras são variações desta, parecendo-se com esta e que por isso, desencadeiam reacções parecidas como aquelas que se vêm. Gostamos de ter opiniões e defendê-las e isso até poderia ser interessante se não fosse o caso de cada vez mais cada pessoa defender a sua própria opinião contra as outras todas e isso vai dar lugar a que num futuro próximo teremos cada pessoa a falar como que uma linguagem diferente e ninguém vai poder dizer seja o que for sem que não haja outro alguém a perguntar o que cada palavra significa. E consegue-se chegar a este ponto.

Ainda agora estava a ver um documentário na RTP2 e um cientista dizia que o universo está a acelerar. Quando lhe perguntaram as razões, ele não sabia responder. E esta resposta vai estar lá sempre para aqueles que continuam a procurar uma resposta (ou uma opinião) sobre as questões básicas da vida e não querer ver voluntariamente que estas encontram-se na Palavra de Deus. Vamos continuar a batalhar voluntariamente em vez de ceder a nossa razão àquele que a criou.

O pós-modernismo está cheio de egocentrismo e narcisismo. Definitivamente está cheio de possibilidades de uma continuação de uma batalha por uma resposta já dada e negada.

f.dias disse:
"Por mais esforços que eu faça, certas crenças não conseguem entrar na minha cabeça. O que hei-de fazer?"

Pedir ajuda a Deus que te dê o entendimento. Ele te dará, garanto-te, pois eu também achava que só dependia de mim tê-lo, mas pelos vistos não foi bem assim. E surpreendo-me a cada dia com o que recebo. Continuar a batalhar por algo já há muito fornecido é realmente desperdiçar oportunidades. Nada do que se passa hoje é novo. E o nada não é um lugar especial para estar.

Anónimo disse...

“O Comandante Guélas formulou os princípios, métodos e leis que foram capazes de reduzir o sofrimento Paço Arquiano e engrandecer o seu florescimento.”
Quitéria Barbuda

www.riapa.pt.to

Anónimo disse...

Ena Pá! 2007!

Anónimo disse...

Este artigo parece tudo menos o produto de um pensamento filosófico. O leitor que se identifica pela primeira letra do alfabeto hebraico deu uma belíssima resposta, mas parece-me que ainda restam muitos pontos a considerar. O tom ligeiro, a incongruência das relações estabelecidas, o recurso a eventuais axiomas que a filosofia não comporta, o fingido desconhecimento de que poucos objectos do pensamento humano têm sido tão discutidos e estudados como a Religião, etc. tudo isto dá a impressão de que o autor imagina que escreve para gente inculta, o que é uma falta de respeito pelos utilizadores do blog, e que todos os crentes são estúpidos, o que é uma afronta a quem tem tanto direito de acreditar quanto ele de não ter fé.
Lembro que o inexistente não pode ser provado, e logo aí D.M. falha num dos pontos essenciais do raciocínio filosófico, valendo-se do pressuposto axiomático onde ele não se justifica.
Depois cai naquela banalidade da falsa humildade do orgulho de reconhecer(?) que afinal não temos "importância cósmica universal". Falando em termos filosóficos (a chamada de atenção seria desnecessária se o artigo não fosse tão pouco sério filosoficamente falando), para que haja existência é necessário um objecto e um sujeito. Que mais não seja o sujeito, como ser pensante (tome lá o Descartes e o Schopenahuer, se lhe vir que dão jeito)) tem de se transformar em objecto de si mesmo. Portanto, para que o Universo tenha existência real, não podendo ser sujeito de si mesmo, só a terá havendo quem possa servir de sujeito que lhe complete a existência. A humanidade (esta da Terra, e quem sabe se outras de outros lugares cósmicos) é que lhe garante a existência. Em linguagem ainda filosófica, pode dizer-se que o pensamento humano foi a maneira que o Universo encontrou para existir. E eu tenho o direito de atribuir esta existência a Deus sem ser achincalhado, não pela negação das minhas crenças, mas pela nulidade de raciocínios... irracionais.

Alef disse...

Uma gralha no meu comentário impediu que se vissem os «links» no segundo parágrafo. Aqui vai de novo:

Dizer que as tradições sapienciais se caracterizam pela omnisciência não tem qualquer sentido, porque há muitas tradições sapienciais que se caracterizam precisamente pelo seu contrário e, na verdade, não me consta que exista uma única sequer que se diga omnisciente. Basta pensar, no âmbito bíblico, em dois casos bem interessantes: o Livro de Job e o Livro de Cohelet (ou Eclesiastes). São livros sapienciais e bastariam estes para refutar este «post». Mas tenha-se também em conta as tradições da teologia mística, as teologias apofáticas-catafáticas, clássicos místicos como The Cloud of Unknowing ou a «Noite Escura da Alma» de S. João da Cruz. E muitos outros místicos mais recentes. E poderia citar muitos outros casos fora do âmbito cristão, por exemplo, do hinduísmo, ou mesmo das tradições sufis. Fica-me a sensação de que este «post» não dá a mínima conta de todo este vastíssimo filão.

Alef

Anónimo disse...

Ena pá! em 2007!

Estes comentários...Upa, Upa.

Anónimo disse...

ExmºS
Aqui está um parágrafo daquilo que se pode chamar terrorismo verbal:

«para que haja existência é necessário um objecto e um sujeito. Que mais não seja o sujeito, como ser pensante tem de se transformar em objecto de si mesmo. Portanto, para que o Universo tenha existência real, não podendo ser sujeito de si mesmo, só a terá havendo quem possa servir de sujeito que lhe complete a existência»

Isto não diz, em rigor, nada!!
Bem hajam
Rolando Almeida

Anónimo disse...

Meu Caro Rolando Almeida
De ruim maneira me terei explicado para merecer um juízo tão grave. E acredito que o mereço. Portanto, e como tentar desfazer um mal-entendido por vezes complica ainda mais o desencontro de ideias, fico-me por um simples pedido de desculpa pela minha falta de clareza. Sem qualquer ironia. Nem o mínimo ressentimento.
Um abraço.
Daniel de Sá

Anónimo disse...

Olá. Tomei conhecimento do vosso (o “vosso” é uma cortesia de brasileiro para português) blog através do Pugnacitas e fiquei impressionado pela sua qualidade. Sou médico de Porto Alegre (Brasil) e tenho um blog em que desenvolvo idéias semelhantes às do post de Desidério Murcho. Gostei muito da sua exposição, mas, do meu ponto de vista, a verdade procurada pelo investigador e a verdade das tradições sapienciais são diferentes. Na minha terminologia, eu as defini como “verdade em si” e “verdades reveladas” e, de uma forma muito esquemática, diria que a verdade em si é objetiva enquanto as verdades reveladas são subjetivas. Na contracorrente das grandes ideologias contemporâneas (marxismo, psicanálise, pós-estruturalismo) que subsumem o homem, tirando-lhe a autonomia, tento definir, apoiado em pensadores tão díspares quanto Kant, Eric Voegelin e Edgar Morin, assim como no avanço crescente das ciências cognitivas, a possibilidade de acesso à verdade em si. Talvez eu esteja sendo pretensioso, mas quando se chega aos 60 anos não se é mais obrigado a respeitar as fronteiras estanques definidas pelos eruditos das respectivas áreas de conhecimento. As idéias não são propriedade de ninguém. E os grandes homens se tornaram importantes para a cultura não por suas teorias mas pelas intuições em que basearam suas teorias. E são essas intuições que eu garimpo em cada área do conhecimento. Os eruditos em teorias que me perdoem.
Gostei muito da expressão “tradições sapienciais”, de que eu nunca tinha ouvido falar. E também gostei da frase de Gedeão. Minha explicação para essas tradições se dirigem nem tanto à constituição emocional das pessoas como à estrutura neurofisiológica subjacente à crença. Já me alonguei demais.
Um abraço.

Anónimo disse...

O Desidério escreve como um verdadeiro omnisciente!

Anónimo disse...

"Crês no dharma porque o Buda to ensinou ou porque tu próprio o experimentaste?"
Esta maravilhosa (puagh!!!) transcrição de um duende qualquer (typo piroso e tudo), pode ser aplicada, na realidade, a tudo. É daquelas frase pseudo-inteligentes que os "misticos" adoram debitar. Alguém que passe o seu conhecimento a quem quer que seja e depois se sai com uma dessas é um exibicionista.
Eu posso manipular essa frase:"Crês na abelha maia porque o Buda to ensinou ou porque tu próprio a experimentaste?", e como ninguém experimentou a abelha maia, tal como nem o Buda experimentou o dharma, é fácil debitar prosa a questionar o que se sabe ser uma fabricação. A procura do conhecimento abarca a intuição e a razão, mas, não abarca de certeza estas manipulações misticas, nem o debitar de laraxas em grande quantidade sobre conhecimento obtido a partir apenas do pensamento, nem quando se tenta vender que se "viveu" a respectiva situação através de meditação.

Rui leprechaun disse...

Ó fero António! :)

A tal citação dos "sutras" budistas contrapõe-se simplesmente à afirmação simplista de que não existe dúvida, interrogação ou pesquisa e esforço pessoais sobre a "verdade revelada"... whatever that means!... Desiderius dixit! :D

Obviamente não é assim, nem no conhecimento do universo exterior nem naquele mais importante ainda de nós mesmos, o tal autoconhecimento que é a via do "dharma" budista, afinal.

Mas dizer que nem o Buda experimentou o dharma é um tanto herético... but who cares? Ele é ele e eu sou eu, e se no Budismo nem há Deus... ;)

Já agora, e para sublinhar ainda a importância da via única e pessoal da realização do Eu, há um famoso koan (paradoxo) zen que diz:

"Se vires o Buda, mata-o!"

Porque há mesmo que ultrapassar a fonte exterior do conhecimento para chegar à sua origem interna, que NÃO é o pensamento, conforme afirmado aí. Deveras, só quando ele cessa, se passa mesmo para o outro lado... que existe sim! :)

Por fim, estamos de pleno acordo quanto a este ponto... óptimo!

A procura do conhecimento abarca a intuição e a razão....

Exacto, e isso mesmo tenho dito por aqui, insistindo sempre que a razão NÃO é a via única e há uma forma de conhecimento directo, que pelo menos se aplica à realidade interior. Ora se esta é somente um espelho da verdade exterior, quem é o Conhecedor?!

Porque a suprema emoção da sapiência...

Rui leprechaun

(...é o perpetuum mobile da (cons)ciência! :))

Anónimo disse...

Não existe verdade absoluta, existe sim, formas de existência idealizadas por filosofia de vida, escolhida a partir de um parametro idealizado por uma filosofia com a qual fomos criados ... imaginemos se na história do mundo ocidental não tivesse atravessado a civilização judaica-cristã.Teriamos uma criação baseada na civlização greco-romana. Todos aqui que postaram seus comentáros, de uma maneira ou outra estão no seu íntimo repletos da explosão inicial da criação do seu universo...

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